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Refugiados em campos na Grécia sofrem sem informações

Governo grego já afirmou que vai mandar funcionários e intérpretes aos principais acampamentos para acabar com rumores

Campo de refugiados: falta de informação é fonte de insegurança e gera boatos na Grécia, que é a porta de entrada para a Europa. (Marko Djurica / Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 30 de março de 2016 às 07h24.

Atena - Maaria e Ahmed são afegãos. Ao lado de mais de cinco mil pessoas estão retidos no porto ateniense de Pireo, sem saber o que vai acontecer com eles, mas com a esperança de que em algum momento poderão sair da Grécia .

Maaria tem 33 anos, tinha um bom trabalho e uma boa casa em Cabul, mas a constante explosão de bombas e as contínuas ameaças telefônicas por trabalhar sendo mulher em uma empresa multinacional "entre estrangeiros" fizeram com que saísse de seu país e se somasse ao êxodo de tantos outros.

Embora esteja há 20 dias dormindo no chão do porto em um pavilhão que compartilha com mais de cem pessoas, rodeada de mau cheiro e sem possibilidades de limpar-se, prefere estar no local do que entre as ameaças e bombas de talibãs e do Estado Islâmico (EI).

Maaria não perdeu a esperança de que conseguirá sair deste local, basicamente porque, da mesma forma que a maioria dos refugiados, não quer aceitar que as fronteiras se fecharam.

Para ela tanto faz se for Alemanha ou qualquer outro país, o importante - segundo disse - é não ter de viver às custas de ninguém, mas em um lugar onde existam oportunidades de começar uma nova vida.

"Para onde vamos? Me diga você", declarou, tomada por um mar de dúvidas e desprovida de qualquer informação.

Por não saber, Maaria nem sequer sabe que existe um plano de realocação europeu.

Vendo o panorama no Pireo não é de estranhar que as pessoas estejam na penúria. O governo não está presente para informar sobre qualquer possibilidade e as pessoas vivem perguntando tudo às ONGs, que, por sua vez, não são fontes oficiais para poder comunicar nada.

"Como vou dizer que não vão abrir as fronteiras? Não sou eu que tenho que fazer isso", afirmou Mahmoud, um sírio que trabalha como voluntário para a Cruz Vermelha e há 20 anos vive entre a Grécia e Damasco, onde mora toda sua família.

Mahmoud fez este desabago após chegar perto de uma jovem síria que pediu seu número de telefone para ser comunicada se a fronteira for aberta.

Na sala de espera na qual vivem Maaria, seu marido e seus três filhos, há uma parede que contém folhas de papel em árabe e farsi, nas quais, segundo se pode deduzir pelas duas palavras escritas em inglês -"relocation" e "asylum"- se explica o processo de solicitação de asilo e de inscrição nas listas de realocação.

O que faltam são representantes de alguma entidade oficial. Nem sequer se pode ver a mesa de informação do Escritório Europeu de Auxílio ao Asilo que havia há algumas semanas.

Nenhuma ONG quer criticar abertamente o governo, mas por baixo todos admitem que há uma extrema falta de coordenação e uma inexistente política informativa.

Depois das tensões que surgiram com o fim de semana no acampamento fronteiriço de Idomeni por causa de um rumor, o governo tomou finalmente nota e decidiu mobilizar intérpretes e funcionários.

A função dessas pessoas será informar em Idomeni e no Pireo sobre as possibilidades oferecidas e responder a perguntas.

Mas o problema não radica exclusivamente na falta de informação. Muitos refugiados preferem não ouvir que sua viagem pode ter acabado na Grécia.

"Pode ser que as fronteiras estejam fechadas, mas a Alemanha segue acolhendo refugiados ou não?", perguntou Ahmad, afegão de 32 anos, com semblante de desespero, porque seu irmão vive em Frankfurt e não lida com a possibilidade de não chegar até lá.

Enquanto falava, sua esposa estava hospitalizada dando à luz. E o casal teve sorte, pois muitas mulheres param nos acampamentos, sem mais ajuda que a dos parentes e servindo-se de uma garrafa de água como única possibilidade para lavar o recém-nascido.

"O drama é que a maioria do povo que está aqui já tem familiares em outros países que lhes esperam", relatou Mahmoud.

"Por isso acredito que a maioria não pensa em desistir e buscará uma maneira para chegar a seu destino", acrescentou.

Mas também há gente disposta a voltar a seus países, cada vez mais, segundo Mahmoud. "O problema é que não podem voltar, porque nem a Turquia nem o Líbano - os dois países que serviriam de passagem - dão o visto necessário", explicou.

