Fragmentação florestal afeta biodiversidade de aves
Dados que relacionam a diminuição das matas à sobrevivência de diferentes espécies de aves foram apresentados pelo professor Mauro Galetti no dia 12 de novembro
Da Redação
Publicado em 19 de novembro de 2013 às 17h00.
Processos de deflorestação são conhecidos como obstáculos para a manutenção dos ecossistemas em florestas , mas suas consequências, distintas para espécies da flora e da fauna, podem ser ainda piores para determinados grupos de animais. É o que indica uma pesquisa liderada pelo professor Mauro Galetti, do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro.
Segundo a pesquisa, é este o caso das aves, cuja diversidade de espécies é ameaçada não apenas em circunstâncias de desmatamento de grandes áreas verdes para, por exemplo, a produção agroindustrial, mas também quando as matas são preservadas de forma não contínua e tecnicamente sem proximidade. Ou, ainda, quando não há conservação de áreas suficientemente densas para sua sobrevivência e reprodução.
Dados que relacionam a diminuição das matas à sobrevivência de diferentes espécies de aves – e a diminuição de aves como fator de declínio na taxa de dispersão de sementes – , parte de um projeto de pesquisa mais abrangente sobre a maneira como a fragmentação das florestas afeta essa biodiversidade , foram apresentados por Galetti no dia 12 de novembro durante a FAPESP Week na Carolina do Norte, em Raleigh, Estados Unidos.
O simpósio internacional – organizado pela FAPESP, pela University of North Carolina em Chapel Hill, pela University of North Carolina-Charlotte, pela North Carolina State University (NCSU) e pelo Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars, de Washington – reuniu pesquisadores dos dois países com o objetivo de intensificar o intercâmbio e ampliar as pesquisas conjuntas realizadas nos Estados de São Paulo e da Carolina do Norte.
Os dados da pesquisa, que também foram publicados na revista Science, fazem parte do Projeto Temático “Efeitos de um gradiente de defaunação na herbivoria, predação e dispersão de sementes: uma perspectiva na Mata Atlântica”, apoiado pela FAPESP e concluído em março no Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro.
Galetti e sua equipe se concentraram na investigação do comportamento de determinadas espécies de aves e de sua capacidade de evolução em ambientes que sofrem intensa ação humana, como nos remanescentes da Mata Atlântica na região Sudeste do Brasil.
O professor da Unesp também destacou a redução de um tipo específico de palmeira, a Euterpe edulis, em decorrência direta da exploração humana, reunindo informações presentes no artigo publicado na Science. O trabalho contou com a participação de 15 pesquisadores de oito instituições de São Paulo, Paraná, Pará, Rio de Janeiro, Goiás e também do México e da Espanha.
A palmeira descrita na palestra de Galetti é uma espécie dominante na região da Mata Atlântica e seus frutos são consumidos por mais de 58 espécies de aves. Essa palmeira, porém, também fornece o palmito, o que a coloca em risco por causa da ação humana.
Ao verificar as consequências evolutivas do processo de diminuição de espécies animais como resultado dessa ação, a pesquisa obteve dados sobre o processo de defaunação que ocorre nesse bioma, buscando identificar a perda ou o declínio da população de vertebrados nativos de médio e grande portes.
A defaunação representa uma ameaça significativa não apenas para a Mata Atlântica, mas também para a biodiversidade dos diversos ecossistemas tropicais.
“Buscamos verificar como essa perda de espécies, em diferentes níveis, afeta sistemas biológicos ao longo de diferentes processos, da fisiologia e reprodutibilidade vegetal ao comportamento animal, incluindo padrões de migração, abrigo e dieta alimentar”, disse Galetti.
Determinadas mudanças nesses padrões podem levar a interrupções no funcionamento dos ecossistemas e, consequentemente, à degradação ambiental em prazos curtos ou médios. “No longo prazo, porém, as alterações podem significar alterações fenotípicas e até na estrutura genética de populações animais”, disse.
Para Galetti, os dados levantados pelo estudo indicam que é preciso identificar necessidades e apontar possíveis prognósticos, para haver tempo de adaptação a uma condição em que haja possivelmente menos espécies.
Composta em grande medida por espécies herbívoras e frugívoras, a fauna de médio e de grande porte tem animais importantes para a dispersão de sementes, que atuam no controle de plantas por meio da herbivoria e da predação de sementes.
Segundo Galetti, a caça ilegal tem reduzido consideravelmente a diversidade desses animais em distintas áreas nos trópicos, especialmente na Mata Atlântica, o que pode ter profundos efeitos na diversidade e na composição das espécies vegetais.
