O resgate deve chegar a um total de 80 bilhões de euros e qualquer atraso pode forçar outras formas de financiamento da dívida (Jamie McDonald/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 18 de abril de 2011 às 10h44.
Lisboa - Uma fase crucial das negociações do resgate financeiro de Portugal começou mal nesta segunda-feira, quando um partido anti-euro da Finlândia que prometeu barrar a operação obteve grandes vitórias em uma eleição.
Os bônus da dívida portuguesa atingiram um novo recorde no início das transações, também influenciados pela conversa sobre uma reestruturação da dívida grega, que Atenas novamente negou.
Representantes da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional estão em Lisboa para estabelecer os termos do que seria o terceiro resgate financeiro na zona do euro em um ano após os acordos multibilionários com a Grécia e a Irlanda.
Eles examinaram as contas públicas de Portugal na semana passada e nesta segunda-feira iniciaram as discussões de políticas com o governo interino. A delegação do FMI é encabeçada pelo dinamarquês Poul Thomsen, que supervisionou as conversas do resgate financeiro na Grécia.
As autoridades não fizeram comentários ao chegar ao Ministério das Finanças na Praça do Comércio de Lisboa - reminiscência da grandeza imperial portuguesa de outrora.
O resgate deve chegar a um total de 80 bilhões de euros.
O objetivo é delinear um plano de reforma econômica radical -- incluindo privatizações, reformas no mercado de trabalho e medidas para blindar bancos frágeis -- até meados de maio, poucas semanas antes de o governo enfrentar uma profunda quebra de fundos e a eleição decisiva do dia 5 de junho.
Independentemente de como as conversas caminharem, o país está diante de uma nova ameaça de um companheiro da zona do euro situado a cerca de 3 mil quilômetros ao norte.
Em uma eleição realizada no domingo, o partido eurocético Verdadeiros Finlandeses obteve grandes vitórias e um disputado terceiro lugar, podendo agora se ver em condição de bloquear ou pelo menos complicar o resgate financeiro de Portugal se fizer uma coalizão com o próximo governo em Helsinque.
"O pacote que está lá -- não acredito que permanecerá", disse Timo Soini, líder do Verdadeiros Finlandeses.
Niels From, analista-chefe da Nordea, disse que "há um apoio crescente aos partidos eurocéticos, e isto pode tornar os líderes da UE um pouco mais cautelosos para seguir adiante nas tentativas de negociação para solucionar a crise da dívida".
"Isto está enfraquecendo o poder de fogo do sistema do euro", acrescentou.
Pode levar semanas até que se saiba se o partido Verdadeiros Finlandeses pode concretizar sua ameaça, mas seu sucesso na eleição apresenta um risco potencial enorme para Lisboa, que declarou que em junho ficará sem fundos para manter o país funcionando.
Qualquer atraso na aprovação do resgate financeiro para depois de meados de maio pode obrigar os líderes europeus a buscar às pressas outros meios para bancar Portugal, país de 10,5 milhões de habitantes que vinha sendo alvo de investidores durante a crise da zona do euro por conta de seus altos níveis de endividamento e uma economia pouco competitiva.
Mesmo antes do pleito na Finlândia, Portugal enfrentava obstáculos políticos significativos para selar um acordo com a UE e o FMI.
O primeiro-ministro José Sócrates está atuando em caráter interino desde que renunciou no mês passado após a rejeição de seu mais recente plano de austeridade fiscal por parte de partidos de oposição no parlamento.
Com a eleição marcada para 5 de junho, o acordo de resgate precisa ser aprovado não somente por seu governo, mas pelo principal partido opositor, os Sociais Democratas (PSD), que lideram as pesquisas para o pleito.