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Islã sempre condenou representações de Maomé

Representar o profeta, como fizeram vários jornais ocidentais, como o Charlie Hebdo, é proibido pelo Islã e considerado ofensivo pela maioria dos praticantes

Capa do jornal Charlie Hebdo: O Alcorão não não proíbe formalmente retratar Maomé (Reprodução/Facebook)
DR

Da Redação

Publicado em 9 de janeiro de 2015 às 15h26.

Dubai - Representar o profeta Maomé, como fizeram vários jornais ocidentais, inclusive Charlie Hebdo, alvo de um ato terrorista que deixou 12 mortos, é proibido pelo Islã e considerado ofensivo pela maioria dos praticantes, embora as mais altas autoridades da religião tenham condenado o atentado.

"Vingamos o profeta", bradou um dos autores da chacina de quarta-feira, que chocou o mundo.

Por mais que as charges costumem irritar boa parte dos muçulmanos, mas a imensa maioria expressou imediatamente seu repúdio.

Al-Azhar, autoridade do Islã sunita, lamentou um "ataque criminoso", deixando claro que "o Islã condena toda violência".

O Conselho francês do culto muçulmano condenou "com a maior determinação" o que chamou de "ato bárbaro contra democracia e contra a liberdade de imprensa".

O Alcorão não não proíbe formalmente retratar Maomé, mas esta proibição aparece em um "hadith" (dizeres do profeta) do século IX. Entre os seis livros que reúnem os hadith, o mais importante, o de Boukâri, estipula que pessoas que produzem essas imagens irão ao inferno por rivalizar com Deus, o único criador, capaz de dar vida às suas criações. Também são acusados de incentivar a idolatria.

Desde 2005, a controversa sobre a representação do profeta voltou à tona com onda de violência desencadeada pela publicação de 12 caricaturas de Maomé no jornal dinamarquês Jyllands-Posten.

Animosidade

Em 2006, Charlie Hebdo saiu em defesa dos colegas dinamarqueses ao republicar esses desenhos, além de criar um outro, assinado por Charb, o diretor do semanário, morto no ataque de quarta-feira, que retratou Maomé colocando a cabeça nas mãos e falando: "É duro ser amado por burros".

Desde então, a publicação satírica foi alvo de várias ameaças e sua sede chegou a ser incendiada, em 2011.

"Trata-se de um profeta reverenciado por cerca de dois milhões de pessoas. Será que é moral fazer piadas sobre ele?", reagiu Ahmed al-Kubaissi, um renomado predicador iraquiano, entrevistado pela AFP depois do atentado contra Charlie Hebdo.

De acordo com Mahathir Mohamad, ex-primeiro ministro da Malásia, o jornal parisiense "desrespeitou o Islã" várias vezes. "Porque precisam ridiculizar o profeta Maomé, se sabem que estão ofendendo muçulmanos? Respeitamos a religião deles, eles precisam respeitar a nossa", criticou o político, citado pela agência oficial malaia Bernama.

Hassan Barari, professor de Relações Internacionais na Universidade do Catar, explica que a raiz do problema vem da falta de liberdade de expressão em vários países árabes e muçulmanos.

"Algumas pessoas não entendem a liberdade de expressão existente no ocidente, onde é fácil fazer um filme criticando Jesus, por exemplo", analisa ao acadêmico, ressaltando um histórico de "animosidade entre o ocidente e os muçulmanos".

Violência

"Não podemos negar que o sentimento anti-ocidental na região é ligado às políticas externas do ocidente. É ligado ao colonialismo do passado, às políticas de Israel e ao apoio de ditaduras", pondera.

"Deveria ser proibido retratar o profeta de forma a prejudicar sua imagem no coração do povo", insistiu Kubaissi, predicador iraquiano baseado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

A divulgação em 2012 do trailer do filme "Innocence of Muslims" (Inocência de muçulmanos), curta-metragem de baixo orçamento que retrata o profeta como um bandido amoral, desencadeou uma onda de violência no mundo muçulmano.

No dia 11 de setembro do mesmo ano, quatro americanos são mortos em Benghazi, na Líbia, inclusive o embaixador Christopher Stevens, num ataque contra a representação dos Estados Unidos no País.

Recentemente, o filme "Êxodo - Deuses e Reis", de Ridley Scott, ficção inspirada na história de Moisés, foi proibido em países árabes por "descrever com imprecisão fatos históricos e religiosos.

