Indianos sofrem com colapso do sistema de saúde, e EUA anunciam ajuda
Após registrar recorde de novos casos pelo 3º dia seguido, Índia vê sistema de saúde colapsar; Secretário de Estado dos EUA anunciou ajuda ao país
GabrielJusto
Publicado em 25 de abril de 2021 às 09h23.
Última atualização em 25 de abril de 2021 às 09h24.
Quase sem respirar, Shyam Narayan foi levado a um hospital de Nova Delhi, mas sua família percebeu rapidamente que a sobrecarregada equipe médica nada poderia fazer por ele.Narayan foi uma das vítimas da nova onda do coronavírus que está assolando a Índia, onde milhares de pessoas chegam aos hospitais e descobrem que não há leitos, falta oxigênio e remédios que podem salvar vidas.
No Hospital Guru Teg Bahadur (GTB), no nordeste de Delhi, Narayan e sua família chegaram em meio a um balé de ambulâncias, riquixás e outros veículos transportando pacientes com covid-19. Todos esperaram a liberação de leitos no hospital.A família de Narayan tentou, durante a noite, em algum hospital, encontrar um leito de terapia intensiva com oxigênio.Mas em todos os centros a resposta foi negativa, de acordo com Ram, irmão de Shyam.
"Meu irmão tem cinco filhos. O que vou dizer à esposa dele?", pergunta Ram.
O hospital GTB também não tinha leitos disponíveis, assim como as outras instalações médicas em Delhi, que estão lutando para obter oxigênio. Tudo isso ocorre em um contexto dramático para o país: a Índia registrou 2.624 mortes por coronavírus nas últimas 24 horas, um recorde diário, além de 340.000 novos casos, elevando o número total de infecções a 16,5 milhões. Isso fez com que os hospitais ficassem saturados de pacientes e faltasse oxigênio para salvar vidas.
A morte de Narayan, do lado de fora do hospital, é um fato que, infelizmente, acontece com frequência neste país. E certamente seu caso não será contabilizado nas estatísticas oficiais: seu corpo sem vida foi levado para outro lugar, sem ser formalmente admitido no centro.
Na entrada do GTB, os seguranças impedem a entrada dos enfermos e explicam que os quartos já estão lotados. Alguns, com seus parentes, decidem ficar e esperar do lado de fora. Outros continuam sua busca desesperada em outros hospitais.
Morte em família
Exausto, Mohan Sharma, de 17 anos, aguarda com seu avô de 65 anos, dando-lhe água e encorajamento, ajudando-o a colocar uma máscara de oxigênio.Menos de 24 horas antes, o pai de Mohan Sharma morreu de coronavírus, na mesma fila, em frente ao hospital.
"Ele estava ficando sem fôlego, não conseguia respirar, tirou a máscara, chorou e disse 'me salve, por favor, me salve'", explica o filho. "Mas não pude fazer nada. Só pude vê-lo morrer."
E sem tempo para pensar em luto, o adolescente agora tem que ajudar seu avô. A família conseguiu encontrar um leito para ele, mas o avô está desesperado pelo ambiente assustador.
"Havia três cadáveres bem perto, e isso o apavorou, ele disse que também não ia sobreviver. Tive que levá-lo para fora, e agora ele está descansando", diz Sharma.
Pessoas que conseguiram entrar no hospital descrevem os corredores lotados, com leitos ou macas ocupadas por duas ou até três pessoas. O cilindro de oxigênio do avô de Sharma está quase vazio e não há garantia de que possa ser substituído.
EUA afirma que ajudará Índia em combate à covid-19
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse na noite deste sábado, por meio de sua conta no Twitter, que o país dará apoio à Índia no combate à covid-19. Ontem, a Índia registrou pelo terceiro dia consecutivo número recorde de novas infecções por coronavírus, 346.786 casos confirmados, de acordo com o Ministério da Saúde do país.
"Nossos corações estão com o povo indiano em meio ao terrível surto de covid-19. Estamos trabalhando em estreita colaboração com nossos parceiros no governo indiano e implantaremos rapidamente apoio adicional ao povo da Índia e aos heróis da saúde da Índia", afirmou Blinken pela rede social. O secretário de Estado não detalhou de que forma será dada a ajuda.
Também nas últimas 24 horas, 2.624 indianos morreram por causa da doença no período. Com isso, o total de infectados no país subiu para mais de 16 milhões e as mortes já somam 189.544.
(Com informações da AFP e Agência Estado)