Navio petroleiro no Golfo: tensão aumenta na região, por onde passa boa parte da produção de petróleo do mundo, desde que Washington decidiu abandonar acordo sobre o programa nuclear iraniano (picture alliance/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 5 de agosto de 2019 às 08h28.
O Irã capturou um petroleiro estrangeiro no Golfo Pérsico, a terceira embarcação interceptada pela república islâmica em menos de um mês na região. A ação aumenta a tensão entre Teerã e Washington.
As forças navais da Guarda Revolucionária, o exército ideológico do regime, capturaram o navio-tanque na quarta-feira, sem divulgar oficialmente sua nacionalidade. Sete membros da tripulação foram detidos na operação, indicou ontem a agência de notícias Fars.
O navio apreendido transportava “700.000 litros de combustível de contrabando nas proximidades da ilha de Farsi”, norte do Golfo, afirmou a agência Irna, segundo a qual o navio é iraquiano. A embarcação foi levada para o porto de Bushehr e a carga de combustível de contrabando foi entregue às autoridades em coordenação com a Justiça iraniana.
O petroleiro seguia para países árabes do Golfo, segundo o general Ramezan Zirahi, comandante das forças da Guarda Revolucionária que capturaram o navio. Esta é a terceira embarcação interceptada pelo Irã desde 14 de julho no Golfo. Um terço do petróleo que transita por via marítima no mundo passa pelo Estreito de Ormuz, localizado nesta região.
Em 14 de julho, o Irã capturou um petroleiro de bandeira panamenha, o MT Riah, acusado de contrabando de combustível. Cinco dias depois, um petroleiro sueco de bandeira britânica, Stena Impero, foi interceptado sob suspeita de “não respeitar o código marítimo internacional”.
A captura do Stena Impero aconteceu 15 dias depois da interceptação pelas autoridades britânicas do petroleiro iraniano Grace 1 na costa de Gibraltar. Londres afirmou que o Grace 1 foi interceptado por violar as sanções da União Europeia ao seguir para a Síria, país em guerra com uma carga de petróleo. Teerã nega.
O Reino Unido determinou que a Marinha escolte os navios civis com bandeira britânica que navegam pelo Estreito de Ormuz e o governo dos EUA deseja estabelecer uma coalizão internacional no Golfo para proteger os navios mercantes. A ideia é que cada país escolte militarmente suas embarcações, com o apoio do Exército americano.
Os europeus relutam ante a proposta, para evitar uma associação com a política de “máxima pressão” sobre o Irã defendida pelo presidente americano, Donald Trump. Os países europeus querem preservar o acordo sobre o programa nuclear iraniano alcançado em 2015.
A tensão aumenta no Golfo desde que Washington decidiu em maio de 2018 abandonar o acordo sobre o programa nuclear iraniano, o que significou o retorno das sanções americanas a Teerã e levou o país a perder quase todos os compradores de petróleo.
As sanções asfixiaram a economia do Irã, que tem a quarta maior reserva mundial de petróleo e a segunda de gás. Além disso, os atos de sabotagem de maio e junho contra petroleiros no Golfo, que Washington atribuiu a Teerã, e a destruição de um drone americano aumentaram a crise.