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Joe Biden desiste de disputar as eleições nos EUA

Presidente deixa candidatura após crise inciada por mau desempenho em debate

Joe Biden, presidente dos EUA, ao chegar para discurso na Casa Branca (Andrew Harnik/AFP)

Joe Biden, presidente dos EUA, ao chegar para discurso na Casa Branca (Andrew Harnik/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 21 de julho de 2024 às 14h59.

Última atualização em 21 de julho de 2024 às 16h17.

Chicago - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou neste domingo, 21, que não disputará mais a reeleição.

Biden postou uma carta informando a decisão em seu perfil no X. A decisão de saída foi postada às 13h46 no horário de Washington (14h46 no horário de Brasília).

“Foi a maior honra da minha vida servir como seu presidente. E, embora tenha sido minha intenção buscar a reeleição, acredito que é do melhor interesse do meu partido e do país que eu me retire e concentre exclusivamente em cumprir meus deveres como presidente pelo restante do meu mandato”, disse.

https://x.com/JoeBiden/status/1815080881981190320

O presidente defendeu que Kamala Harris, sua vice-presidente, assuma a candidatura democrata. No entanto, isso dependerá de uma decisão do partido, ainda a ser tomada.

"Ofereço meu apoio completo e endosso Kamala para ser a candidata do nosso partido neste ano. Democratas, é hora de estarmos juntos e derrotarmos Trump. Vamos fazer isso", disse.

Biden segue como presidente dos Estados Unidos até 20 de janeiro de 2025. Ele desistiu da campanha, mas se mantém no cargo.

Segundo a imprensa americana, Biden comunicou sua equipe próxima sobre a decisão pouco antes de torná-la pública. O presidente está em sua casa de praia em Delaware, se recuperando de uma infecção por Covid.

Esta é a primeira vez desde 1968 que um presidente em exercício deixa de disputar a reeleição. Naquele ano, o democrata Lyndon Johnson saiu da campanha em meio a fortes protestos contra a Guerra do Vietnã, após resultados ruins nas primárias.

A crise de Biden

Biden, 81 anos, deixa a disputa após uma crise política gerada após ele ir mal no primeiro debate na TV, em 27 de junho. Naquele dia, o presidente deu respostas confusas, pareceu assustado e perdido, ao não saber para qual câmera olhar enquanto o rival, Donald Trump, falava.

Nos dias seguintes ao debate, o presidente foi alvo de questionamentos públicos, feitos por aliados, doadores de campanha e editoriais na imprensa, de que ele seria incapaz de vencer Trump nas urnas e de governar o país. Biden concluiria um eventual segundo mandato com 86 anos.

O presidente tentou rebater as críticas com uma série de ações. Em um comício no dia seguinte ao debate, admitiu que não tinha mais a energia de antes, mas disse ser honesto, saber o que é certo e como governar bem o país.

Ele também deu entrevistas na TV, enviou uma carta pública aos congressistas democratas dizendo que não ia desistir, mas seguiu ouvindo questionamentos. A pressão combinada, vinda de vários lados, conseguiu convencê-lo a deixar o posto para outro nome, mesmo ele tendo vencido as primárias.

Quem sucederá Biden na campanha?

Entre os cotados para substituí-lo na disputa, estão a vice-presidente, Kamala Harris, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, e mais alguns nomes.

A decisão sobre a nova candidatura deverá ser definida até a Convenção Nacional Democrata, marcada para os dias 19 a 22 de agosto, em Chicago. Serão poucas semanas de uma disputa intensa no partido, que definirá quem competirá com Trump nas eleições de novembro.

A trajetória de Joe Biden

Joseph Robinette Biden, Jr. nasceu em 20 de novembro de 1942 em Scranton, na Pensilvânia. Ele se formou em direito nos anos 1960, em Nova York, se mudou para o estado de Delaware e começou a atuar como advogado, mas logo entrou para a política.

Em 1972, aos 29 anos, foi eleito senador por Delaware. No entanto, pouco depois disso, houve uma tragédia. Um mês após a vitória nas urnas, um acidente de carro matou sua mulher, Neilia, e sua filha bebê. Seus dois filhos, Hunter e Beau, ficaram feridos, mas sobreviveram. Biden pensou em largar a política, mas assumiu o cargo, no qual ficaria até 2008.

Biden tentou disputar a Presidência em 1988, mas desistiu após uma denúncia de que ele teria plagiado trechos de um discurso. Em 2008, ele disputou novamente, mas desistiu na etapa das primárias. No entanto, ele acabou escolhido para ser candidato a vice na chapa de Barack Obama. Em um arranjo comum na política americana, a dupla era composta de um candidato a presidente mais jovem e um vice com muita experiência política.

Em 2015, Biden viveu outra tragédia pessoal. Seu filho Beau morreu, aos 46 anos, vítima de um câncer no cérebro. Beau era visto como seu herdeiro político. A perda contribuiu para que Biden desistisse de disputar as eleições presidenciais em 2016.

Vitória em 2020

Quatro anos depois, em 2020, o democrata finalmente conseguiu avançar na corrida pela Casa Branca. Após um desempenho ruim no início das primárias, Biden teve uma reviravolta e ficou entre os finalistas na disputa do partido. A vinda da pandemia abreviou a competição interna, e Biden virou o consenso do partido, ao apostar em uma linha mais moderada, mas com concessões às alas mais progressistas.

As chances de Biden foram crescendo conforme Trump, então presidente, adotou uma postura negacionista frente à pandemia. O democrata conseguiu obter 306 delegados na eleição, ante 232 de Trump, na disputa com maior comparecimento de eleitores na história americana.

Trump se recusou a assumir a derrota e tentou reverter o resultado à força, intimidando funcionários e estimulando seus apoiadores a agir. Um grupo deles invadiu o Congresso, em 6 de janeiro de 2021, para tentar impedir a certificação da vitória de Biden. Apesar da invasão, que terminou com cinco mortes, o democrata teve a vitória certificada e tomou posse duas semanas depois, como o 46º presidente dos Estados Unidos.

Como foi o governo Biden

Na Casa Branca, Biden viu sua popularidade em alta nos primeiros meses, mas em agosto de 2021, veio a primeira grande crise. A saída atabalhoada das forças americanas do Afeganistão abriu espaço para que o Talibã recuperasse rapidamente o controle do país. Depois disso, a aprovação de Biden nunca mais superou os 50%.

Seu governo também foi questionado pela alta da inflação e pelo aumento da entrada de imigrantes irregulares pelas fronteiras.

Nos dois primeiros anos de mandato, Biden teve maioria na Câmara e no Senado, mas houve dificuldade para aprovar projetos por falta de entendimento entre os próprios democratas.

Em 2022, nas eleições de meio de mandato, os republicanos retomaram o controle da Câmara, o que dificultou o avanço de medidas propostas pela Casa Branca. Naquele ano, o presidente também viu a Rússia invadir a Ucrânia e a Suprema Corte derrubar o direito ao aborto, dois temas que ele era contra.

Entre as ações positivas, Biden conseguiu manter o país com niveis baixos de desemprego ao longo de quase todo o mandato, em um sinal da robustez da economia americana. Buscou também fazer investimentos em energias limpas e infraestrutura e reaproximar os Estados Unidos de outros países.

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