Xi Jinping alertou Putin sobre uso de armas nucleares na Ucrânia, revela o "Financial Times" (Alexandr Demyanchuk / SPUTNIK / AFP/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 5 de julho de 2023 às 14h54.
Última atualização em 5 de julho de 2023 às 15h01.
O líder chinês Xi Jinping alertou pessoalmente o presidente russo Vladimir Putin contra o uso de armas nucleares na Ucrânia, de acordo com reportagem do jornal nipo-britânico "Financial Times". O alerta de Xi aconteceu durante a visita feita a Moscou em março e indicou as preocupações da China com a Rússia na guerra na Ucrânia, apesar da relação próxima que possuem.
Segundo autoridades chinesas e ocidentais ouvidas pelo FT, desde então a China assumiu o crédito por convencer Putin a desistir das ameaças veladas de usar armas nucleares contra a Ucrânia. Um assessor do alto escalão do governo chinês afirmou ao jornal que essa dissuasão tem sido fundamental para a campanha da China de reparar seus laços com a Europa.
A invasão da Rússia na Ucrânia em 2022 fragilizou a relação da China com as nações do continente europeu devido à relutância chinesa de adotar a posição do Ocidente e as sanções contra a Rússia.
Publicamente, a China sempre se opôs ao uso de armas nucleares na Ucrânia. Mas muitos dos apoiadores de Kiev duvidaram do compromisso de Pequim, dada a aproximação recente com Moscou e um plano de paz que, na visão do governo ucraniano, privilegia os interesses russos. Antes da guerra, Xi e Putin afirmaram ter uma “parceria sem limites”.
A advertência de Xi, no entanto, aumentou a crença de Kiev e dos países aliados da Otan de que a China reitera suas posições públicas em reuniões privadas. Dado o nível de dependência atual que a Rússia possui de Pequim, as consequências de descumprir o alerta podem ser ameaçadoras para a economia do país. “Os chineses estão recebendo o crédito por enviar a mensagem em todos os níveis”, disse um alto funcionário do governo dos EUA ao "Financial Times".
Josep Borrell, chefe de política externa da União Europeia, disse em março que a visita de Xi a Moscou “reduz o risco de guerra nuclear e eles [os chineses] deixaram isso muito, muito claro”.
O Ministério das Relações Exteriores da China não respondeu imediatamente a um pedido de comentário do FT. Entretanto, segundo o jornal, um ex-funcionário do governo chinês confirmou que Xi disse pessoalmente a Putin para não usar armas nucleares, observando. A posição da China contra o uso dessa arma foi incluída em seu documento de posição sobre a paz na Ucrânia.
O Kremlin também não respondeu imediatamente a um pedido de comentário, disse o "Financial Times".
Autoridades ouvidas pelo jornal ainda afirmaram que o presidente russo ficou desapontado após a visita de Xi por não ter obtido nenhuma vitória concreta, como financiamento em infraestrutura. A condenação do uso de armas nucleares no comunicado da visita foi em grande medida a pedido da China, acrescentaram.
Se a Rússia usasse armas nucleares na Ucrânia, a China seria fortemente prejudicada, avaliou uma autoridade ao FT. Pequim tem ajudado Moscou a lidar com as sanções econômicas que isolaram o país após a guerra na Ucrânia e recebido críticas do Ocidente por isso. No ano passado, o comércio bilateral entre os dois países atingiu um recorde de US$ 190 bilhões (R$ 922 bilhões, na cotação atual) e aumentou o uso do iuane, a moeda chinesa.
Pequim também se absteve de criticar a Rússia abertamente pela invasão e acusou o Ocidente de alimentar o conflito ao fornecer armas à Ucrânia.
Este ano, o governo chinês começou os esforços de paz no conflito e se reuniu com autoridades ocidentais, de Kiev e de Moscou para tratar do assunto, visto com ceticismo pela Otan. O sucesso ou fracasso das incursões chinesas na questão da Ucrânia pode ser crucial para a relação futura da China com o Ocidente e na competição hegemônica com os Estados Unidos.