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Julgamento do mordomo do Papa: processo quase transparente

Pela primeira vez, o menor Estado do mundo abriu as portas de seus tribunais para um pequeno grupo de jornalistas


	Imagem do tribunal onde o mordomo do papa Bento XVI, Paolo Gabriele, será julgado: O acusado e várias testemunhas foram interrogados neste julgamento
 (Observatore Romano/AFP)

Imagem do tribunal onde o mordomo do papa Bento XVI, Paolo Gabriele, será julgado: O acusado e várias testemunhas foram interrogados neste julgamento (Observatore Romano/AFP)

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Da Redação

Publicado em 5 de outubro de 2012 às 22h25.

Cidade do Vaticano - O julgamento do mordomo do Papa Bento XVI, Paolo Gabriele, que termina no sábado, é o primeiro da história do Vaticano que permitiu a presença de jornalistas, mas as vozes críticas afirmam que se trata de uma manobra para esconder um escândalo ainda maior.

Pela primeira vez, o menor Estado do mundo abriu as portas de seus tribunais para um pequeno grupo de jornalistas, que puderam cobrir para o mundo inteiro o julgamento mais relevante da história da Igreja católica moderna.

O acusado e várias testemunhas - entre elas nada menos que o secretário particular do Papa - foram interrogados neste julgamento que obedece a normas específicas do direito penal italiano que datam do fim do século XIX.

Por sua vez, o Vaticano abriu uma investigação após as queixas feitas por Gabriele sobre suas condições de prisão pela Gendarmaria do Vaticano.

Segundo Angela Ambrogetti, diretora do site católico korazym.org, os juízes foram "sérios" e o sistema judicial funcionou de forma eficaz.

No entanto, a rapidez deste processo surpreende muitos: abertura no sábado passado, duas audiências durante a semana, e no sábado seguinte conclusões da acusação e da defesa, última declaração de Gabriele e o veredicto final.


Além disso, a ação do presidente do tribunal, Giuseppe Dalla Torre, neto de um ex-diretor do jornal do Vaticano, L'Osservatore Romano, foi criticada.

Limitando-se estritamente à acusação de "roubo agravado" contra o mordomo, o presidente impediu que qualquer outro aspecto do caso "Vatileaks" fosse mencionado.

Assim, o presidente do tribunal interrompeu o acusado todas as vezes que este último tentava explicar o que motivou seus atos.

Durante a instrução, Gabriele havia explicado que queria lutar contra "o mal e a corrupção" no Vaticano e ajudar o Papa, que estava sendo "manipulado".

O nome do jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, a quem Gabriele transmitiu dezenas de documentos confidenciais publicados depois em um livro, foi apenas mencionado.

"A acusação de roubo encobre o centro do escândalo"


O relatório de um grupo de três cardeais, encarregados pelo Papa Bento XVI de realizar uma investigação paralela sobre o caso, foi declarado "irrelevante" pelo tribunal.

Outro elemento preocupante: a decisão de separar o julgamento de Gabriele do de Claudio Scarpelletti, que teria atuado como intermediário na transmissão dos documentos.

"Paoletto", o ex-funcionário modelo, foi manipulado? Tinha cúmplices? A que Gabriele se referia quando evocava um "mal" no seio do Vaticano? Muitos pontos neste caso não estão claros.

No entanto, depois do veredicto, que provavelmente será seguido por uma apelação por parte da defesa, o caso "Vatileaks" pode ser encerrado.

O Vaticano prometeu abrir uma investigação sobre as outras acusações, mas, levando em conta sua complexidade, esta investigação pode levar vários anos.

"A acusação de roubo encobre o centro do escândalo: a traição e a evasão de documentos, que ilustram conflitos dentro da Cúria, episódios de corrupção nunca esclarecidos e lutas internas (...)", considerou o vaticanista Marco Politi no jornal italiano Il Fatto Quotidiano.

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