Lenta libertação sexual chinesa pede fim do puritanismo
O governo chinês tem leis próximas ao puritanismo, mas que devem acabar em breve se quiser se adaptar à realidade
Da Redação
Publicado em 23 de abril de 2015 às 06h59.
Pequim - O desenvolvimento econômico e a abertura ao exterior contribuíram para que a sociedade chinesa adotasse uma postura em relação ao sexo similar à do Ocidente, o que esbarra em um governo com leis próximas ao puritanismo, mas que devem acabar em breve se quiser se adaptar à realidade, segundo especialistas.
O gigante asiático, que durante séculos manteve uma postura muito fechada sobre o sexo - acentuada com a chegada do maoísmo -, vive desde os anos 70 uma "lenta revolução sexual", de acordo com a sexóloga chinesa Li Yinhe, a mais famosa defensora do país de reformas que acompanhem essa libertação.
A China sofre um grande contraste entre a visão do cidadão que em 30 anos passou a ver o sexo com naturalidade e leis que continuam proibindo a pornografia e o sexo grupal, e que perseguem a prostituição com o objetivo de humilhar publicamente os que a exercem.
Isso ocorre em um país onde se fala de sexo com cada vez mais abertura, a pornografia é consumida com normalidade e as relações sexuais antes do casamento, que há 30 anos eram praticadas por apenas 15% da população, agora são realizadas entre mais de 70%.
"O que mais ajudou nesta mudança foi a economia", argumentou Li Yinhe, que afirmou que "quando a população consegue garantir comida e teto, é quando o sexo surge como a necessidade seguinte a suprir".
Além disso, "a vigilância ideológica relaxou", mas ainda não culminou na eliminação de leis antipornografia e que perseguem as trocas de casais. No entanto, as punições foram reduzidas.
Também houve a redução da aceitação social dessas perseguições, como foi possível observar em 2014 na cidade sulina de Dongguan, um dos principais redutos da prostituição no país, onde uma operação contra os bordéis terminou na prisão de dezenas de mulheres.
Boa parte da sociedade chinesa se solidarizou com as prostitutas detidas na operação e criou o lema "todos somos Dongguan" na época do incidente. Foi pedido então o fim às prisões e humilhações às que exercem o ofício, e que ao invés disso fossem perseguidos os agenciadores e clientes.
Nos anos 90, a Justiça chinesa ainda ordenava execuções contra pessoas que divulgavam pornografia ou que administravam estabelecimentos onde se exercia a prostituição.
Atualmente, as penas foram reduzidas a um período curto de prisão, embora a sociedade ainda reivindique mudanças, já que, segundo explicou a sexóloga à Efe, "ainda é ilegal, por exemplo, o sexo entre mais de três pessoas, algo que é contra a liberdade individual".
As contradições em relação ao sexo não são apenas coisa da era comunista em uma China que durante muito tempo, aproximadamente até o século X, foi surpreendentemente aberta neste assunto. Isso pode ser visto, por exemplo, em antigos manuais taoístas para a prática do sexo, comparáveis ao "Kama Sutra" indiano.
Aquela "era de ouro do sexo" se apagou em dinastias seguintes, e a repressão aumentou com a chegada do comunismo em 1949, já que o regime de Mao relacionou a promiscuidade sexual com as classes mais poderosas.
"O sexo era interpretado como um luxo", comentou Li sobre os tempos iniciais do regime, que começou fechando todos os bordéis, proibiu o sexo extraconjugal - medida que não foi abolida até 1997 - e deu fim à poligamia no país das concubinas imperiais.
As contradições aumentaram e as concubinas continuaram existindo com outras fórmulas entre a elite: líderes comunistas ou ricos empresários têm uma ou várias "ernai" (como se chamam as "segundas esposas") e com frequência não as ocultam em seu círculo próximo.
Tema à parte é a homossexualidade, que na China, segundo a sexóloga, nunca foi proibida ou malvista socialmente, mas sempre foi tratada com extrema discrição.
Artistas como a dançarina transexual Jin Xing, muito popular na China, ajudaram a normalizar a inclusão social do coletivo LGBT, embora as autoridades ainda sejam receosas, por exemplo, a atos públicos de reivindicação.
O inesperado cancelamento de festivais de cinema gay, concursos de beleza protagonizados por homossexuais e atos similares nos anos anteriores mostram esse receio, mas Li acredita que a China também se abrirá nesta frente e, inclusive, vislumbra uma breve legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
"Em Taiwan já há negociações para isso e não é difícil que a China siga isso", ressaltou a especialista, que no fim do ano passado revelou que seu atual companheiro é transexual.
