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Julgamento de Cristina Kirchner amplia ainda mais a polarização na Argentina

A vice-presidente peronista, de 69 anos, é acusada de conceder de forma fraudulenta contratos de obras públicas na Província de Santa Cruz e o resultado de primeira instância será conhecido hoje

A condenação é muito provável e a própria vice-presidente já trabalha com essa hipótese, denunciando o uso político da Justiça no país (AFP/AFP)

A condenação é muito provável e a própria vice-presidente já trabalha com essa hipótese, denunciando o uso político da Justiça no país (AFP/AFP)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de dezembro de 2022 às 08h30.

O julgamento de Cristina Kirchner, nesta terça-feira, 6, promete mexer com as estruturas políticas da Argentina, num momento de instabilidade, reforçando a polarização dos últimos anos entre os K (pró-Cristina) e os Anti-K (contra) e não levando a mudanças de cenários para o ano eleitoral de 2023. A vice-presidente peronista, de 69 anos, é acusada de conceder de forma fraudulenta contratos de obras públicas na Província de Santa Cruz e o resultado de primeira instância será conhecido hoje.

A condenação é muito provável e a própria vice-presidente já trabalha com essa hipótese, denunciando o uso político da Justiça no país. Cristina diz que está "perante não de um tribunal constitucional, mas de um pelotão de fuzilamento midiático-judicial e sua condenação já está escrita".

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"Estou certo de que ela está muito tranquila, sabe há três anos que sua condenação está escrita e esse é um passo lógico no caminho que os poderes demarcaram no caminho do processo de perseguição", disse ao Estadão o deputado governista Rodolfo Tahilade, próximo à vice-presidente.

Pena

A Procuradoria pede uma pena de 12 anos de prisão e a inabilitação política para exercer cargos públicos. Mas, mesmo se for condenada hoje, Cristina não será presa antes de uma decisão da Suprema Corte.

Movimentos sociais prometem uma grande paralisação em caso de condenação. Mas analistas políticos acreditam que o tamanho das manifestações vai depender do aceno político de Cristina. Se ela sair em público e pedir que as pessoas saiam às ruas, a reação pode ser imediata.

"Não se sabe o que será decidido. De toda forma, se Cristina for condenada, isso vai causar um impacto, mas, ao mesmo tempo, não muda o clima da vida política na Argentina. Estamos em uma sociedade muito polarizada, como ocorre no Brasil, nos EUA, com boa parte da população participando muito ativamente dessa polarização, a favor e contra o governo, o peronismo. Esses 60%, 70% da população mantêm suas posições, apesar das notícias que saem", explica o analista político Andres Fidanza.

Para o analista, a preocupação principal dos argentinos é com a situação econômica e é isso que deve direcionar as manifestações até o fim do ano. "O pulso social nas ruas está mais de acordo com o dia a dia, com a situação econômica, em particular a inflação. Isso está em primeiro plano."

O analista político Gustavo Marangoni concorda que a decisão não deve alterar os ânimos políticos. "Aqueles que consideram que Cristina é vítima da perseguição e os que a consideram culpada, continuarão pensando o mesmo e os indiferentes não devem mudar de opinião depois (da decisão)."

De toda forma, o uso político do caso é inevitável. "A vice-presidente vai dizer que é perseguida, falar da vinculação de juízes e procuradores com distintas figuras da oposição. Com certeza, haverá um uso político. Na oposição, vão usar a condenação", diz Fidanza.

Caso

Santa Cruz é a província onde nasceu o ex-presidente e marido de Cristina, Néstor Kirchner, morto em 2010. Foi lá que Cristina iniciou sua carreira política.

A província petroleira foi palco de muitas obras públicas. A Procuradoria acusa Cristina de comandar uma associação ilícita quando era presidente do país, entre 2007 e 2015, e favorecer o empresário Lázaro Báez, seu amigo, na concessão de licitações.

Ela nega as acusações. Dias depois de anunciar sua candidatura à vice-presidência, Cristina acusou os promotores de terem "inventado e deturpado" os fatos e garantiu que "ficou provado que eram falsos, e nem sequer existiram".

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