Trump e Netanyahu na Casa Branca, em outubro: acordo de paz com árabes intermediado pelo presidente americano (Win McNamee/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 23 de outubro de 2020 às 13h21.
Última atualização em 23 de outubro de 2020 às 14h36.
Israel e o Sudão fecharam um acordo de paz histórico nesta sexta-feira, 23, novamente mediado pelos Estados Unidos.
Sob a mediação do presidente americano, Donald Trump, a Casa Branca já havia liderado neste ano acordos de Israel com os Emirados Árabes e o Bahrein. Foram os primeiros países árabes a assinar um acordo com Israel nos últimos 40 anos.
Um dos maiores países muçulmanos da África, o Sudão vinha sendo sancionado pelos EUA desde a década de 90 por dar refúgio ao então líder da Al Qaeda, o terrorista Osama bin Laden. O acordo com Israel, aliado americano no Oriente Médio, deve favorecer também a relação com os EUA.
Até os acordos deste ano, Israel só tinha relações diplomáticas com dois países vizinhos: o Egito (desde 1979) e a Jordânia (desde 1994).
Uma das motivações nos acordos recentes são as desavenças dos países com relação ao Irã, que vem tentando ampliar sua influência política e militar e investindo em um programa nuclear, o que desagrada a alguns dos países da região.
A relação entre os árabes e Israel é tensa desde a criação do Estado israelense em 1948, após a Segunda Guerra Mundial. Os países da região e Israel têm entrado em conflito diante da situação dos palestinos, que advogam por um Estado próprio.
A situação do Estado Palestino não foi solucionada em nenhum dos acordos recentemente fechados por Israel com os vizinhos árabes.
Os acordos ampliam as relações diplomáticas e econômicas do mundo árabe com Israel. Com o acordo com os Emirados Árabes, por exemplo, moradores de Israel poderão visitar destinos turísticos badalados do Golfo Pérsico, como Dubai — e vice-versa, o que antes era proibido. Ou, ainda, abrir empresas ou aportar recursos em fundos sediados nos países.
Um novo acordo na região deve ser visto como nova vitória política para Trump na frente da diplomacia. O presidente vem tendo embates frequentes com os inimigos dos israelenses no Oriente Médio, incluindo o Irã e os palestinos. Ter os acordos se concretizando apesar dos confrontos pode mostrar força da estratégia política do presidente e enfraquecimento da união entre os países árabes.
No começo do mandato, Trump afirmou publicamente que gostaria de transferir a embaixada americana em Israel de Tel-Aviv (atual capital) para Jerusalém, território que é altamente disputado e que é sagrado para cristãos, judeus e muçulmanos. Uma embaixada oficialmente israelense na cidade sagrada seria vista como uma afronta pelos árabes na região.
O Sudão tem buscado ampliar as relações diplomáticas com o Ocidente desde a queda do ditador Omar al-Bashir, que estava no poder há 30 anos, no ano passado. A crise econômica no país ajudou a intensificar os protestos. Agora, o Sudão é liderado por um governo de transição formado entre civis opositores do antigo ditador e as Forças Armadas.
Os governantes do país tentam estabilizar a situação política, incluindo com a assinatura de um acordo de paz com rebeldes neste ano que encerrou uma guerra de 17 anos.
O presidente americano, Donald Trump, já havia dito na segunda-feira que removeria o Sudão de uma lista de sanções. Em troca, exigiu o pagamento de 335 milhões de dólares em compensações a vítimas de bombardeios em embaixadas americanas na década de 90. Além de bin Laden, os EUA acusam o Sudão de ter abrigado outros líderes terroristas. O governo do Sudão afirma que depositou o dinheiro nesta semana, como parte do acordo diplomático.
O Sudão teve um papel essencial nos movimentos contra Israel nas últimas décadas. Em 1967, foi o Sudão que sediou uma liga das nações árabes que chegou ao combinado dos "Três Nãos" (que estabelecia que não haveria paz com Israel, não haveria reconhecimento de Israel como um Estado e, por fim, não haveriam negociações com Israel).
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