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Indignados de Taksim, o despertar da Turquia adormecida

As ações de protesto estão se tornando um movimento social que está despertando vários setores da sociedade turca


	Protestos na Turquia: porém, poucos acreditam que o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, irá se importar com as insistentes exigências de "renúncia" 
 (Adem Altan/AFP)

Protestos na Turquia: porém, poucos acreditam que o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, irá se importar com as insistentes exigências de "renúncia"  (Adem Altan/AFP)

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Da Redação

Publicado em 5 de junho de 2013 às 11h37.

Istambul - As ações de protesto que começaram na semana passada para salvar um parque de Istambul de ser derrubado para dar lugar a um shopping estão se tornando um movimento social que está despertando vários setores da sociedade turca.

Poucos acreditam que o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, irá se importar com as insistentes exigências de "renúncia" que cobrem os muros do centro de Istambul, mas ninguém duvida que a ocupação da praça de Taksim será um divisor de águas em sua carreira.

"Tayyip não irá renunciar, ficará no poder, mas a resistência continuará; inclusive, se deixar as praças, continuará nas redes sociais. O povo não esquecerá esses momentos de reação social", opina Muzaffer Baris, DJ de Istambul.

A opinião é endossada por Eylem Yanardagoglu, professora de jornalismo na Universidade de Bahçesehir e especialista em novas mídias.

"Veremos provavelmente o nascimento de um forte conjunto de veículos independentes e ativistas. O povo utiliza os veículos de comunicação de forma ativa e inteligente, e a imprensa convencional falhou completamente na hora de cobrir os protestos", assinala.

Os grandes veículos de imprensa turcos ignoraram em seus primeiros dias os protestos, que foram divulgados através de redes sociais como Twitter e Facebook.

"Isso é um despertar real da sociedade, inclusive para pessoas apáticas e apolíticas é um movimento civil, em sua maior parte laico, e sem divisões étnicas e religiosas, através de todas as ideologias, e ninguém tentou usá-lo para seus fins", assegura a professora.

De fato, na praça de Taksim puderam ser vistos cartazes com o rosto do Che Guevara ao lado dos símbolos das juventudes nacionalistas turcas de direita, enquanto jovens envolvidos em bandeiras turcas participando de festas onde se hasteavam as bandeiras amarelas do BDP, o partido pró-kurdo.


"As pessoas se preocupam muito umas com as outras: o (uso do) gás lacrimogêneo (pela polícia) mostra seu lado humano" no momento de ajudar os atingidos, relatou a professora Eylem.

A vontade de ser solidário era visível entre os milhares de pessoas que encheram ontem à noite a extensa avenida que liga Taksim ao bairro rebelde de Besiktas, onde foram registrados os maiores confrontos com a polícia.

Enquanto milhares de pessoas se revezavam nas barricadas para impedir que a polícia se aproximasse da parte "liberada" da cidade, outras centenas dividiam sprays de um antiácido e água, para aliviar os sintomas do gás lacrimogêneo.

Em várias mesas da praça de Taksim e inclusive nas próprias barricadas havia várias garrafas com essa mistura esbranquiçada.

Mas também há grupos de estudantes de medicina, reconhecíveis por suas camisetas brancas, sempre atentos para socorrer qualquer ferido, na maioria dos casos afetados por fortes doses fortes de gás lacrimogêneo.

Ao mesmo tempo, no Parque Gezi, onde começaram os protestos, mesas distribuíam comida e água, fornecidas pelos moradores.

Trata-se de manifestações de organização espontânea, sem um comitê central, sem figuras líder e sem dirigentes, e sem um papel decisivo do opositor Partido Republicano do Povo (CHP), que Erdogan acusou de dirigir os protestos para vingar sua derrota nas urnas.

A acusação "não é mais que uma tática para desacreditar à oposição. O CHP não tem importância, não organiza nada, nem tem capacidade para fazê-lo", declarou a professora de jornalismo, que também não acredita que os pedidos pela renúncia de Erdogan possam ter resultado.

"É muito difícil dizer que ele renunciará; se deixar o poder será de forma diferente, não como renúncia por causa dos protestos", diz Eylem.

Em todo caso, a acadêmica acredita que a revolta pode sacudir a estrutura de poder do partido de situação, o islamita Justiça e Desenvolvimento (AKP), para dar mais popularidade ao presidente, Abdullah Gül.

O DJ Baris aponta, no entanto, que o discurso moderado de Gül e do vice-primeiro-ministro, Bülent Arinç não é mais que "o jogo do policial bom e o policial mau".

"Na quinta-feira podem acontecer coisas muito importantes, porque é quando Erdogan voltará de sua viagem ao Magrebe e ordenará encerrar os protestos", acredita o jovem ativista. 

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