São impedimentos difíceis de entender se pensarmos na aplicação do princípio "um por um" do acordo entre a União Europeia e a Turquia, em que para cada sírio que voltar para a Turquia, outro pode ser reassentado em um país europeu.

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Atena - Maaria e Ahmed são afegãos. Ao lado de mais de cinco mil pessoas estão retidos no porto ateniense de Pireo, sem saber o que vai acontecer com eles, mas com a esperança de que em algum momento poderão sair da Grécia .

Maaria tem 33 anos, tinha um bom trabalho e uma boa casa em Cabul, mas a constante explosão de bombas e as contínuas ameaças telefônicas por trabalhar sendo mulher em uma empresa multinacional "entre estrangeiros" fizeram com que saísse de seu país e se somasse ao êxodo de tantos outros.

Embora esteja há 20 dias dormindo no chão do porto em um pavilhão que compartilha com mais de cem pessoas, rodeada de mau cheiro e sem possibilidades de limpar-se, prefere estar no local do que entre as ameaças e bombas de talibãs e do Estado Islâmico (EI).

Maaria não perdeu a esperança de que conseguirá sair deste local, basicamente porque, da mesma forma que a maioria dos refugiados, não quer aceitar que as fronteiras se fecharam.

Para ela tanto faz se for Alemanha ou qualquer outro país, o importante - segundo disse - é não ter de viver às custas de ninguém, mas em um lugar onde existam oportunidades de começar uma nova vida.

"Para onde vamos? Me diga você", declarou, tomada por um mar de dúvidas e desprovida de qualquer informação.

Por não saber, Maaria nem sequer sabe que existe um plano de realocação europeu.

Vendo o panorama no Pireo não é de estranhar que as pessoas estejam na penúria. O governo não está presente para informar sobre qualquer possibilidade e as pessoas vivem perguntando tudo às ONGs, que, por sua vez, não são fontes oficiais para poder comunicar nada.

"Como vou dizer que não vão abrir as fronteiras? Não sou eu que tenho que fazer isso", afirmou Mahmoud, um sírio que trabalha como voluntário para a Cruz Vermelha e há 20 anos vive entre a Grécia e Damasco, onde mora toda sua família.

Mahmoud fez este desabago após chegar perto de uma jovem síria que pediu seu número de telefone para ser comunicada se a fronteira for aberta.

Na sala de espera na qual vivem Maaria, seu marido e seus três filhos, há uma parede que contém folhas de papel em árabe e farsi, nas quais, segundo se pode deduzir pelas duas palavras escritas em inglês -"relocation" e "asylum"- se explica o processo de solicitação de asilo e de inscrição nas listas de realocação.

O que faltam são representantes de alguma entidade oficial. Nem sequer se pode ver a mesa de informação do Escritório Europeu de Auxílio ao Asilo que havia há algumas semanas.

Nenhuma ONG quer criticar abertamente o governo, mas por baixo todos admitem que há uma extrema falta de coordenação e uma inexistente política informativa.

Depois das tensões que surgiram com o fim de semana no acampamento fronteiriço de Idomeni por causa de um rumor, o governo tomou finalmente nota e decidiu mobilizar intérpretes e funcionários.

A função dessas pessoas será informar em Idomeni e no Pireo sobre as possibilidades oferecidas e responder a perguntas.

Mas o problema não radica exclusivamente na falta de informação. Muitos refugiados preferem não ouvir que sua viagem pode ter acabado na Grécia.

"Pode ser que as fronteiras estejam fechadas, mas a Alemanha segue acolhendo refugiados ou não?", perguntou Ahmad, afegão de 32 anos, com semblante de desespero, porque seu irmão vive em Frankfurt e não lida com a possibilidade de não chegar até lá.

Enquanto falava, sua esposa estava hospitalizada dando à luz. E o casal teve sorte, pois muitas mulheres param nos acampamentos, sem mais ajuda que a dos parentes e servindo-se de uma garrafa de água como única possibilidade para lavar o recém-nascido.

"O drama é que a maioria do povo que está aqui já tem familiares em outros países que lhes esperam", relatou Mahmoud.

"Por isso acredito que a maioria não pensa em desistir e buscará uma maneira para chegar a seu destino", acrescentou.

Mas também há gente disposta a voltar a seus países, cada vez mais, segundo Mahmoud. "O problema é que não podem voltar, porque nem a Turquia nem o Líbano - os dois países que serviriam de passagem - dão o visto necessário", explicou.

São impedimentos difíceis de entender se pensarmos na aplicação do princípio "um por um" do acordo entre a União Europeia e a Turquia, em que para cada sírio que voltar para a Turquia, outro pode ser reassentado em um país europeu.

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