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Explosões em Beirute, a catástrofe que faltava para os libaneses

Explosão no porto deixou Beirute com hospitais saturados, milhares de pessoas sem moradia e com risco de desabastecimento de alimentos

Líbano: ao menos 100 pessoas morreram após explosão no porto de Beirute (Patrick Baz/AFP Photo)

Líbano: ao menos 100 pessoas morreram após explosão no porto de Beirute (Patrick Baz/AFP Photo)

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AFP

Publicado em 5 de agosto de 2020 às 10h45.

Última atualização em 5 de agosto de 2020 às 16h19.

Para os libaneses que assistiam desamparados o colapso de seu país, vivendo as consequências de uma precarização nova para eles, as explosões mortais e devastadoras na terça-feira no porto de Beirute são a catástrofe que faltava.

Há vários meses, cada vez mais libaneses afetados pelo colapso econômico se voltam para organizações humanitárias, que atendem principalmente os dois milhões de refugiados sírios e palestinos que vivem no país.

Mas depois das explosões de terça-feira no porto, que destruíram casas e deixaram milhares de pessoas nas ruas, as ONGs temem o pior.

"É como um terremoto. Trabalho no Líbano há 47 anos e nunca vi nada parecido", diz o Dr. Kamel Mohanna, presidente fundador da Amel Association International.

Com hospitais saturados, três centros desta ONG libanesa na capital receberam dezenas de pacientes desde terça-feira.

Nos últimos meses, os libaneses da classe média, professores, funcionários públicos ou enfermeiros, sofreram com a queda histórica da moeda e o aumento dos preços, em um contexto de demissões em massa e cortes salariais.

Maya Terro, fundadora da Food Blessed, uma ONG libanesa de distribuição de alimentos, agora teme uma explosão de insegurança alimentar porque o porto é o principal ponto de entrada para produtos importados.

"O Líbano importa 80% de seus alimentos. A primeira coisa que pensei foi: 'prateleiras vazias nos supermercados e aumento de preços devido à escassez'", alertou.

Pedir esmola

A inflação da cesta básica disparou 109% entre setembro e maio, de acordo com o Programa Mundial de Alimentos (PMA).

Gaby costumava preparar churrascos em família, mas agora não tem escolha a não ser ir a uma ONG para obter arroz e macarrão.

"Tenho a impressão de pedir esmolas", diz o homem de 50 anos que mora nos arredores de Beirute.

Com a hiperinflação, não tem o suficiente para alimentar sua família.

Sua aposentadoria é de 1.600 dólares oficiais, mas apenas 300 no mercado negro. E o que ele ganha como motorista de táxi ou o salário como enfermeira de sua esposa não bastam.

"Nos privamos de muitas coisas", diz esse pai de quatro filhos. "Durante a semana, sempre tínhamos refeições à base de carne. Agora não há nada, nem mesmo frango".

Cerca de metade dos libaneses vive na pobreza, de acordo com estatísticas oficiais.

As dificuldades econômicas foram um dos catalisadores da revolta no final de 2019 contra políticos acusados de corrupção e incompetência.

O desastre foi amplificado pelo novo coronavírus e o confinamento imposto em março.

De acordo com uma pesquisa do PAM publicada em junho, duas em cada três famílias no Líbano viram sua renda cair e 42% dos pesquisados se endividaram para comprar comida ou pagar o aluguel.

Esta agência da ONU, que colabora com o governo, aumentará sua ajuda. Em 2020, apoiará 697.000 libaneses, em comparação com 140.000 em 2019, disse seu porta-voz Malak Jaafar à AFP.

A ONG Amel Association International já vinha registrando a chegada de libaneses a seus vinte centros no país, que oferecem principalmente serviços médicos.

"Em comparação com os anos anteriores, os primeiros três meses de 2020 tiveram um aumento de 30% no número de beneficiários libaneses", disse Mohammed Al-Zayed, coordenador do programa de saúde.

O mesmo acontece no Hospital Bar Elias da Médicos Sem Fronteiras (MSF), que oferece operações não urgentes e tratamento de feridas.

"Meu marido não encontra trabalho há muito tempo", explica Ihsane, de 30 anos, que veio para uma operação ginecológica que vinha adiando há quatro meses por falta de dinheiro.

"Tudo se tornou difícil, tudo é caro. Não podemos ter a mesma vida de antes", lamenta.

 

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