Donald Trump: um dos jornais afirma que Trump "quer saquear outros países para assegurar a prosperidade dos EUA" (Scott Olson/Getty Images)
AFP
Publicado em 6 de dezembro de 2016 às 11h50.
Donald Trump se equivoca se pretende impor sua visão "fantasiosa" à China, alertou nesta terça-feira a imprensa do país asiático, que criticou o presidente eleito dos Estados Unidos, cujas declarações dão a entender uma possível mudança de estratégia de Washington.
As mensagens no Twitter de Trump "dissimulam sua verdadeira intenção: tratar a China como um pedaço de carne de cordeiro e cortar uma fatia", afirma de modo sarcástico o jornal em inglês Global Times, ligado ao Partido Comunista.
"Quer saquear outros países para assegurar a prosperidade dos Estados Unidos", acusa o jornal.
Depois de aceitar na sexta-feira uma ligação da presidente de Taiwan, Tsai Ing-Wen, rompendo 40 anos de tradição diplomática, Trump acusou no domingo a China de desvalorizar sua moeda para melhorar suas exportações e de "construir um grande complexo militar no Mar do Sul da China".
O governo e a imprensa oficial chinesa atribuíram, em um primeiro momento, os erros de Trump a sua "inexperiência".
Mas nesta terça-feira a imprensa manifestou preocupação e acusou Trump de subestimar as consequências de seus atos.
Em um longo editorial, o Diário do Povo, porta-voz do Partido Comunista, descartou uma situação provocada apenas por "inexperiência" ou ingenuidade.
"Alguns dizem que Trump não tem experiência em diplomacia ou assuntos militares, mas na realidade não é que seja ignorante, tem suas próprias posições", afirma o jornal comunista.
A conversa com Tsai Ing-wen foi fruto de "longos meses de preparação e debates" dentro da equipe do futuro presidente americano, afirmou no domingo o jornal The Washington Post, que citou fontes ligadas ao bilionário.
A presidente de Taiwan estava na lista de dirigentes estrangeiros que deveriam ser contactados, explicou Stephen Yates, ex-diretor de Segurança Nacional. De acordo com ele, a previsível irritação de Pequim foi antecipada por Trump.
Vários defensores de Taiwan, que desejam melhorar as relações com a ilha, integram o círculo de Trump, entre eles o próximo secretário de gabinete da Casa Branca, Reince Priebus.
"É evidente que os colaboradores de Trump, começando por Priebus, tiveram contatos repetidos com Tsai nos últimos meses e sabiam perfeitamente o que faziam", opina Trey McArver, analista do centro China Politics Weekly.
A imprensa chinesa parece ter reagido com atraso à possível mudança de estratégia.
O Global Times expressa indignação, em sua versão em chinês, com as "provocações" de um dirigente "incapaz de fechar a boca", ao mesmo tempo que denuncia em um editorial as "intenções" ocultas de Trump.
"Trump faz muito barulho, mas não pode abstrair-se das regras do jogo das grandes potências. Não tem os recursos suficientes para manipular a sua vontade a China", insistiu o jornal.
"Pequim responderá se as suas ações violarem os interesses chineses", adverte a publicação.
O republicano já havia atacado o país asiático e sua política comercial durante a campanha eleitoral nos Estados Unidos. Ele chegou a prometer uma taxa de 45% sobre as importações chinesas.
O jornal estatal China Daily aconselhou o "novato na diplomacia" a fazer um curso rápido de realpolitik.
"Trump pode desprezar os diplomatas de Washington, mas terá que dominar a verdadeira realidade das relações internacionais, não a sua visão fantasiosa, antes de utilizar o bisturi", afirma.
"Como presidente eleito, Trump pode esperar algum perdão... Mas as coisas serão diferentes quando ele virar presidente", adverte o China Daily.