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Falta de boias de tsunami ainda expõe milhões de pessoas

Dez anos após o tsunami que matou mais de 220 mil pessoas, ainda há falhas como falta de boias que detectam tsunamis, sirenes e cursos aos moradores


	Pessoas deslocadas pelos tsunamis caminham em meio às ruínas em 4 de Janeiro de 2005, em Banda Aceh, na Indonésia
 (Getty Images)

Pessoas deslocadas pelos tsunamis caminham em meio às ruínas em 4 de Janeiro de 2005, em Banda Aceh, na Indonésia (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 24 de dezembro de 2014 às 09h22.

O tsunami que levou a esposa e dois filhos do funcionário de museu Akram bin M. Thaib chegou sem aviso. Uma década depois, ele diz que estaria melhor preparado se a situação se repetisse.

“Eu olharei as formigas”, disse Akram, 54, em sua casa em Banda Aceh, capital da província de Aceh, no norte da Indonésia. “Se as formigas do chão começarem a subir para o telhado, isso significa que em três dias virá uma inundação”.

Pode não ser tão louco quanto parece. Cientistas estudaram o comportamento das formigas para saber se ele é um indicador precoce de terremotos.

Além disso, 10 anos depois de um tremor submarino provocar ondas que mataram mais de 220.000 pessoas em 12 países, em alguns lugares as formigas podem ser a única forma de previsão.

Entre as falhas no sistema de alerta estão a ausência de boias que detectam tsunamis, sirenes insuficientes para soar o alarme e a necessidade de o sistema educativo ensinar as pessoas a agirem nesses casos. Em lugares como Banda Aceh, onde os moradores provavelmente têm apenas 20 minutos para evacuar para terrenos mais elevados no interior, cada segundo conta. A falta de qualquer alerta em 2004 contribuiu para que mais de 160.000 pessoas morressem em Aceh.

Houve algumas melhorias desde que ondas de até 15 metros desencadeadas por um terremoto de magnitude 9,1 pegou de surpresa milhões de moradores da região banhada pelo Oceano Índico. Em 2005, foi formado um grupo de coordenação intergovernamental na região para alertar a respeito de um tsunami.

O Sri Lanka e a Tailândia estão melhor preparados para alertar sua gente, enquanto na Índia e na Indonésia está menos claro de que forma aqueles que moram ao nível do mar receberão a mensagem de evacuação, estágio final da cadeia de alertas que os especialistas chamam de “última milha”.

‘Existem lacunas’

“Embora a implementação do Sistema de Alerta de Tsunami do Oceano Índico seja um grande passo, o alcance da ‘última milha’ continua sendo o desafio da região”, disse Sanjay Kumar Srivastava, assessor regional para redução de risco de desastres da Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia e o Pacífico, em Bangkok. “Podem existir lacunas no nível de preparação local, inclusive relacionadas à disseminação de alertas”.

A Indonésia fica para trás. Embora existam seis sirenes em Banda Aceh, o restante da província -- espalhada por 58.380 quilômetros quadrados, quase o tamanho do estado americano de Virgínia Ocidental -- não possui nenhum.

O país-arquipélago possui 39 sirenes de tsunami e são necessárias pelo menos 1.000, segundo Sutopo Purwo Nugroho, porta-voz da Agência Nacional de Mitigação de Desastres Naturais da Indonésia.

Estão faltando também outros equipamentos essenciais. Em 2006, a Indonésia empregou boias marinhas para capturar e transmitir qualquer mudança no fundo do oceano após um terremoto, para prever a chegada de um tsunami. Apenas três das 29 instaladas ainda estão ativas, disse Ridwan Djamaluddin, representante de tecnologia de desenvolvimento de recursos naturais da Agência para Avaliação e Aplicação de Tecnologia. O restante foi alvo de vandalismo, quebrou ou desapareceu.

“Em termos ideais, quanto mais boias, melhor a retransmissão da informação”, disse Djamaluddin. O país do Sudeste Asiático, que além das boias tem dois cabos experimentais de tsunâmetro, também recebe dados em tempo real de aparelhos similares usados por outros países, disse ele.

