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Governo e oposição se acusam por violência que matou sete

Enquanto Maduro acusa o opositor de tentar dar um golpe de estado, Capriles denuncia o governo de orquestrar violência para impedir uma recontagem de votos


	Simpatizantes de Capriles queimam um cartaz com a imagem de Maduro: os protestos começaram  depois de o CNE ter proclamado Maduro presidente eleito, com 50,75% dos votos
 (Geraldo Caso/AFP)

Simpatizantes de Capriles queimam um cartaz com a imagem de Maduro: os protestos começaram  depois de o CNE ter proclamado Maduro presidente eleito, com 50,75% dos votos (Geraldo Caso/AFP)

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Da Redação

Publicado em 17 de abril de 2013 às 08h36.

Caracas - O governo e a oposição se acusaram mutuamente pela violência na Venezuela que deixou pelo menos sete mortos durante uma mobilização convocada pelo opositor Henrique Capriles contra a proclamação do chavista Nicolás Maduro como presidente eleito, desencadeando uma grave crise política.

Maduro, herdeiro do falecido Hugo Chávez, afirmou que essas mortes foram provocadas por grupos fascistas, acusando Henrique Capriles de orquestrar um golpe de Estado ao convocar protestos contra o resultado das eleições, vencidas pelo chavista por apenas 1,8 ponto percentual.

"O governo é que está por trás de todos esses episódios de violência", respondeu Capriles, segundo ele, para impedir que a oposição peça uma recontagem de votos.

Apesar disso, o opositor, de 40 anos, disse estar "disposto a abrir um diálogo para que a crise seja resolvida nas próximas horas" e suspendeu a convocação que tinha feito por uma manifestação na quarta em Caracas diante da sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

"Amanhã não vamos nos mobilizar e eu peço a todos os meus seguidores que se recolham; quem sair está do lado da violência, quem sair está fazendo o jogo do governo, o governo quer que haja mortos aqui no país", disse Capriles.

Maduro, 50 anos, havia advertido nesta terça que não permitiria mais marchas opositoras na capital. "Vocês não vão ao centro de Caracas enchê-lo de morte e de sangue", sentenciou.

Os protestos começaram na segunda-feira depois de o CNE ter proclamado Maduro presidente eleito, com 50,75% dos votos contra 48,97% de Capriles, que, devido à diferença apertada, havia exigido uma recontagem total dos votos e convocado a mobilização.

Mesmo tendo suspendido a convocação de passeatas em Caracas, Capriles, que considera "ilegítima" a proclamação de Maduro, pediu panelaços, principalmente na sexta-feira, data da posse de Maduro.


Na noite desta terça-feira, milhares de pessoas voltaram a bater panelas das janelas e varandas de suas casas, enquanto os chavistas soltavam fogos em uma contramanifestação.

Maduro havia convocado um "foguetaço" para responder ao "panelaço" da oposição.

Em cadeia de rádio e televisão, Maduro acusou a oposição de orquestrar um "golpe de Estado" com as convocações de protestos e afirmou que um pequeno grupo de militares está sob investigação por ter mantido contato com opositores.

"Façam o que quiserem fazer, não vou permitir. Vou usar mão dura frente ao fascismo e à intolerância. Se quiserem me derrubar, venham atrás de mim, com um povo e uma força armada aqui estou", ressaltou Maduro, referindo-se ao breve golpe de Estado da oposição, que em 2002 derrubou Chávez por pouco tempo.

Com uma postura desafiadora, o presidente eleito afirmou: "Se continuarmos com a violência, o que podemos é radicalizar esta revolução" socialista, afirmou o governista.

"Esta era uma crônica de um golpe de Estado. Hoje declaro que derrotamos o golpe de Estado", afirmou o presidente eleito, ao convocar seus seguidores a se manifestarem em apoio a sua vitória.

Capriles afirmou que "há uma crise política" no país.

"Se você fala: 'Bingo', tem que mostrar o cartão para provar que ganhou", respondeu o opositor.


-- Às ruas --

Grupos de opositores e simpatizantes do governo realizaram nesta terça-feira manifestações pela Venezuela, em um dia tenso que terminou com sete mortos.

Atendendo à convocação de Maduro, grupos de chavistas vestidos de vermelho protestaram em defesa do sucessor de Chávez nos estados de Zulia, Monagas, Anzoáteqgui, Carabobo e Apure.

Enquanto isso, opositores se reuniram na Praça Altamira, em Chacao, reduto opositor no leste de Caracas, assim como em setores de Barquisimeto (leste) e de Maracaibo (oeste) para exigir a recontagem dos votos, de acordo com informações de lideranças opositoras locais..

O presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, afirmou em sua conta do Twitter que promoverá uma "averiguação penal de Capriles pela violência gerada no país".

"Capriles fascista, me encarregarei pessoalmente que você pague por todo o dano que está causando a nossa Pátria e ao nosso Povo", escreveu Cabello.

Imagens divulgadas pela VTV mostraram nesta terça-feira veículos queimados em Barinas (oeste) e a sede do partido governista em Táchira parcialmente destruída.


Segundo o governo, grupos de supostos opositores cercaram a casa da presidente do CNE, Tibisay Lucena, e vários médicos cubanos, que trabalham na missão Bairro Adentro - criada por Chávez para o atendimento em comunidades pobres - foram agredidos em algumas regiões.

Ao proclamar Maduro presidente, Lucena defendeu a transparência do processo eleitoral e pediu à oposição que recorra ao caminho legal, e não às ameaças.

Vicente Díaz, único dos cinco reitores do CNE próximo da oposição reafirmou o resultado eleitoral informado pelo organismo.

"Eu não tenho dúvidas sobre o resultado fornecido pelo CNE, acredito que é importante dar uma tranquilidade àquelas pessoas" que questionam os resultados, considerou Díaz.

Por enquanto, não há uma solução possível para esta situação, diante das convocações de protestos dos dois lados.

Praticamente todos os países latino-americanos felicitaram Maduro como novo presidente, enquanto os Estados Unidos indicaram que ainda não estão preparados para reconhecê-lo. Espanha e OEA pediram diálogo.

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