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Haiti busca sobreviventes após terremoto que matou mais de 700 pessoas

O terremoto registrado neste sábado no Haiti deixou dezenas de feridos e derrubou igrejas, hotéis e casas, aprofundando a crise econômica e política que já abatia o país

Os escombros do hotel Le Manguier, que desabou após o terremoto: tragédia atinge sobretudo o sudoeste do Haiti (AFP/AFP)

Os escombros do hotel Le Manguier, que desabou após o terremoto: tragédia atinge sobretudo o sudoeste do Haiti (AFP/AFP)

Drc

Da redação, com agências

Publicado em 15 de agosto de 2021 às 09h04.

Última atualização em 15 de agosto de 2021 às 13h25.

As equipes de resgate procuram sobreviventes no Haiti neste domingo, 15, um dia após o terremoto de magnitude 7,2 que deixou pelo menos 724 mortos, revivendo memórias doloridas do grande terremoto de 2010 que até hoje afeta a economia local.

O terremoto registrado neste sábado, 14, deixou mais de 1.800 feridos, segundo a contagem até agora, e derrubou igrejas, hotéis e casas. O sismo foi sentido no sudoeste do país, embora mais longe da capital, Porto Príncipe, do que o terremoto de 2010.

Nas horas após o desastre, registrado pela manhã, habitantes se mobilizaram para socorrer as vítimas feridas e ajudaram a resgatar alguns dos feridos.

"As primeiras intervenções, realizadas tanto por socorristas profissionais como por membros da população, permitiram retirar muitas pessoas dos escombros", afirmaram os serviços de Defesa Civil.

É a mais recente tragédia a atingir o país, que é o mais pobre das Américas. Em julho, o então presidente Jovenal Moise foi assassinado a tiros em sua residência, levando o país a entrar em estado de sítio. O Haiti também vinha tendo dificuldade na gestão da pandemia do novo coronavírus e a falta de acesso a vacinas.

O primeiro-ministro Ariel Henry, principal governante em exercício e que tomou posse somente há algumas semanas, declarou estado de emergência de um mês.

Enquanto as buscas continuam, os poucos hospitais nas regiões afetadas lutam para fornecer atendimento de emergência aos sobreviventes.

Os esforços de socorro podem ainda ser atrapalhados pela aproximação da tempestade tropical Grace, com o risco de chuvas torrenciais e enchentes rápidas, de acordo com o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA.

A população haitiana é até hoje afetada pelo terremoto de 12 de janeiro de 2010, que devastou a capital e várias cidades do interior. Mais de 200.000 pessoas morreram na ocasião e 1,5 milhão de haitianos ficaram desabrigados.

O desafio da reconstrução foi ainda dificultado pelos constantes furacões que atingem o Haiti, além da fragilidade institucional e pobreza extrema no país.

Casa desabada em Les Cayes: chegada de ajuda é prejudicada pela insegurança no país, que piorou nas últimas semanas (AFP/AFP)

Resposta internacional

Neste domingo, o papa Francisco expressou sua "solidariedade" com a população do Haiti, conclamando a comunidade internacional a vir em seu socorro.

"Dirijo palavras de encorajamento aos sobreviventes, esperando que a comunidade internacional se envolva em seu nome e que a solidariedade de todos possa mitigar as consequências da tragédia", declarou o papa durante o Ângelus na Praça de São Pedro.

O presidente norte-americano Joe Biden autorizou ontem uma resposta "imediata" dos EUA ao terremoto e nomeou Samantha Power, administradora da Agência dos EUA para Desenvolvimento Internacional, para coordenar a operação.

Por sua vez, o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, garantiu "acompanhar os últimos desdobramentos da tragédia no Haiti".

"As Nações Unidas estão trabalhando para apoiar as necessidades emergenciais", tuitou.

A República Dominicana, vizinha do Haiti na mesma ilha, anunciou o envio de 10.000 rações de emergência e equipamentos médicos.

México, Peru, Argentina, Chile e Venezuela também se ofereceram para ajudar, assim como o Equador, que envia uma equipe de 34 bombeiros para participar das buscas.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, garantiu aos haitianos que eles poderiam "contar com a ajuda da Espanha".

Os 253 médicos cubanos presentes no país para cooperar na luta contra a pandemia de covid-19 estavam adaptando um hospital em Porto Príncipe para receber os feridos.

A tenista japonesa Naomi Osaka, cujo pai é haitiano, oferecerá às vítimas do terremoto todos os prêmios que receberá em um torneio que está por vir.

"Essa devastação realmente dói", escreveu ela no Twitter.

Moradores olham casas que desabaram na cidade de Jérémie (AFP/AFP)

Como foi o terremoto no Haiti

O terremoto foi sentido por volta das 8h30 (horário local) no sábado. Seu epicentro ocorreu a 8 km ao sul de Petit Trou de Nippes, cidade a cerca de 150 km a oeste da capital Porto Príncipe.

Segundo a agência geológica norte-americana Geological Survey, o sismo teve uma profundidade de 10 km.

O tremor foi sentido até em Cuba e na Jamaica e é potencialmente maior do que o terremoto de magnitude 7 de 11 anos atrás, que matou dezenas de milhares de pessoas na nação mais pobre das Américas.

No entanto, embora o terremoto tenha sido sentido em Porto Príncipe, não causou grandes danos na capital do país, segundo testemunhas da Reuters, o que leva a menor contagem de mortes do que em 2010, apesar das centenas de vítimas já registradas.

A principal cidade mais próxima da capital atingida foi Les Cayes, com população de aproximadamente 126.000 pessoas, onde muitos prédios desabaram ou sofreram grandes danos.

Em Lee Cayes, moradores disseram que houve também breves enchentes na cidade costeira. Houve pânico por medo de um tsunami, mas a água recuou em seguida, com algumas pessoas chegando a fugir para áreas mais altas.

Após o terremoto, pessoal e medicamentos foram enviados pelo ministério da Saúde para o sudoeste do Haiti, mas a logística de emergência também está ameaçada pela insegurança.

Uma das principais estradas que ligam a capital à região sul do país atravessa o bairro de Martissant, sob controle de gangues armadas desde junho e que impedem a livre circulação. 

"Toda a ajuda deve passar", declarou o primeiro-ministro Ariel Henry na noite de sábado.

(Com Reuters e AFP)

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