Boias oceânicas

Ao redor do Oceano Índico, entre a Índia, a Tailândia e a Indonésia, agora há nove tsunâmetros nas profundezas do oceano, contra nenhum uma década atrás. Esses aparelhos consistem em gravadores de pressão colocados no fundo do oceano que transmitem dados para uma boia na superfície, que se comunica via satélite. Mais de 100 indicadores costeiros do nível do mar medem qualquer mudança, contra quatro existentes antes.

A Indonésia é o país mais próximo do cinturão de terra mais suscetível a terremotos subterrâneos. Isso dá ao país com a quarta maior população do mundo no máximo 30 minutos para a retirada de pessoas que moram na beira da praia, segundo Andy Eka Sakya, diretor da Agência Meteorológica, Climatológica e Geofísica do país, em Jacarta.

Na Indonésia, são necessários cinco minutos para dar um alerta de tsunami, tempo que o país busca reduzir para um minuto, disse Muhammad Nasir, ministro de Pesquisa e Tecnologia. Uma vez que o alerta é emitido as autoridades locais são responsáveis por realizar um pedido de evacuação.

Depois que mais de 8.000 pessoas morreram ou desapareceram na Tailândia, o país fortaleceu seu Centro Nacional de Alerta contra Desastres. O país, onde alguns lugares foram atingidos por ondas quase duas horas depois do terremoto, em 2004, confia em três boias de tsunami no Mar de Andaman, uma perto das Ilhas Similan, ao largo de sua costa oeste, além de nove estações de medição de maré e alertas de outros países para enviar seus próprios avisos de tsunami.

Torres de alerta

Esses alertas são enviados na forma de mensagens SMS para mais de 20 milhões de telefones celulares, uma cadeia televisiva nacional, um call center com oito linhas diretas, seu site e uma rede de 328 grandes torres de alerta em todo o país. Além disso, funcionários do governo local acionam 654 torres menores e enviam alertas para 1.590 rádios especiais monitoradas por autoridades das cidades.

A província de Phang Nga, no sudeste da Tailândia, entre as mais afetadas no fenômeno de uma década atrás, tem 18 torres de alerta. Isso não inspira a confiança dos moradores de Ban Nam Khem, localizada ao norte dos resorts internacionais de Khao Lak. Mais de 900 pessoas morreram e 400 desapareceram na cidade em 2004.

O Sri Lanka foi o segundo país mais severamente atingido depois da Indonésia em 2004, quando mais de 35.000 pessoas morreram e um em cada 20 moradores teve que se mudar. A ilha estabeleceu um sistema de disseminação de alertas que depende de seus vizinhos e da rede regional para dar o primeiro alerta. Essa informação é retransmitida a distritos locais que usam alto-falantes, sirenes, mensageiros, corredores e a polícia, segundo Pradeep Kodippili, porta-voz do Centro de Gerenciamento de Desastres.

Exercícios nacionais

Há 77 torres de aço com 18 metros de altura espalhadas pelos 1.340 quilômetros de costa da ilha, equipadas com sirenes e gravadores de voz, que funcionam com energia solar. As torres, ativadas pelo Centro, em Colombo, são verificadas e testadas todas as semanas, disse Kodippili. O país realiza exercícios nacionais pelo menos três vezes por ano e leva cerca de 45 minutos para evacuar as pessoas.

Até mesmo a previsão de um tsunami de poucos centímetros de altura pode ser realizada, segundo M.A. Atmanand, diretor do Instituto Nacional de Tecnologia Oceânica, com sede em Chennai, que distribui e faz a manutenção das boias.

Boias danificadas

O desafio para Atmanand e sua equipe é garantir que as boias sejam mantidas em condições de operar. O instituto começou a educar os pescadores a respeito da importância das boias depois que eles começaram a ser alvo de vandalismo ou de danos. Todos os anos, cerca de 10 por cento das boias de dados de todo o mundo são perdidas devido ao vandalismo, segundo o site da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA.

As boias são danificadas devido ao roubo de peças ou quando os pescadores amarram seus barcos nelas para atirarem suas redes porque o aparelho atrai peixes. Às vezes, inadvertidamente, os navios as atropelam.

“Antes eu não acreditaria se as pessoas gritassem que a água estava subindo. Mas agora nós sabemos, nós podemos nos preparar”, disse Akram. “Temos as formigas e confiamos nas orações”.

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