Protestos na cidade Roubaix, norte da França (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 30 de junho de 2023 às 06h51.
Última atualização em 30 de junho de 2023 às 09h43.
O governo francês analisa, nesta sexta-feira, 30, "todas as opções", entre elas decretar estado de exceção após uma terceira noite de distúrbios, em reação ao jovem baleado pela polícia, que deixaram mais de 650 detidos e cerca de 250 agentes feridos.
Prédios públicos atacados, lojas saqueadas, veículos incendiados... muitas cidades da França, especialmente na região de Paris, viveram novamente protestos noturnos violentos, apesar dos 40.000 policiais e gendarmes mobilizados.
O presidente centrista, Emmanuel Macron, convocou uma reunião de crise para as 13h00 (08h00 no horário de Brasília) em Paris, a segunda em dois dias, que o obrigou a interromper sua participação em uma cúpula em Bruxelas com seus homólogos da União Europeia (UE).
"Vamos analisar todas as opções com uma prioridade em mente: o regresso à ordem", afirmou a primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, questionada sobre a possibilidade de instaurar o estado de exceção durante uma visita a uma delegacia no sul de Paris.
Desde terça-feira, quando eclodiram os distúrbios, a direita e a extrema direita reivindicam esta decisão, que permite às autoridades administrativas tomar medidas excepcionais, como a proibição de viajar.
"[Nós] pedimos porque hoje a violência atingiu proporções tão altas que temos que agir imediatamente e (...) ser extremamente firmes", disse Sébastien Chenu, do partido de extrema direita de Marine Le Pen.
Seu rival Éric Zemmour foi além e pediu na rádio Europe 1 uma "repressão feroz" contra os perpetradores da violência.
Em 2005, o governo do ex-presidente conservador Jacques Chirac declarou estado de exceção após dez dias de tumultos nos subúrbios devido à morte de dois adolescentes que fugiam da polícia.
No entanto, o governo hesita em tomar a medida. O ministro da cidade, Olivier Klein, indicou nesta sexta-feira que isso significaria reconhecer um "fracasso".
A violência estourou nos subúrbios de Paris na terça-feira e se espalhou pela França após a morte de Nahel, de 17 anos, que foi baleado à queima-roupa por um policial durante um posto de controle de trânsito em Nanterre, a oeste da capital.
Os fatos reacenderam o recorrente debate sobre a violência policial na França, onde em 2022 treze pessoas morreram em circunstâncias semelhantes às do jovem. Junto com as imagens da tragédia, as ruas foram incendiadas.
Ontem à noite, várias lojas no centro comercial Les Halles e na rua turística e comercial Rivoli, que dá acesso ao museu do Louvre, em Paris, foram "vandalizadas", "saqueadas" e "incendiadas", disse um funcionário da polícia.
Os participantes dos protestos também atacaram, pela segunda noite consecutiva, delegacias como em Pau (sudoeste), prefeituras, como em Lille (norte), ou escolas, como em Amiens (norte).
No bairro de Pablo Picasso, em Nanterre, onde morava Nahel, a terceira noite de distúrbios voltou a deixar veículos em chamas, disparos de foguetes e até uma agência bancária incendiada, observou um jornalista da AFP.
O ministro do Interior, Gérald Darmanin, relatou 667 prisões e 249 policiais e gendarmes feridos ontem à noite, nenhum deles em estado grave.
A Justiça ordenou a prisão preventiva por homicídio culposo do agente de 38 anos que atirou. Segundo o seu advogado, ele ficou "extremamente comovido" com a violência do vídeo dos acontecimentos.
"As primeiras palavras que ele pronunciou foram para pedir perdão e as últimas palavras que pronunciou foram para pedir perdão à família" da vítima, disse o advogado Laurent-Franck Liénard à BFMTV.
Mounia, a mãe da vítima, disse ao France 5 que não culpa a polícia, mas apenas o agente que tirou a vida de seu filho, já que "ele viu um rosto árabe, um menino, e quis tirar a vida dele".
Na quinta-feira, uma marcha em homenagem a Nahel em Nanterre, da qual participaram 6.200 pessoas, também serviu para expressar raiva e medo contra as forças de ordem, vistas como racistas e violentas.
"É hora de o país abordar seriamente os problemas profundos de racismo e discriminação racial entre as forças de segurança", disse Ravina Shamdasani, porta-voz do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, nesta sexta-feira. A Alemanha também expressou sua "preocupação" com o que está acontecendo no país vizinho.