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Fome voltou a avançar no mundo em 2016, diz ONU

Segundo o relatório, o aumento de 38 milhões de pessoas que sofrem fome é devido em "grande parte" à proliferação de conflitos e os fenômenos climáticos

Fome: no total, 155 milhões de crianças menores de 5 anos sofrem um déficit de crescimento por causa da fome (Daniel Berehulak/Getty Images)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 15 de setembro de 2017 às 09h19.

Última atualização em 15 de setembro de 2017 às 12h31.

Depois de mais de uma década de queda, a fome no mundo volta a aumentar e atinge de novo a América do Sul, continente que era considerado como o local de "vanguarda" na erradicação do problema.

Dados publicados pela ONU revelam que 815 milhões de pessoas hoje passam fome no mundo, 11% da população. Sem citar textualmente o nome do Brasil, José Graziano, diretor-geral da FAO e ex-ministro do governo Luiz Inácio Lula da Silva, criticou "governos sul-americanos" que tem retirado proteções sociais por conta de problemas fiscais.

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O informe aponta que a proliferação de conflitos armados, mudanças climáticas e a recessão econômica seriam os principais motivos para esse aumento.

Entre 2015 e 2016, as entidades acreditam que o número de famintos aumentou em 38 milhões de pessoas. A última vez que um crescimento havia sido registrado foi em 2002. A fome ainda afeta 155 milhões de crianças que, diante da falta de alimentos, são mais baixas e menos desenvolvidas para sua idade.

Esse é o primeiro informe mundial sobre a fome depois que a ONU adotou como meta erradicar a fome até 2030 no planeta. O aumento do problema, porém, revela que o desafio pode ser maior que o que se previa.

De acordo com o informe, um dos aspectos que pesou foi a recessão econômica, principalmente na América do Sul. A região, pela primeira vez em mais de uma década, registrou o aumento da fome.

Em 2013, 4,7% da população da região era considerada como desnutrida. Em 2015, a taxa já tinha subido para 5%. Um ano depois, o total chega a 5,6%. "Existem sinais de que a situação pode estar se deteriorando, principalmente na América do Sul", aponta o informe.

Mesmo estando distante da taxa de 12,2% em 2000, a situação preocupa. Para Graziano, tiveram impacto questões como a "desaceleração do crescimento, o desemprego, a queda do salário mínimo e a deterioração das proteções sociais". "Talvez vamos ver a volta da fome de locais onde estava erradicada", alertou.

Sem citar textualmente o Brasil, ele alertou para a resposta de governos da região. Segundo ele, enquanto houve crescimento econômico, países montaram redes sociais. "Com a crise, elas foram retiradas. Era para ter feito o contrário. Mas alegaram que não tinham condições econômicas para fazer isso", criticou.

Segundo ele, esses países foram afetados pelos preços de commodities em baixa que, como consequência, atingiu o pequeno agricultor e a receita fiscal do estado para manter os programas de ajuda.

No caso do Brasil, as entidades apontam no informe que a fome atingia 4,5% da população em 2004-2006, cerca de 8 milhões de pessoas. Em 2014-2016, ela seria de menos de 2,5%.

Mas um documento enviado para a ONU há cerca de um mês e preparado por 20 entidades nacionais e internacionais alertou que existe um risco de que, para 2017, o País volte a fazer parte do Mapa da Fome.

"A América Latina foi afetada pela queda nos preços de commodities, arrecadação e crescimento. É sintomático que o panorama mostre aumento de fome na América do Sul, que era a região que ia mais adiante no combate", insistiu.

Por enquanto, porém, o aumento mais significativo da fome foi registrado na Venezuela, país que havia sido premiado por Graziano por seu combate ao problema.

A taxa da população que sofre com a desnutrição passou de 10,5% para 13%, entre 2005 e 2014. Isso significou um salto de 2,8 milhões para 4,1 milhões de pessoas afetadas. Os números sequer incluem ainda a situação de 2017 e o caos político e econômico no país.

No total, a América Latina conta com 42 milhões de pessoas que passam fome, contra 520 milhões na Ásia e 243 milhões na África. Em termos percentuais, a América Latina registra 6,6% de sua população com algum grau de insegurança alimentar. Na África, a taxa é de 20%.

No que se refere à má nutrição severa, o problema passou a atingir 38 milhões de latino-americanos em 2016, contra 27 milhões em 2014.

Somando o critério de "insegurança alimentar" de uma forma mais geral, o informe também destaca que o problema passou a atingir 6,4% da população latino-americana, contra 4,7% em 2013.

Conflitos

Na avaliação da ONU, parte da explicação também está na explosão de conflitos regionais pelo mundo. De acordo com os especialistas de agências como a FAO, OMS e Unicef, o maior número de vítimas da fome está justamente nessas regiões de conflito armado.

Sudão do Sul, Nigéria, Somália, Iêmen e Síria estão entre os principais focos da fome. Dos 815 milhões de famintos no mundo, 489 milhões deles vivem em zonas de conflitos.

Mas o aumento da fome também estaria relacionado com o impacto das mudanças climáticas. "Mesmo em regiões mais pacíficas, secas e enchentes ligadas ao fenômeno do El Nino, assim como a desaceleração econômica mundial, também tiveram um impacto na segurança alimentar", apontam.

"Voltamos aos níveis que existiam no mundo em 2012 no que se refere à fome", lamentou Graziano. "De cada nove pessoas no mundo, uma vai para cama com fome e isso apenas dois anos depois de o mundo se comprometer a acabar com a fome em 2030", alertou.

Obesidade

Se a desnutrição é um problema, as agências também apontam para um aumento inédito da obesidade no mundo. Hoje, são 641 milhões de adultos nesta situação, o equivalente a 13% da população com mais de 18 anos. Outras 41 milhões de crianças com menos de cinco anos também são consideradas como obesas.

Os dados mostram que a taxa de obesidade no mundo mais que dobrou entre 1980 e 2014, atingindo em especial a América do Norte e Europa. Nessas regiões, 28% dos adultos são considerados como obesos, contra 25% na América Latina, 11% na África e 7% na Ásia.

No Brasil, os dados apontam para um aumento significativo da obesidade, passando de 15,3% da população em 2005 para 20,8% em 2014.

Em números absolutos, 30 milhões de brasileiros são afetados pelo problema. Há uma década, a obesidade atingia 19 milhões de pessoas no País. No Brasil, a anemia entre mulheres com idade reprodutiva ficou praticamente estável, passando de 27,5% para 27,2%.

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