Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos (Brandon Bell/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 19 de agosto de 2024 às 21h01.
Agências de segurança e inteligência dos EUA acusaram o Irã de estar por trás da invasão dos sistemas da campanha do republicano Donald Trump à Presidência, e veem sinais de que Teerã tentou fazer o mesmo contra Kamala Harris, candidata democrata à Casa Branca. A conclusão veio quase dez dias depois do ex-presidente denunciar um suposto ataque, e ligá-lo aos iranianos.
"Observamos uma atividade iraniana cada vez mais agressiva durante este ciclo eleitoral, envolvendo especificamente operações de influência visando o público americano e operações cibernéticas visando campanhas presidenciais", afirmou o comunicado, assinado pelo FBI, a polícia federal americana, pelo Gabinete do Diretor de Inteligência Nacional e pela Agência de Segurança Cibernética e de Infraestrutura. "Isso inclui as atividades recentemente relatadas para comprometer a campanha do ex-presidente Trump, que a comunidade de inteligência atribui ao Irã."
Há cerca de 10 dias, a campanha de Trump emitiu um comunicado afirmando ter sido hackeada, e apontou os dedos para o Irã — na véspera, a Microsoft havia divulgado um relatório apontando para uma crescente operação iraniana para criar páginas falsas, visando as eleições de novembro, e que havia ocorrido uma tentativa de invadir os computadores de uma campanha presidencial.
Nos dias seguintes, surgiram detalhes sobre o caso: um dos alvos era o estrategista político e aliado de longa data de Trump, Roger Stone, que teve a senha de e-mail roubada por um dos hackers. A partir daí houve novas tentativas para acessar sistemas protegidos e obter documentos sigilosos: alguns deles chegaram a ser publicados na internet, incluindo uma pasta com documentos sobre o candidato a vice na chapa de Trump, J.D. Vance. Além da campanha de Trump, houve uma tentativa de invadir contas de e-mail de pessoas ligadas a Kamala e ao presidente, Joe Biden, sem sucesso.
Segundo analistas, as técnicas usadas nas ações são similares às desenvolvidas pela Guarda Revolucionária do Irã, e também lembram estratégias creditadas à Rússia na eleição de 2016, vencida por Trump contra Hillary Clinton, e em processos eleitorais posteriores.
"A comunidade de inteligência está confiante de que os iranianos, por meio de engenharia social e outros esforços, buscaram acesso a indivíduos com acesso direto às campanhas presidenciais de ambos os partidos políticos. Essas atividades, incluindo roubos e divulgações, têm como objetivo influenciar o processo eleitoral dos EUA", diz o comunicado conjunto. "É importante observar que essa abordagem não é nova. O Irã e a Rússia empregaram essas táticas não apenas nos Estados Unidos durante este e os ciclos eleitorais federais anteriores, mas também em outros países ao redor do mundo."
O governo americano ainda não anunciou se tomará medidas contra Teerã, incluindo a imposição de novas sanções. Na semana passada, o Departamento de Estado não descartou eventuais punições.
— Continuamos a ter uma série de ferramentas em nosso cinto de ferramentas para responsabilizar o regime iraniano, e não hesitaremos em usá-las, certamente, e não apenas unilateralmente, mas também multilateralmente por meio de entidades como o G7 e outras — disse, no dia 15 de agosto, Vedant Patel, porta-voz do departamento. — Essas últimas tentativas de interferir nas eleições dos EUA não são nenhuma novidade para o regime iraniano, que, do nosso ponto de vista, tem minado democracias, ou tentado, por muitos anos.