Líder de partido islâmico da Tunísia diz que homossexualidade é "natural"
Rached Ghannouchi diz que não há razões para interferências nos desejos e nos comportamentos das pessoas porque elas são livres
EFE
Publicado em 28 de março de 2018 às 18h24.
O líder do partido islâmico tunisiano "Movimento Ennahda", Rached Ghannouchi, afirmou que a "a homossexualidade é algo natural" e defendeu "que não há razões para interferir nos desejos e nos comportamentos das pessoas, já que cada um é livre para fazer suas eleições e convicções".
Em entrevista divulgada nesta quarta-feira pela revista "Jeune Afrique", o presidente do principal partido do parlamento da Tunísia insistiu que cada um tem a sua liberdade individual. No país homossexuais podem ser condenados com até três anos de prisão.
Não é a primeira vez que Ghannouchi declara oposição à criminalização do tema e defende as liberdades individuais "sempre que não afetem outras pessoas", mas é a primeira em que utiliza o adjetivo "natural". A declaração foi comemorada por associações LGBT.
"O fato de ter utilizado a palavra 'natural' é muito importante para a gente. É mais um passo na defesa dos homossexuais, mostrar que não é algo abominável, uma perversão ou uma doença", afirmou à Agência Efe Mounir Baatour, presidente da Associação Shams.
Para ele, porém, o ideal seria que o líder político não ficasse apenas na declaração.
"Se amanhã for apresentada uma proposta de lei para descriminalizar a homossexualidade, queremos que o Ennahda com seus 69 deputados respeitem isso. Se o seu presidente diz que é algo 'natural', como podem proibir?", questionou.
Anteriormente, Abdellatif Mekki, ex-ministro da Saúde e integrante do Ennahda, publicou nas redes sociais que a homossexualidade deveria ser "curada e punida, como prevê a lei" e chegou a acusar gays de vínculos com o tráfico de drogas e com a espionagem.
O artigo 230 do Código Penal da Tunísia castiga com até três anos de prisão as relações homossexuais. Em 2014, várias organizações de defensa dos direitos civis apresentaram uma proposta para anular a lei, mas ela foi rejeitada pelo atual governo de coalizão, que domina a plataforma laica Nidaa Tounes, do atual presidente, Beji Caid Essebsi.