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Governo e oposição voltam a dialogar na Venezuela

O ponto central da negociação é a exigência da MUD de uma saída eleitoral da profunda crise política e econômica que atinge o país petroleiro

Venezuela: a oposição pede que seja reativado o referendo revogatório contra Maduro em 2016 - suspenso no dia 20 de outubro - ou a antecipação das eleições (Carlos Garcia Rawlins / Reuters)

Venezuela: a oposição pede que seja reativado o referendo revogatório contra Maduro em 2016 - suspenso no dia 20 de outubro - ou a antecipação das eleições (Carlos Garcia Rawlins / Reuters)

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AFP

Publicado em 10 de novembro de 2016 às 17h19.

Após uma pequena trégua de dez dias, o governo e a oposição da Venezuela se sentarão novamente à mesa de diálogo na sexta-feira, sob a ameaça dos opositores de retomar sua ofensiva contra o presidente Nicolás Maduro se não virem resultados.

"A trégua que nós acordamos, a pedido do Vaticano, acaba nesta sexta-feira. Nós iremos lutar. Vamos para a mesa de diálogo exigir que o direito do povo de votar seja restituído", disse o secretário-executivo da Mesa da Unidade Democrática (MUD), Jesús Torrealba.

O ponto central da negociação é a exigência da MUD de uma saída eleitoral da profunda crise política e econômica que atinge o país petroleiro, que sofre também com a falta de insumos básicos e uma inflação que poderá chegar a 475%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

A oposição pede que seja reativado o referendo revogatório contra Maduro em 2016 - suspenso no dia 20 de outubro - ou a antecipação das eleições, de dezembro de 2018 para o primeiro trimestre de 2017. Ambas foram descartadas pelos funcionários do governo.

"A probabilidade de que em uma mesa de negociação o governo aceite um referendo ou adiante as eleições é quase zero, porque Maduro tem a certeza absoluta de que significam a entrega de sua cabeça", opinou o analista Luis Vicente León.

O presidente socialista, que sustenta que concluirá seu mandato em janeiro de 2019, disse não aceitar nenhum ultimato e pediu à oposição que não se levantasse da mesa.

Ainda assim, a MUD adverte que a via eleitoral é prioridade, além da libertação dos "presos políticos", o abastecimento de alimentos e remédios, a substituição de autoridades eleitorais e da justiça - as quais acusa de servir ao governo - e a restituição do poder no Parlamento, de maioria opositora, mas declarado em desacato pela Suprema Corte.

A Venezuela não tem tempo

Advertindo que era apenas uma parada temporária em sua ofensiva, a MUD suspendeu em 1º de novembro um julgamento sobre a responsabilidade de Maduro na crise e um protesto no palácio presidencial de Miraflores, à espera de gestos recíprocos.

Mas nestes onze dias, excetuando-se uma primeira libertação de cinco opositores presos - de mais de 100, segundo a MUD - não foram vistos grandes avanços, somente mesas separadas que discutiram sobre temas de direitos humanos e a atenção à crise.

"Não temos muito tempo para os venezuelanos. Não podemos passar meses ali sentados encontrando-nos cara a cara e a próxima reunião ser não sei quando. Aqui deve acontecer uma mudança", assegurou o ex-candidato à Presidência Henrique Capriles.

A trégua da oposição confundiu muitos de seus apoiadores, impacientes pelas angústias cotidianas, e alguns deles pediram mais firmeza contra o governo.

Alguns estudantes universitários protestaram nesta quinta-feira nas ruas de Caracas, sem poder chegar à sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

"Vamos continuar nas ruas. Pedimos um cronograma de eleições ou a reativação do referendo", declarou o dirigente estudantil Hasler Iglesias.

Para León, o governo ganhou o "primeiro round" porque desativou o protesto popular, além da pressão internacional, e conseguiu mais tempo.

Mas a tensão pode voltar a aumentar em breve. Apesar de ambas as partes terem se comprometido com o Vaticano de diminuir a agressividade, durante a trégua trocaram seus habituais insultos.

Capriles e outros líderes da MUD advertiram que retomarão as manifestações e o "julgamento político" se não virem resultados do diálogo.

O fator Trump

Neste contexto, a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos carrega incertezas na relação com a Venezuela e a atitude frente ao diálogo.

Os Estados Unidos advogam pela libertação dos opositores presos e uma saída eleitoral à crise. Em apoio ao diálogo, na semana passada enviaram a Caracas o diplomata Thomas Shannon.

"O discurso agressivo e ameaçador de Trump será a desculpa perfeita para fortalecer a tese do inimigo externo na Venezuela", acredita León.

Em uma conversa por telefone com o secretário de Estado americano, John Kerry, Maduro defendeu na quarta-feira "uma agenda de trabalho positiva" com Trump.

Líderes opositores reagiram com cautela. Lilian Tintori, esposa do político preso Leopoldo López, disse esperar que os Estados Unidos sigam apoiando os venezuelanos "em defesa" dos direitos humanos.

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