Com apenas 12% de floresta remanescente, a Mata Atlântica ainda possui até 8% das espécies de aves do mundo e altas taxas de endemismo.
Espécies relacionadas
Grandes migrações entre as populações de aves sugerem que a Euterpe edulis compartilha uma história evolutiva comum com essas aves, que são importantes agentes para a germinação dessa espécie de palmeira.
“Suas sementes são espalhadas por ação de regurgitação e defecação. Contudo, as evidências apontam para uma diminuição de espécies de aves com capacidade de colher grandes sementes, como tucanos, o que torna vulnerável a dispersão de sementes maiores, entre elas a da E. edulis”, disse Galetti.
Segundo os pesquisadores, a diferença entre as características de tamanho de sementes ocorre em razão de recentes mudanças causadas pelo crescente isolamento das florestas, cada vez mais fragmentadas.
O tamanho da semente estaria relacionado à perda de água e de germinação. Quanto maior a semente, menor a área de superfície exposta em proporção ao volume. Isso agravaria o problema, visto que as sementes não germinam com menos de 20% de sua superfície exposta à água.
“A defaunação cria um novo regime de seleção para a evolução de plantas no antropoceno. Essas mudanças podem até passar despercebidas, mas são capazes de levar várias espécies à extinção em cenários climáticos futuros”, disse Galetti.
A pesquisa foi apresentada no painel sobre biodiversidade, que contou também com apresentações dos pesquisadores Maritta Koch-Weser, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), Erin Sills, da North Carolina State University, e Daniel Janies, da University of North Carolina-Charlotte.
Brazilian Nature
Ainda sobre o tema biodiversidade, a FAPESP Week North Carolina contou com a exibição da exposição Brazilian Nature – Mystery and Destiny em dois locais distintos.
A primeira delas foi aberta na James B. Hunter Library, no Institute of Emerging Issues da NCSU, em Raleigh, onde ficará exposta no saguão principal até o dia 20 de novembro. A segunda mostra foi aberta no dia 13 de novembro, na Student Union da University of North Carolina-Charlotte.
Com 37 painéis, a exposição retrata o trabalho do naturalista alemão Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) e permite comparar as imagens originais feitas no século 19 com fotografias atuais de plantas e biomas, entre elas algumas feitas durante pesquisas realizadas no âmbito do projeto Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo e do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (BIOTA-FAPESP). Os painéis digitalizados da exposição podem ser vistos com legendas em português, inglês, espanhol, japonês e alemão no endereço: http://www.fapesp.br/publicacoes/braziliannature
Processos de deflorestação são conhecidos como obstáculos para a manutenção dos ecossistemas em florestas , mas suas consequências, distintas para espécies da flora e da fauna, podem ser ainda piores para determinados grupos de animais. É o que indica uma pesquisa liderada pelo professor Mauro Galetti, do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro.
Segundo a pesquisa, é este o caso das aves, cuja diversidade de espécies é ameaçada não apenas em circunstâncias de desmatamento de grandes áreas verdes para, por exemplo, a produção agroindustrial, mas também quando as matas são preservadas de forma não contínua e tecnicamente sem proximidade. Ou, ainda, quando não há conservação de áreas suficientemente densas para sua sobrevivência e reprodução.
Dados que relacionam a diminuição das matas à sobrevivência de diferentes espécies de aves – e a diminuição de aves como fator de declínio na taxa de dispersão de sementes – , parte de um projeto de pesquisa mais abrangente sobre a maneira como a fragmentação das florestas afeta essa biodiversidade , foram apresentados por Galetti no dia 12 de novembro durante a FAPESP Week na Carolina do Norte, em Raleigh, Estados Unidos.
O simpósio internacional – organizado pela FAPESP, pela University of North Carolina em Chapel Hill, pela University of North Carolina-Charlotte, pela North Carolina State University (NCSU) e pelo Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars, de Washington – reuniu pesquisadores dos dois países com o objetivo de intensificar o intercâmbio e ampliar as pesquisas conjuntas realizadas nos Estados de São Paulo e da Carolina do Norte.
Os dados da pesquisa, que também foram publicados na revista Science, fazem parte do Projeto Temático “Efeitos de um gradiente de defaunação na herbivoria, predação e dispersão de sementes: uma perspectiva na Mata Atlântica”, apoiado pela FAPESP e concluído em março no Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro.
Galetti e sua equipe se concentraram na investigação do comportamento de determinadas espécies de aves e de sua capacidade de evolução em ambientes que sofrem intensa ação humana, como nos remanescentes da Mata Atlântica na região Sudeste do Brasil.
