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Indígenas do Equador recusam diálogo com governo em meio a protestos

Lideranças indígenas querem "radicalizar as ações" contra o aumento do preço dos combustíveis de até 123%

Equador: manifestantes protestam contra medidas econômicas do governo (Ricardo Landeta/Getty Images)

Equador: manifestantes protestam contra medidas econômicas do governo (Ricardo Landeta/Getty Images)

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AFP

Publicado em 10 de outubro de 2019 às 17h41.

A principal organização indígena do Equador afastou a possibilidade de diálogo com o governo para resolver a violenta crise por ajustes econômicos pactuado com o FMI que em uma semana deixou cinco mortos e centenas de feridos em manifestações.

"Nada de diálogo com um governo assassino", disse a Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie) em um comunicado assinado por seu presidente, Jaime Vargas.

O dirigente, que pediu para "radicalizar as ações" mediante "bloqueios de vias e ocupações" de edifícios públicos, discursou para os indígenas que se concentram em Quito.

"Vamos radicalizar com mais força, companheiros, e se tiverem que me denunciar, se tiverem que me matar, que me matem!", exclamou Vargas.

O dirigente frustrou a expectativa aberta pelo presidente Lenín Moreno de um possível acordo com mediação da Igreja católica e das Nações Unidas.

O governo do Equador anunciou a detenção de 17 estrangeiros, a maioria venezuelanos, com informações sobre os deslocamentos do presidente Lenín Moreno.

"Dezessete detidos no aeroporto de Quito esta manhã. A maioria deles venezuelanos. Em seu poder, informação sobre a mobilidade do Presidente e Vice-presidente", informou a ministra de Governo (Interior), Maria Paula Romo, pelo Twitter.

O Equador enfrentou uma nova escalada da crise após uma semana de manifestações violentas, que, além de deixar as vítimas, mergulharam Quito no caos e interromperam o transporte de petróleo pelo principal oleoduto do país.

A Defensoria Pública apontou cinco civis mortos, incluindo um líder indígena, desde o início do protesto, em 2 de outubro. Oito policiais também estão nas mãos de militantes do Conaie na capital equatoriana.

Em mensagem transmitida pelo rádio e pela televisão, o secretário-geral da Presidência, José Briones, falou apenas em dois mortos e denunciou o sequestro de militares. Mesmo assim, "reiteramos nossa disposição de dialogar sempre no marco da paz", afirmou o porta-voz.

Um setor castigado

Os povos originários encarnam o descontentamento social com as reformas econômicas que Moreno realiza no âmbito de um programa de créditos milionários destinados, segundo ele, a salvar a dolarizada economia equatoriana do "desastre" após anos de "desperdício, endividamento e corrupção" no governo de seu antecessor e ex-aliado, Rafael Correa.

Entre os ajustes está a eliminação dos subsídios ao diesel e à gasolina, que provocaram um aumento de tarifas de até 123%.

O presidente Moreno, que transferiu a sede do governo para Guayaquil pressionado pelas manifestações, ficou na quarta-feira por algumas horas em Quito para acompanhar as negociações antes de retornar à cidade portuária equatoriana.

Os povos indígenas, que representam 25% dos 17,3 milhões de equatorianos, são o setor mais castigado pela pobreza e trabalham principalmente no campo.

Com a liberação dos preços dos combustíveis, eles precisam pagar mais para transportar seus produtos enquanto temem uma escalada inflacionária.

Na quarta-feira, o Conaie mostrou sua força com uma marcha multitudinária em Quito, que está há mais de uma semana sem aulas, sem transporte público e com o comércio restrito. Grupos de trabalhadores e jovens, que apoiam o protesto, entram em confronto com as forças de segurança.

As Forças Armadas assumiram o controle da ordem pública sob o estado de exceção imposto por Moreno, logo que os protestos começaram.

Em uma semana de protestos, o governo contabiliza 766 detidos. A Cruz Vermelha, por sua vez, aponta 122 feridos.

Guayaquil, o bastião do governo

Cerca de 74.000 militares e policiais foram destacados em meio a esta crise.

Na Amazônia, a ocupação de poços pelos manifestantes forçou a paralisia do transporte de petróleo pelo oleoduto que bombeia 68% da produção nacional (531.000 barris por dia).

Moreno conta com o apoio do comando militar, dos sindicatos econômicos mais poderosos e da direita política, da qual o presidente tem se aproximado desde que rompeu com Rafael Correa.

O presidente teve um respiro depois que milhares também se reuniram na quarta-feira em Guayaquil, a fortaleza de direita do Equador. Autoridades e líderes presentes nesse ato evitaram, contudo, endossar o apoio direto ao presidente.

No plano internacional, nesta quinta-feira os presidentes de Peru e Chile criticaram a "tentativa de desestabilizar" o presidente equatoriano.

Em uma declaração conjunta, publicada ao final de um encontro binacional no balneário peruano de Paracas (250 km ao sul de Lima), "os presidentes [peruano] Martín Vizcarra e [chileno] Sebastián Piñera (...) reafirmam seu apoio ao Governo do presidente Lenín Moreno (...) e repudiam energicamente qualquer tentativa de desestabilizar o processo democrático equatoriano".

O porta-voz interino do secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou sua "preocupação" pelos últimos acontecimentos no Equador.

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