O atual chefe das Farc, Rodrigo Londoño Echeverry, conhecido como Timochenko, em foto de 2008. (AFP)
Da Redação
Publicado em 14 de setembro de 2012 às 21h33.
Bogotá - As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) vão comparecer à mesa de negociações com o governo colombiano sem conseguir uma interrupção nas operações das forças de segurança, que só serão suspensas assim que as partes chegarem a um acordo final de paz.
''Aqui não muda nada, porque dissemos a esses senhores (os rebeldes) que só haverá uma suspensão das operações uma vez que cheguemos a um acordo final'', afirmou nesta sexta-feira o presidente Juan Manuel Santos na cidade de Popayán, capital do departamento de Cauca.
O governante manteve a sua postura contrária à exigência das Farc de se chegar ao processo de paz com uma declaração de cessar-fogo bilateral.
Os guerrilheiros, que no passado não aceitaram suspender as hostilidades em outras tentativas de acordos de paz, consideraram conveniente que desta vez se chegue à mesa de negociações com uma suspensão prévia do conflito.
Algo que não é compartilhado por Santos, apesar dos clamores por um cessar-fogo, sobretudo nas regiões mais afetadas pelo confronto.
''Convém a todos nós (...) chegar a esse acordo final'', reconheceu Santos, que, anteriormente, tinha descartado uma representação regional no diálogo incipiente, como tinha feito antes com a participação de setores como o das vítimas.
Cada vez mais otimista sobre a possibilidade da paz, Santos esclareceu que ''não se trata de adiar o processo da busca pelo fim do conflito'', mas de tentar finalizá-lo ''de uma vez por todas''.
Foi uma mensagem clara à equipe governamental que participará da negociação, pois, de acordo com a vontade do presidente, o acordo de paz com as Farc deverá estar pronto em meses, não em anos.
Santos os advertiu desde o início de setembro, quando revelou que o Executivo tinha chegado a um consenso com os rebeldes em Havana para pôr fim ao conflito interno.
As partes assinaram o acordo no último dia 26 de agosto após ''conversas exploratórias'' de seis meses, sempre na capital cubana, que será a sede permanente da mesa de negociações.
Para o governo, a missão ficou nas mãos de uma equipe liderada pelo ex-vice-presidente Humberto de la Calle (1994-1996).
De la Calle terá a companhia dos generais reformados Jorge Enrique Mora, do exército, e Óscar Naranjo, da polícia, assim como o presidente da Associação Nacional dos Empresários (Andi), Luis Carlos Villegas; o assessor para a segurança nacional Sergio Jaramillo, e o ex-ministro e ex-comissário de paz Frank Pearl.
As Farc decidiram o grupo que vai representar a organização nas negociações ontem em Cuba, país que vai mediar às negociações juntamente com a Noruega, tendo Venezuela e Chile como observadores.
O segundo no comando das Farc, ''Ivan Márquez'', lidera a equipe, juntamente com ''Rodrigo Granda'', ''Marco León Calarcá'', ''Andrés Paris'' e ''Simón Trinidad'', que cumpre pena de 60 anos de prisão por sequestro nos Estados Unidos.
O ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010) - antigo correligionário de Santos - não concorda que seu sucessor tenha assumido o processo de paz e fez hoje novas críticas às negociações entre as Farc e o governo colombiano.
Uribe rejeitou a presença de oficiais reformados entre os negociadores do Executivo, assim como o início do diálogo sem a ''suspensão prévia das atividades criminosas'' por parte dos insurgentes, em uma entrevista para a emissora ''Blu Radio''.
O ex-mandatário também não aceita que os delegados rebeldes sejam pessoas com pendências judiciais, inclusive, pedidos de extradição por tráfico de drogas e sequestro nos Estados Unidos e no Paraguai.
É ''gravíssimo'', apontou o ex-presidente colombiano, que mencionou o caso de ''Granda'', o ''Chanceler'' das Farc, capturado em Caracas por ordem sua em dezembro de 2004, quando o mesmo participava de um ato político que, segundo ele, contava com a ''permissividade'' e o ''patrocínio'' do presidente venezuelano, Hugo Chávez.
O guerrilheiro foi libertado em meados de 2007, por ordem de Uribe, depois de uma solicitação do então governante francês, Nicolas Sarkozy, para facilitar a libertação da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, que também tem nacionalidade francesa e que na época era refém das Farc.
Ingrid estava em um grupo de políticos e agentes de segurança pública que foram sequestrados com a finalidade de serem trocados por rebeldes presos, e foi resgatada em meados de 2008 junto com três americanos e 11 militares e policiais colombianos.