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Figura de Chávez marca campanha eleitoral venezuelana

O atual presidente interino, Nicolas Maduro, apresenta-se como herdeiro de Chávez e como o único capaz de continuar com sua obra

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2013 às 19h59.

Caracas - Um mês depois da morte do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, sua imagem se transformou na figura dominante da campanha para as próximas eleições no país, e a oposição tenta lutar contra esse "fantasma".

Para poder "seguir com seu legado", o movimento chavista evoca diariamente seu líder nos grandes atos eleitorais e mantém sua figura viva na imprensa local, sobretudo na televisão, que continua a veicular o famoso programa dominical "Alo Presidente" e coloca as eleições como amostra de lealdade à Chávez.

Os atos de campanha do presidente interino, Nicolás Maduro, costumam começar com uma gravação do hino venezuelano, cantado pelo homem que governou o país durante os últimos 14 anos, seguida por gritos de "Chávez vive", entoados pelos seus seguidores, muitos dos quais vestem camisas com os olhos do líder que morreu em março, vítima de um câncer na região pélvica.

"O fantasma de Chávez está muito presente na disputa. É uma campanha muito singular, cujo cronograma coincide, propositalmente, com o período de luto", disse à Agência Efe a analista política Carmen Beatriz Fernández, diretora da empresa de consultoria Dataestrategia.

No dia 8 de dezembro de 2012, Chávez indicou Maduro como seu sucessor antes de ir à Cuba para ser operado. O atual presidente interino, então, se apresenta - durante discursos infestados de menções a seu mentor - como seu herdeiro e como o único capaz de continuar com a obra de Chávez.

As alusões são tantas que até foi criado um site que conta as vezes em que Maduro cita Chávez. Segundo a página "Madurodice.com", o candidato do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) mencionou o falecido governante 5.758 vezes desde que o dia 5 de março, quando anunciou a morte de seu chefe político.

Em meio ao culto da figura do presidente morto, Maduro garantiu que nesta semana Chávez apareceu para ele em forma de "passarinho" e que chegou a sentir seu espírito. A declaração virou motivo de piada e recebeu muitos comentários irônicos nas redes sociais.


"Maduro tenta surfar sobre a onda emocional gerada pela morte de Chávez, que impactou todo o país. O que o candidato do PSUV faz é se mostrar como "o herdeiro". Ele diz ao eleitorado que o último pedido de Chávez deve ser atendido", afirma Carmen.

A dez dias das primeiras eleições presidenciais sem a presença de Chávez em 14 anos, Maduro e seu adversário, Henrique Capriles, correm contra o tempo para demonstrarem que são a melhor opção para governar o país.

Capriles tem que lutar contra a lembrança de Chávez, que morreu com uma popularidade de aproximadamente 70%, cinco meses após conseguir se reeleger pela terceira vez, com 55% dos votos.

Em sua campanha que percorre toda a Venezuela, o candidato do partido opositor Mesa da Unidade Democrática (MUD) repete diariamente que "Maduro não é Chávez" e critica duramente o adversário, diferente da estratégia adotada nas eleições de outubro de 2012, quando evitava confrontar o presidente morto.

"As lideranças não são herdadas, mas construídas junto com o povo", disse Capriles durante um ato de campanha no estado de Barinas, onde Chávez nasceu.

Pesquisas realizadas nos últimos dias apontam entre 10 e 20 pontos percentuais de vantagem para Maduro, mas, segundo os analistas, a ausência de Chávez representa um elemento de incerteza que é difícil de ser avaliado.

"É uma situação complexa, são 14 anos de decisões associadas a uma vontade, a um único carisma. Após o luto, o país continuará igualmente dividido, já que os principais problemas Chávez não levou consigo", afirmou o analista político Xavier Rodríguez, diretor do Entorno Parlamentar.

O luto por Chávez deixou em segundo plano a discussão de temas cotidianos como a falta de segurança e a escassez de produtos básicos. A Venezuela apresenta a taxa de homicídios mais alta da América do Sul e uma das maiores inflações do mundo.

"O luto por Chávez tinha dominou a agenda, mas depois devem começar a surgir outros temas, como a economia e a insegurança", garantiu Carmen.

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