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Há razão para temer a Coreia do Norte e a sua "bomba H"?

País diz ter testado bomba mais potente do que as que devastaram Hiroshima e Nagasaki, na Segunda Guerra Mundial


	Kim Jong Un: se confirmado, teste com bomba de hidrogênio pode aumentar tensão do conflito armamentista coreano
 (REUTERS)

Kim Jong Un: se confirmado, teste com bomba de hidrogênio pode aumentar tensão do conflito armamentista coreano (REUTERS)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 6 de janeiro de 2016 às 14h10.

São Paulo - A Coreia do Norte anunciou nesta quarta-feira (06) que realizou um teste nuclear bem sucedido com uma bomba de hidrogênio, dispositivo mais poderoso do que as bombas atômicas que devastaram Hiroshima e Nagasaki, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial.

O anúncio, naturalmente, espalhou preocupação em todo o mundo. Se confirmado, o teste nuclear representará uma clara violação das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), além de uma série ameaça à paz na região com os vizinhos Coreia do Sul, China, Japão e Índia.

Veja abaixo cinco perguntas e respostas sobre a empreitada norte-coreana.  

O que há por trás do teste nuclear norte-coreano?

A agência de mídia oficial da Coreia do Norte lançou um comunicado sobre a detonação da bomba de hidrogênio. Em geral, as declarações da KCN são famosas por sua arrogância e hipérboles, e hoje não foi diferente.

Para começar, a nota descreve o dispositivo nuclear como "a bomba H da justiça", testada "da maneira mais perfeita."

Pyongyang justifica o teste como uma resposta aos Estados Unidos, que chama de "o chefe da agressão" e "uma gangue de ladrões cruéis que tem trabalhado duro para trazer um desastre nuclear para a RDPC [sigla de República Democrática Popular da Coreia], não contente com ter imposto uma tripla maldição sobre o país, de inédito isolamento político, bloqueio econômico e pressão militar."

Há motivo para ter medo?

Mike Chinoy, jornalista especialista no tema e autor do livro "Meltdown: The inside story of the North Korean nuclear crisis", diz que a última coisa que o regime norte-coreano faria é agir como um suicida. 

"Eles não vão soltar uma bomba na Califórnia. O que querem é enviar uma mensagem para todos: 'Não mexa com a gente'. Do mesmo modo, o que eles gostariam é de reconhecimento, legitimidade e algum tipo de tratado de paz com os Estados Unidos", escreve na CNN.

"Mas eles querem em seus próprios termos e disseram aos EUA: 'Estamos dispostos a falar com vocês, mas nós não vamos fazê-lo com pré-condições. Já os EUA dizem que a única base para as negociações é discutir como se livrar da capacidade nuclear da Coreia do Norte", pontua.

A bomba de hidrogênio é mais poderosa do que as armas de plutônio que a Coreia do Norte usou em seus três testes nucleares subterrâneos anteriores (em 2013, 2006 e 2003), o que aumenta significamente as tensões da negociação. 

"Se não houver invasão de nossa soberania não vamos usar arma nuclear", diz o comunicado da agência KCN, demonstrando claramente uma postura defensiva.

Por que agora?

O aniversário do líder supremo Kim Jong-Un será comemorado na próxima sexta-feira (8), então o teste nuclear pode ser uma espécie de presente antecipado, especula o jornal americano Washington Post.

Mas o mais provável é que se trate de uma preparação para o aguardado sétimo Congresso do Partido dos Trabalhadores da Coreia, que ocorre em maio deste ano, o primeiro em 36 anos, conforme Toshimitsu Shigemura, especialista em Coreia do Norte da Universidade de Waseda.

"Kim Jong Un precisa de grandes resultados antes do congresso do partido em maio. Seu pai não testou uma bomba de hidrogênio, mas agora ele pode dizer que ele fez isso...É um grande resultado para ele", disse em entrevista ao jornal.

A Coreia do Norte tem mesmo uma bomba de hidrogênio?

Além do furor das principais potências do mundo, o anúncio do teste nuclear feito por Pyongyang também despertou suspeitas. Não é possível saber, ainda, se o país detonou de fato uma arma termonuclear, comumente conhecida como bomba de hidrogênio.

Especialistas em energia atômica têm questionado se o tamanho da explosão foi grande o suficiente para ter sido provocado uma bomba desse tipo.

Bombas de hidrogênio são mais poderosas e avançadas tecnologicamente do que as armas atômicas, pois usam fusão de átomos para liberar enormes quantidades de energia. Ao passo que as bombas atômicas, como as de Hiroshima e Nagasaki, se baseiam em fissão, ou seja na divisão de átomos.

Em entrevista à britânica BBC, Bruce Bennett, especialista em geopolítica, acredita que "Kim Jong-un ou está mentindo, dizendo que eles fizeram um teste de hidrogênio quando simplesmente usaram uma arma de fissão um pouco mais eficiente. Ou a parte de hidrogênio do teste realmente não funcionou muito bem, ou ainda a parte da fissão da bomba deu problema [a bomba de hidrogênio usa uma bomba atômica como espoleta]."

Japão e Estados Unidos enviaram nesta quarta-feira aviões de reconhecimento para uma região próxima da península coreana para medir a radioatividade no ar, relata a agência EFE. Se forem encontrados materiais radioativos no ar, eles podem oferecer informações sobre a natureza do teste nuclear supostamente realizado por Pyongyang.

Os Estados Unidos desenvolveram suas primeiras armas termonucleares durante a Guerra Fria, na segunda metade do século 20. Rússia, China e outras potências seguiram o exemplo logo depois.

E o que acontece agora? 

Pode levar alguns dias para determinar se o país de fato testou sua primeira bomba de hidrogênio, mas as consequências da postura desafiadora de Pyongyang já demanda respostas enérgicas.

A China, principal interlocutora de Pyongyang, "enfrentará uma pressão crescente, ao mesmo tempo nacional e internacional, para punir e frear Kim Jong-Un e para obrigá-lo a renunciar as suas armas nucleares", estima Xie Yanmei, analista do International Crisis Group no norte da Ásia com sede em Pequim, em entrevista à agência AFP

Para Crispin Rovere, especialista australiano em política nuclear, as relações com a Coreia do Sul também podem se ressentir e Seul pode se ver tentada, como o Japão, a reforçar seu arsenal legislativo e militar diante da ameaça representada pelo regime comunista norte-coreano. 

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