De acordo com uma fatwa (espécie de decreto religioso) do Conselho Islâmico, baseado em Meca, "representar os profetas de Alá pode gerar mentiras, já que atores nunca serão à altura desses profetas".

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Dubai - Representar o profeta Maomé, como fizeram vários jornais ocidentais, inclusive Charlie Hebdo, alvo de um ato terrorista que deixou 12 mortos, é proibido pelo Islã e considerado ofensivo pela maioria dos praticantes, embora as mais altas autoridades da religião tenham condenado o atentado.

"Vingamos o profeta", bradou um dos autores da chacina de quarta-feira, que chocou o mundo.

Por mais que as charges costumem irritar boa parte dos muçulmanos, mas a imensa maioria expressou imediatamente seu repúdio.

Al-Azhar, autoridade do Islã sunita, lamentou um "ataque criminoso", deixando claro que "o Islã condena toda violência".

O Conselho francês do culto muçulmano condenou "com a maior determinação" o que chamou de "ato bárbaro contra democracia e contra a liberdade de imprensa".

O Alcorão não não proíbe formalmente retratar Maomé, mas esta proibição aparece em um "hadith" (dizeres do profeta) do século IX. Entre os seis livros que reúnem os hadith, o mais importante, o de Boukâri, estipula que pessoas que produzem essas imagens irão ao inferno por rivalizar com Deus, o único criador, capaz de dar vida às suas criações. Também são acusados de incentivar a idolatria.

Desde 2005, a controversa sobre a representação do profeta voltou à tona com onda de violência desencadeada pela publicação de 12 caricaturas de Maomé no jornal dinamarquês Jyllands-Posten.

Animosidade

Em 2006, Charlie Hebdo saiu em defesa dos colegas dinamarqueses ao republicar esses desenhos, além de criar um outro, assinado por Charb, o diretor do semanário, morto no ataque de quarta-feira, que retratou Maomé colocando a cabeça nas mãos e falando: "É duro ser amado por burros".

Desde então, a publicação satírica foi alvo de várias ameaças e sua sede chegou a ser incendiada, em 2011.

"Trata-se de um profeta reverenciado por cerca de dois milhões de pessoas. Será que é moral fazer piadas sobre ele?", reagiu Ahmed al-Kubaissi, um renomado predicador iraquiano, entrevistado pela AFP depois do atentado contra Charlie Hebdo.

De acordo com Mahathir Mohamad, ex-primeiro ministro da Malásia, o jornal parisiense "desrespeitou o Islã" várias vezes. "Porque precisam ridiculizar o profeta Maomé, se sabem que estão ofendendo muçulmanos? Respeitamos a religião deles, eles precisam respeitar a nossa", criticou o político, citado pela agência oficial malaia Bernama.

Hassan Barari, professor de Relações Internacionais na Universidade do Catar, explica que a raiz do problema vem da falta de liberdade de expressão em vários países árabes e muçulmanos.

"Algumas pessoas não entendem a liberdade de expressão existente no ocidente, onde é fácil fazer um filme criticando Jesus, por exemplo", analisa ao acadêmico, ressaltando um histórico de "animosidade entre o ocidente e os muçulmanos".

Violência

"Não podemos negar que o sentimento anti-ocidental na região é ligado às políticas externas do ocidente. É ligado ao colonialismo do passado, às políticas de Israel e ao apoio de ditaduras", pondera.

"Deveria ser proibido retratar o profeta de forma a prejudicar sua imagem no coração do povo", insistiu Kubaissi, predicador iraquiano baseado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

A divulgação em 2012 do trailer do filme "Innocence of Muslims" (Inocência de muçulmanos), curta-metragem de baixo orçamento que retrata o profeta como um bandido amoral, desencadeou uma onda de violência no mundo muçulmano.

No dia 11 de setembro do mesmo ano, quatro americanos são mortos em Benghazi, na Líbia, inclusive o embaixador Christopher Stevens, num ataque contra a representação dos Estados Unidos no País.

Recentemente, o filme "Êxodo - Deuses e Reis", de Ridley Scott, ficção inspirada na história de Moisés, foi proibido em países árabes por "descrever com imprecisão fatos históricos e religiosos.

De acordo com uma fatwa (espécie de decreto religioso) do Conselho Islâmico, baseado em Meca, "representar os profetas de Alá pode gerar mentiras, já que atores nunca serão à altura desses profetas".

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