Pequim - O desenvolvimento econômico e a abertura ao exterior contribuíram para que a sociedade chinesa adotasse uma postura em relação ao sexo similar à do Ocidente, o que esbarra em um governo com leis próximas ao puritanismo, mas que devem acabar em breve se quiser se adaptar à realidade, segundo especialistas.
O gigante asiático, que durante séculos manteve uma postura muito fechada sobre o sexo - acentuada com a chegada do maoísmo -, vive desde os anos 70 uma "lenta revolução sexual", de acordo com a sexóloga chinesa Li Yinhe, a mais famosa defensora do país de reformas que acompanhem essa libertação.
A China sofre um grande contraste entre a visão do cidadão que em 30 anos passou a ver o sexo com naturalidade e leis que continuam proibindo a pornografia e o sexo grupal, e que perseguem a prostituição com o objetivo de humilhar publicamente os que a exercem.
Isso ocorre em um país onde se fala de sexo com cada vez mais abertura, a pornografia é consumida com normalidade e as relações sexuais antes do casamento, que há 30 anos eram praticadas por apenas 15% da população, agora são realizadas entre mais de 70%.
"O que mais ajudou nesta mudança foi a economia", argumentou Li Yinhe, que afirmou que "quando a população consegue garantir comida e teto, é quando o sexo surge como a necessidade seguinte a suprir".
Além disso, "a vigilância ideológica relaxou", mas ainda não culminou na eliminação de leis antipornografia e que perseguem as trocas de casais. No entanto, as punições foram reduzidas.
Também houve a redução da aceitação social dessas perseguições, como foi possível observar em 2014 na cidade sulina de Dongguan, um dos principais redutos da prostituição no país, onde uma operação contra os bordéis terminou na prisão de dezenas de mulheres.
Boa parte da sociedade chinesa se solidarizou com as prostitutas detidas na operação e criou o lema "todos somos Dongguan" na época do incidente. Foi pedido então o fim às prisões e humilhações às que exercem o ofício, e que ao invés disso fossem perseguidos os agenciadores e clientes.
Nos anos 90, a Justiça chinesa ainda ordenava execuções contra pessoas que divulgavam pornografia ou que administravam estabelecimentos onde se exercia a prostituição.
Atualmente, as penas foram reduzidas a um período curto de prisão, embora a sociedade ainda reivindique mudanças, já que, segundo explicou a sexóloga à Efe, "ainda é ilegal, por exemplo, o sexo entre mais de três pessoas, algo que é contra a liberdade individual".
As contradições em relação ao sexo não são apenas coisa da era comunista em uma China que durante muito tempo, aproximadamente até o século X, foi surpreendentemente aberta neste assunto. Isso pode ser visto, por exemplo, em antigos manuais taoístas para a prática do sexo, comparáveis ao "Kama Sutra" indiano.
Aquela "era de ouro do sexo" se apagou em dinastias seguintes, e a repressão aumentou com a chegada do comunismo em 1949, já que o regime de Mao relacionou a promiscuidade sexual com as classes mais poderosas.
"O sexo era interpretado como um luxo", comentou Li sobre os tempos iniciais do regime, que começou fechando todos os bordéis, proibiu o sexo extraconjugal - medida que não foi abolida até 1997 - e deu fim à poligamia no país das concubinas imperiais.
As contradições aumentaram e as concubinas continuaram existindo com outras fórmulas entre a elite: líderes comunistas ou ricos empresários têm uma ou várias "ernai" (como se chamam as "segundas esposas") e com frequência não as ocultam em seu círculo próximo.
Tema à parte é a homossexualidade, que na China, segundo a sexóloga, nunca foi proibida ou malvista socialmente, mas sempre foi tratada com extrema discrição.
Artistas como a dançarina transexual Jin Xing, muito popular na China, ajudaram a normalizar a inclusão social do coletivo LGBT, embora as autoridades ainda sejam receosas, por exemplo, a atos públicos de reivindicação.
O inesperado cancelamento de festivais de cinema gay, concursos de beleza protagonizados por homossexuais e atos similares nos anos anteriores mostram esse receio, mas Li acredita que a China também se abrirá nesta frente e, inclusive, vislumbra uma breve legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
"Em Taiwan já há negociações para isso e não é difícil que a China siga isso", ressaltou a especialista, que no fim do ano passado revelou que seu atual companheiro é transexual.