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Kan assume Japão com desafio da dívida pública

Novo premiê japonês assumiu o cargo nesta terça-feira (8/6) prometendo sanear as finanças e manter alianças com os EUA

Naoto Kan, novo primeiro-ministro do Japão: fortalecimento do país é prioridade (Kazuhiro Nogi/AFP)

Naoto Kan, novo primeiro-ministro do Japão: fortalecimento do país é prioridade (Kazuhiro Nogi/AFP)

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Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2010 às 10h36.

Tóquio - Naoto Kan assumiu hoje o cargo de primeiro-ministro do Japão com o compromisso de manter a estreita aliança militar com os Estados Unidos e combater a astronômica dívida pública japonesa, que definiu como "o maior desafio" para seu Governo.

Vestido de fraque impecável, Kan foi hoje investido pelo imperador Akihito em uma solene cerimônia no Palácio Imperial de Tóquio, acompanhado por seus 17 ministros.

Antes, em entrevista coletiva, o primeiro-ministro e ex-titular de Finanças assegurou que a aliança com Washington continuará sendo "a pedra angular da diplomacia" do Japão, um país que desde o fim da Segunda Guerra Mundial baseou sua política externa nas relações com os EUA.

Kan afirmou que espera se reunir com o presidente americano, Barack Obama, no final deste mês em Toronto por ocasião da Cúpula do Grupo dos 20 (G20, bloco de países ricos e emergentes), uma reunião que simbolizará sua estreia como chefe de Governo no cenário internacional.

O antecessor de Kan, Yukio Hatoyama, anunciou sua renúncia há seis dias. Sua popularidade despencava entre a população japonesa por sua decisão de manter em Okinawa (sul do Japão) uma polêmica base militar americana, embora, durante sua campanha eleitoral, tenha se comprometido a retirá-la.

Kan disse que seu Governo "aceitará" que a base continue em Okinawa, pois assim o estabelece o acordo entre Japão e EUA. Além disso, ele também assegurou que reforçará os laços com outras nações asiáticas e regiões como a América Latina.

Em geral, a linha política do novo primeiro-ministro, de 63 anos e veterano militante do Partido Democrático do Japão, aponta o continuísmo de Hatoyama, mas o novo Gabinete enfatizou o compromisso com a prudência fiscal.

Após assegurar com tom idealista que trabalhará para "minimizar a infelicidade" do povo, Kan admitiu, pragmático, que o grande desafio de seu Gabinete é a gigantesca dívida pública japonesa, quase o dobro do Produto Interno Bruto (PIB).

"Se continuarmos gastando nesse ritmo durante os próximos três ou quatro anos, a dívida será maior que 200% do PIB em poucos anos", advertiu.

Por isso, ele considerou "indispensável" sanear a situação fiscal japonesa e convidou a oposição a trabalhar com o Governo para concretizar medidas de ajuste.


Kan disse que a razão pela qual as finanças japonesas estão no preocupante estado atual é "que nos últimos 20 anos, não aumentaram os impostos" e os cofres arrecadaram fundos por meio da emissão de bônus, o que disparou a dívida.

Além disso, para o novo primeiro-ministro, os Governos anteriores destinaram investimentos a obras públicas "com poucos resultados".

A linha econômica de Kan se reflete na escolha do novo responsável de Finanças, Yoshihiko Noda, de 53 anos e defensor do aumento das taxas e do corte de gastos para enfrentar uma dívida que, no final do ano fiscal encerrado em março, chegava a 7,4 trilhões de euros.

Além de Noda, o novo Gabinete tem apenas outros cinco nomes diferentes, entre eles o do ministro porta-voz, Yoshito Sengoku, um político próximo a Kan, cuja nomeação procura manter distância com a cúpula anterior.

Sengoku pertence a uma facção crítica com o ex-secretário-geral do Partido Democrático do Japão, Ichiro Ozawa, considerado o artífice da vitória do partido nas eleições de 30 de agosto do ano passado e conhecido por seu poder no grupo político.

Abalado por um escândalo de fundos irregulares, Ozawa renunciou há seis dias pressionado pelo próprio Hatoyama, que o convidou a deixar o cargo "para criar um partido mais limpo".

Os demais novos ministros assumem Ministérios secundários, enquanto os mais importantes Kan manteve os nomes do Governo anterior.

Na pasta de Defesa, permanece o veterano Toshimi Kitazawa, de 72 anos; na de Justiça, continua no cargo a defensora dos direitos humanos Keiko Chiba, de 62 anos, e na de Exteriores persiste Katsuya Okada, de 56 anos, que em mais de uma ocasião ressaltou a importância dos laços com Washington.

Ao contrário de Hatoyama, um líder indeciso cujo avô também foi primeiro-ministro, Naoto Kan, com fama de decidido e temperamental, é o primeiro chefe de Governo em 14 anos que não provém de uma família de políticos.


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