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Ex-procuradora da Venezuela diz temer pela própria vida

Luisa Ortega, que foi destituída, rompeu com o presidente Nicolás Maduro no final de março e se tornou crítica ao seu impopular governo

Luisa Ortega: "Sempre há um carro me seguindo, parando onde eu paro" (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Luisa Ortega: "Sempre há um carro me seguindo, parando onde eu paro" (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

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Reuters

Publicado em 10 de agosto de 2017 às 21h45.

Última atualização em 10 de agosto de 2017 às 22h04.

Caracas - A procuradora-geral destituída da Venezuela disse nesta quinta-feira temer por sua vida e que está em fuga, mas que irá continuar lutando pela democracia e liberdade no país após ter sido demitida por um controverso novo super-órgão legislativo.

Luisa Ortega, que rompeu com o presidente Nicolás Maduro no final de março e se tornou crítica ao impopular governo de esquerda, falou à Reuters em uma localização secreta em Caracas após ter sido demitida pela Assembleia Constituinte no sábado.

O Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela, pró-governo, também informou que um julgamento irá começar contra Ortega, mas ela não foi formalmente acusada.

Ainda assim, a ex-procuradora de 59 anos disse que continua escondida, transitando entre casas seguras ao menos uma vez por dia, porque teme que será colocada arbitrariamente na cadeia em meio a uma crescente quebra de processo sob Maduro.

"Não sei quais intenções sombrias e planos sombrios eles podem ter, não somente para me privar de minha liberdade, mas também me privar de minha vida", disse Ortega, sentada em um sofá em uma casa segura.

"Estou sendo permanentemente perseguida. Sempre há um carro me seguindo, parando onde eu paro, pessoas tirando fotos de mim nos lugares onde vou."

No sábado, o escritório de Ortega foi cercado por tropas do governo e ela foi impedida de entrar. Ela fugiu na garupa de uma moto antes de ser formalmente demitida pela Assembleia Constituinte pró-governo em seu primeiro dia de trabalho. Críticos chamam a demissão de uma afronta à democracia.

A demissão de Ortega acontece num momento em que o Tribunal Supremo de Justiça reforça acusações contra políticos da oposição, em meio a protestos anti-governo que estão entrando no quinto mês. Nas semanas recentes, o Tribunal Supremo de Justiça prendeu cinco prefeitos da oposição em procedimentos que críticos dizem ter violado direitos básicos.

Mais de 120 pessoas foram mortas durante agitações frequentemente violentas contra o governo de Maduro por conta de uma forte crise econômica e pelo que oponentes chamam de uma liderança cada vez mais autoritária.

Autoridades do governo Maduro levantaram diversas acusações contra Ortega, de "insanidade" e encorajamento de "terroristas" - uma palavra frequentemente usada por Maduro para descrever oponentes - a uso irregular de um avião confiscado.

"Eu sou procuradora-geral"

Ortega, que por muito tempo seguiu a linha do governista Partido Socialista, foi procuradora-geral da Venezuela por mais de uma década.

Em suas últimas semanas no cargo, ela apresentou uma enxurrada de acusações contra autoridades seniores por conta de escândalos de corrupção e abusos durante protestos. Não está claro o que irá acontecer com as acusações, agora que ela não está mais no cargo.

A demissão de Ortega foi alvo de diversas condenações internacionais.

Ela disse que ainda está trabalhando duro pelo país, realizando encontros com procuradores venezuelanos e estrangeiros, assim como autoridades em outros países, muitas das quais condenaram o governo de Maduro nos meses recentes. Ela se negou a especificar quais países ou exatamente o que este trabalho implicava.

"Eu sou a procuradora-geral da Venezuela", disse, "mas meus direitos estão sendo negados".

O ombudsman de direitos humano de Maduro, Tarek Saab, um aliado do governo que a oposição diz ter virado as costas para abusos estatais, foi escolhido no sábado para substituir Ortega.

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