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Greve geral paralisa Argentina contra inflação e insegurança

Hoje, as brasileiras TAM e GOL suspenderam alguns de seus voos do Brasil para Buenos Aires, especificamente para o Aeroparque

Manifestantes bloqueiam uma estrada em Buenos Aires: sindicatos que apoiaram a greve vão desde a centro-direita até a esquerda radical (AFP)

Manifestantes bloqueiam uma estrada em Buenos Aires: sindicatos que apoiaram a greve vão desde a centro-direita até a esquerda radical (AFP)

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Da Redação

Publicado em 10 de abril de 2014 às 21h26.

A Argentina enfrentou nesta quinta-feira uma greve geral de 24 horas, que contou com ampla adesão do setor de transportes, convocada por três das cinco centrais sindicais que exigem do governo da presidente Cristina Kirchner ações contra a inflação e a insegurança.

A greve paralisou os transportes públicos, setor-chave para que o protesto sindical fosse bem-sucedido nesse país de 40 milhões de habitantes e com uma das maiores taxas de inflação da América Latina: mais de 7% no primeiro bimestre de 2014, de acordo com dados oficiais avalizados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em 2013, esse número se situou entre 25% e 30%, segundo consultorias privadas.

Os sindicatos que apoiaram a greve vão desde a centro-direita até a esquerda radical. Apesar de tantas diferenças na agenda e em suas formas de atuação, essas organizações concordaram com se manifestar contra a inflação e a insegurança.

Pelo menos 50% das lojas permaneciam de portas fechadas, em um dia incomum com menos movimento do que um domingo, mas com bancos abertos, acúmulo de lixo nos bairros, devido à adesão dos garis ao movimento, e poucas pessoas nas ruas.

"Um companheiro passou para buscar os que não tinham como vir. O que acontece é que, quem não viesse, teria o salário do dia descontado", disse à AFP Mauricio Ibañez, de 22 anos, que trabalha em um supermercado.

A adesão à paralisação foi heterogênea na capital, na província vizinha de Buenos Aires e em Rosário, a terceira cidade mais importante do país, com lojas de departamento e cadeias de fast-food abertos. Escritórios e escolas particulares também funcionaram.

O aeroporto internacional de Ezeiza operava normalmente, enquanto o nacional Aeroparque, em Buenos Aires, não funcionou, confirmaram seus porta-vozes.


Hoje, as brasileiras TAM e GOL suspenderam alguns de seus voos do Brasil para Buenos Aires, especificamente para o Aeroparque.

"A TAM informa que, devido ao fechamento do aeroporto Jorge Newbery (Aeroparque) em Buenos Aires, por uma greve geral na Argentina, cinco voos da companhia foram cancelados", informou a empresa.

Desses, dois eram de ida e três de volta, entre São Paulo e Buenos Aires.

Já a Gol anunciou que "seis (voos) que tinham o Aeroparque como origem e ponto de partida foram cancelados".

"Os demais voos para Córdoba, Rosario e para o Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, não foram afetados", completou a Gol.

"Essa foi uma greve setorial que se tornou uma greve geral com a adesão do setor de transportes", disse à AFP a analista política Graciela Römer, diretora da consultoria de mesmo nome.

Para Graciela, "não se pode negar que essa paralisação retrata o mau humor social existente. E também tem um componente político, mas não é um, ou outro. Há um componente político que foi somado a uma reivindicação real", explicou.

Depois da suspensão dos bloqueios de ruas e estradas em várias partes do país, o líder dos caminhoneiros Hugo Moyano celebrava "a alta adesão" à greve.

Líder do setor de oposição da central dos trabalhadores CGT, ele enfrenta a ala kirchnerista, que reúne sindicatos da indústria, do comércio, dos bancários e dos professores, que não participam do movimento.


Queda de braço política

Analistas viram essa paralisação como um jogo político para desafiar o governo de centro-esquerda de Cristina Kirchner, confrontado ainda com a insatisfação social provocada pela insegurança nas grandes cidades. Nas últimas semanas, por exemplo, houve pelo menos 12 casos de moradores tentando fazer justiça com as próprias mãos contra suspeitos de roubo.

O chefe de Gabinete da Presidência, Jorge Capitanich, disse que os organizadores da greve "pretendem sitiar os grandes centros urbanos" com piquetes.

"Na Idade Média, os senhores feudais impediam o acesso à população. Não há lugar para a barbárie, nem para medidas que conspiram contra o livre exercício do direito de greve dos trabalhadores", afirmou Capitanich, em entrevista na Casa de Governo.

A analista Graciela Römer advertiu, porém, que a greve mostrou que sindicalistas como Moyano e seu companheiro à frente do protesto, o líder do sindicato gastronômico Luis Barrionuevo, "muito criticados, muito malvistos, muito pouco valorizados pela população, voltam a fazer uma demonstração de força".

A socióloga esclarece que "uma demonstração de força não é equivalente a uma demonstração de confiança e de valorização", mas a greve deixou o governo em uma situação que, "muito provavelmente, algumas das medidas que a oposição e o sindicalismo estão pedindo terão de ser contempladas como, por exemplo, a redução do imposto de renda".

Divisões e "patotas"

A Argentina conta com 10 milhões de trabalhadores com carteira assinada, dos quais 40% são sindicalizados.

Categorias como a dos professores, do comércio e até entre os trabalhadores do setor de transportes não apoiam a greve, o que dá origem a divisões internas nos sindicatos.

Essas diferenças provocaram agressões no Subte (o metrô argentino) por parte das "patotas" (grupos violentos) que quiseram interromper o serviço em duas linhas. Nestas, os funcionários decidiram não participar da greve.

O governo tentou pôr fim às recomposições salariais discutidas com as câmaras patronais, embora a maioria dos grandes sindicatos já tenha acordado melhorias salariais em torno de 30% (anual).

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