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Londres se compromete contra dinheiro sujo

O primeiro-ministro britânico comparou a corrupção a "um câncer" que tem sido um "tabu internacional"


	David Cameron: o primeiro-ministro britânico comparou a corrupção a "um câncer" que tem sido um "tabu internacional"
 (Simon Dawson/Bloomberg)

David Cameron: o primeiro-ministro britânico comparou a corrupção a "um câncer" que tem sido um "tabu internacional" (Simon Dawson/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 12 de maio de 2016 às 10h26.

David Cameron abriu nesta quinta-feira em Londres uma cúpula contra a corrupção, depois de anunciar medidas sem precedentes para lutar contra os fluxos de dinheiro sujo no setor imobiliário no Reino Unido, regularmente apontado por sua complacência com seus próprios paraísos fiscais.

Representantes de quase 50 países e instituições, incluindo os presidentes do Afeganistão, Ashraf Ghani, e da Nigéria, Muhammadu Buhari, o secretário de Estado americano, John Kerry, a diretora executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, e o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, deverão assinar uma declaração prometendo novas ações.

Na abertura da cúpula, o primeiro-ministro britânico comparou a corrupção a "um câncer" que tem sido um "tabu internacional".

"Porque ela destrói os Estados-nação, a corrupção é tanto um inimigo quanto os extremistas que estamos combatendo", declarou, por sua vez, John Kerry.

ONGs e ativistas anti-corrupção esperam medidas concretas, um mês após as revelações do "Panama Papers", que expuseram o uso generalizado de empresas offshore em paraísos fiscais.

O Reino Unido em si é criticado pela falta de transparência nos seus territórios ultramarinos: das cerca de 214.000 empresas representadas pelo escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca, no coração do escândalo dos "Panama Papers", mais da metade está domiciliada nas Ilhas Virgens Britânicas.

'Banimento!'

"As empresas legítimas não precisam dessas sociedades anônimas. Banimento!", exclamou o empresário britânico-sudanês Mo Ibrahim.

"Eu sei da vontade do governo britânico de acabar com estes sistemas opacos", ressaltou o ministro das Finanças francês, Michel Sapin.

A credibilidade de David Cameron como anfitrião da cúpula também foi colocada em xeque pelo fato de que ele foi pessoalmente citado nos "Panama Papers".

Ele precisou admitir que chegou a possuir ações na empresa offshore de seu pai Ian, que morreu em 2010.

Pressionado, ele anunciou algumas horas antes da abertura da reunião que "as empresas estrangeiras que possuem ou querem comprar bens no Reino Unido deverão revelar o nome do verdadeiro proprietário".

A medida, muito esperada, visa primeiramente cerca de 100.000 imóveis na Inglaterra e no País de Gales, incluindo 44.000 em Londres, segundo dados oficiais, de propriedade de empresas offshore que nunca revelaram a verdadeira identidade de seus beneficiários.

Sem ser ilegal, a prática transformou o setor imobiliário londrino em "um refúgio para o dinheiro roubado em todo o mundo", segundo a associação Transparência Internacional.

Entre 2004 e 2014, bens imobiliários num valor de 180 milhões de libras foram alvos de investigações por corrupção.

"O novo registro para as empresas estrangeiras significará que os indivíduos e países corruptos não poderão fazer transitar, lavar e ocultar dinheiro sujo através do mercado imobiliário de Londres", disse Downing Street.

De acordo com um levantamento divulgado pela ONG, 80% dos britânicos acreditam que David Cameron tem uma "obrigação moral" em tornar os mais transparentes possíveis os territórios britânicos ultramarinos.

O governo britânico acrescentou que "a França, a Holanda, a Nigéria e o Afeganistão devem seguir o exemplo do Reino Unido, comprometendo-se em lançar os seus próprios registos públicos dos beneficiários efetivos de empresas offshore".

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