O professor da Unesp também destacou a redução de um tipo específico de palmeira, a Euterpe edulis, em decorrência direta da exploração humana, reunindo informações presentes no artigo publicado na Science. O trabalho contou com a participação de 15 pesquisadores de oito instituições de São Paulo, Paraná, Pará, Rio de Janeiro, Goiás e também do México e da Espanha.
A palmeira descrita na palestra de Galetti é uma espécie dominante na região da Mata Atlântica e seus frutos são consumidos por mais de 58 espécies de aves. Essa palmeira, porém, também fornece o palmito, o que a coloca em risco por causa da ação humana.
Ao verificar as consequências evolutivas do processo de diminuição de espécies animais como resultado dessa ação, a pesquisa obteve dados sobre o processo de defaunação que ocorre nesse bioma, buscando identificar a perda ou o declínio da população de vertebrados nativos de médio e grande portes.
A defaunação representa uma ameaça significativa não apenas para a Mata Atlântica, mas também para a biodiversidade dos diversos ecossistemas tropicais.
“Buscamos verificar como essa perda de espécies, em diferentes níveis, afeta sistemas biológicos ao longo de diferentes processos, da fisiologia e reprodutibilidade vegetal ao comportamento animal, incluindo padrões de migração, abrigo e dieta alimentar”, disse Galetti.
Determinadas mudanças nesses padrões podem levar a interrupções no funcionamento dos ecossistemas e, consequentemente, à degradação ambiental em prazos curtos ou médios. “No longo prazo, porém, as alterações podem significar alterações fenotípicas e até na estrutura genética de populações animais”, disse.
Para Galetti, os dados levantados pelo estudo indicam que é preciso identificar necessidades e apontar possíveis prognósticos, para haver tempo de adaptação a uma condição em que haja possivelmente menos espécies.
Composta em grande medida por espécies herbívoras e frugívoras, a fauna de médio e de grande porte tem animais importantes para a dispersão de sementes, que atuam no controle de plantas por meio da herbivoria e da predação de sementes.
Segundo Galetti, a caça ilegal tem reduzido consideravelmente a diversidade desses animais em distintas áreas nos trópicos, especialmente na Mata Atlântica, o que pode ter profundos efeitos na diversidade e na composição das espécies vegetais.
Com apenas 12% de floresta remanescente, a Mata Atlântica ainda possui até 8% das espécies de aves do mundo e altas taxas de endemismo.
Espécies relacionadas
Grandes migrações entre as populações de aves sugerem que a Euterpe edulis compartilha uma história evolutiva comum com essas aves, que são importantes agentes para a germinação dessa espécie de palmeira.
“Suas sementes são espalhadas por ação de regurgitação e defecação. Contudo, as evidências apontam para uma diminuição de espécies de aves com capacidade de colher grandes sementes, como tucanos, o que torna vulnerável a dispersão de sementes maiores, entre elas a da E. edulis”, disse Galetti.
Segundo os pesquisadores, a diferença entre as características de tamanho de sementes ocorre em razão de recentes mudanças causadas pelo crescente isolamento das florestas, cada vez mais fragmentadas.
O tamanho da semente estaria relacionado à perda de água e de germinação. Quanto maior a semente, menor a área de superfície exposta em proporção ao volume. Isso agravaria o problema, visto que as sementes não germinam com menos de 20% de sua superfície exposta à água.
“A defaunação cria um novo regime de seleção para a evolução de plantas no antropoceno. Essas mudanças podem até passar despercebidas, mas são capazes de levar várias espécies à extinção em cenários climáticos futuros”, disse Galetti.
A pesquisa foi apresentada no painel sobre biodiversidade, que contou também com apresentações dos pesquisadores Maritta Koch-Weser, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), Erin Sills, da North Carolina State University, e Daniel Janies, da University of North Carolina-Charlotte.
Brazilian Nature
Ainda sobre o tema biodiversidade, a FAPESP Week North Carolina contou com a exibição da exposição Brazilian Nature – Mystery and Destiny em dois locais distintos.
A primeira delas foi aberta na James B. Hunter Library, no Institute of Emerging Issues da NCSU, em Raleigh, onde ficará exposta no saguão principal até o dia 20 de novembro. A segunda mostra foi aberta no dia 13 de novembro, na Student Union da University of North Carolina-Charlotte.
Com 37 painéis, a exposição retrata o trabalho do naturalista alemão Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) e permite comparar as imagens originais feitas no século 19 com fotografias atuais de plantas e biomas, entre elas algumas feitas durante pesquisas realizadas no âmbito do projeto Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo e do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (BIOTA-FAPESP). Os painéis digitalizados da exposição podem ser vistos com legendas em português, inglês, espanhol, japonês e alemão no endereço: http://www.fapesp.br/publicacoes/braziliannature