Mundo

Língua inglesa manterá hegemonia na Europa apesar do Brexit

A polêmica surgiu com a reação de alguns eurodeputados franceses que reivindicaram que o inglês deixe de dominar as comunicações da UE


	Reino Unido: "A saída do Reino Unido da União Europeia não levará o inglês a perder seu status de língua oficial"
 (Justin Tallis/AFP)

Reino Unido: "A saída do Reino Unido da União Europeia não levará o inglês a perder seu status de língua oficial" (Justin Tallis/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2016 às 10h10.

Bruxelas - O "Brexit" semeou dúvidas sobre a possibilidade de que o inglês deixe de ser idioma oficial na União Europeia (UE), embora seja usado em outros dois países do bloco, Irlanda e Malta, e nas últimas décadas tenha se imposto na comunicação entre seus 28 membros.

"A saída do Reino Unido da União Europeia não levará o inglês a perder seu status de língua oficial", afirmou à Agência Efe a porta-voz de Orçamento e Recursos Humanos do bloco, Andreana Stankova.

A polêmica surgiu com a reação de alguns eurodeputados franceses que reivindicaram, ao saber dos resultados do referendo britânico, que o inglês deixe de dominar as comunicações da UE.

Além disso, a presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais da Eurocâmara, a ex-comissária (2004-2009) Danuta Hübner, assegurou que "se o Reino Unido for embora, não haverá inglês" na lista de línguas oficiais, já que Irlanda e Malta pediram que o gaélico e o maltês também o fossem quando se somaram ao bloco.

"Embora o Reino Unido saia da UE, vai continuar havendo dois Estados nos quais é língua oficial. Não haveria portanto nenhuma razão para mudar o regime atual", explicou Stankova.

Outros parlamentares, como a espanhola Maite Pagazartundúa, avaliam que um país não pode ter duas línguas oficiais na UE e que o inglês "deixará de ser idioma oficial" se o Reino Unido sair da UE "já que foi o único país que o solicitou".

"A solução passa por um acordo que mantenha o número de línguas e respeite o critério de uma língua por país. É necessário manter o critério de eficiência, que não aumente os custos nem os recursos humanos necessários para a UE", argumentou à Efe a parlamentar do partido Unión Progreso y Democracia (UPyD).

Mas os tratados não limitam que um país possa pedir que várias de suas línguas sejam também oficiais na UE, por isso que a Torre de Babel europeia poderia continuar se diversificando e a porta está aberta para outras línguas minoritárias como o luxemburguês e o turco, oficial no Chipre.

A questão voltou a revelar a complexidade linguística da UE, na qual há 24 línguas oficiais, para as quais são traduzidos todos os documentos, um trabalho que, no caso do Executivo comunitário, representa 0,3% de seu orçamento.

A direção geral de Tradução da CE tem 60 tradutores, cujo trabalho é dominado pelo inglês.

Além das oficiais, existem as chamadas "línguas de trabalho", um conceito que não é contemplado nos tratados, mas que na prática, sobretudo em nível interno, implica que as comunicações sejam feitas em inglês, francês e alemão.

O francês, língua oficial em Bruxelas, dominava nas relações diplomáticas europeias até a incorporação do Reino Unido na UE em 1973 e posteriormente com a ampliação nórdica.

Uma hegemonia que se manterá apesar do "brexit", já que é a língua mais utilizada internamente e com os parceiros dos 28 países no mundo.

Em 2015, a equipe da CE traduziu mais de um milhão e meio de páginas do inglês, contra 72.662 do francês e 55.686 do alemão, de um total de quase dois milhões, o que mostra a prevalência do inglês em 80%.

"O resultado do referendo não terá nenhum impacto nisto", garantiu Stankova.

A presença do maltês e do gaélico é limitada nos documentos originais que a CE traduziu (257 e 63 páginas, respectivamente), mas sim há um elevado número de traduções para esses idiomas; mais de 70.000 páginas para o maltês e 5.100 para o irlandês.

Entre as línguas oficiais não estão catalão, galego nem basco, algo que só ocorreria se houvesse um pedido formal por parte do Estado membro e unanimidade dos parceiros para adotar a decisão.

Desde 2006 qualquer cidadão da UE pode se dirigir ao parlamento em catalão, galego ou basco, e este tem o dever de responder nos idiomas que estão na lista de línguas co-oficiais.

No caso espanhol, a representação das instituições em Barcelona tem uma página na internet em catalão e a de Madri outra em castelhano, um caso que não existe em nenhum outro Estado membro, embora o escritório do Chipre também atenda seus cidadãos em turco.

Os juristas da CE explicam que legalmente uma língua não deve necessariamente ser oficial em todo o Estado membro para que o seja na UE, mas é "pouco provável" que os países queiram ampliar a lista, já que isto desencadearia um debate sobre seu custo.

Acompanhe tudo sobre:BrexitEuropaInglêsUnião Europeia

Mais de Mundo

Israel reconhece que matou líder do Hamas em julho, no Irã

ONU denuncia roubo de 23 caminhões com ajuda humanitária em Gaza após bombardeio de Israel

Governo de Biden abre investigação sobre estratégia da China para dominar indústria de chips

Biden muda sentenças de 37 condenados à morte para penas de prisão perpétua