Jihadista do Estado Islâmico agita a faca momentos antes de executar refém (Ho/AFP)
Da Redação
Publicado em 29 de janeiro de 2015 às 15h35.
Amã - A Jordânia exigiu mais uma vez, nesta quinta-feira, uma prova de que seu piloto está vivo, antes de libertar a jihadista iraquiana que o grupo Estado Islâmico (EI) exige em troca do refém jordaniano e de outro japonês.
Em um vídeo, o EI ameaçou executar o piloto jordaniano Maaz al-Kassasbeh no pôr-do-sol desta quinta-feira em Mossul, reduto do grupo no norte do Iraque, caso a jihadista iraquiana Sajida al-Rishawi não fosse libertada. O ultimato expirou exatamente às 14H35 GMT (12h35 no horário de Brasília).
"Nossa posição, desde o início, é a de garantir a segurança e a libertação de nosso piloto para poder libertar a prisioneira Sajida al-Rishawi", declarou o porta-voz do governo jordaniano Mohammad Al-Momeni, afirmando que a iraquiana continua na prisão.
"Pedimos provas de que nosso piloto continua vivo, mas não recebemos nada até o momento", acrescentou Momeni pouco antes do fim do prazo dado pelos jihadistas
"Nós não tivemos nenhuma indicação de que ele ainda está vivo", disse à AFP o pai do piloto, Safi. O governo não nos diz nada sobre as negociações e eu não acredito que eles estejam levando o assunto a sério. Não há nada que possamos fazer além de esperar".
A advertência do EI em uma gravação transmitida via contas no Twitter vinculadas ao grupo, foi formulada em inglês por uma voz que é provavelmente a do refém japonês Kenji Goto, segundo Tóquio.
Na quarta-feira, a Jordânia declarou estar disposta a libertar Sajida al-Rishawi condenada à morte por seu envolvimento nos ataques em Amã, em 2005, mas alertou que esperaria a libertação de seu piloto. Desde então, o EI não mencionou uma possível libertação do jordaniano.
"Vitória moral"
Para Mohammed Abu Remmane, do Centro de Estudos Estratégicos da Universidade da Jordânia, a "libertação de Rishawi seria uma vitória moral para o EI, especialmente junto as tribos iraquianas que oferece ao grupo um terreno fértil" para propagação.
Segundo o centro americano de monitoramento de sites islâmicos (SITE), o grupo ultrarradical, que executou vários reféns, inclusive ocidentais, sequestrados na Síria, exige que Sajida al-Rishawi seja transferida para a fronteira sírio-turca.
No posto fronteiriço turco de Akçakale, em frente à cidade síria de Tall Abyad, sob controle do EI, cerca de cinquenta jornalistas, incluindo uma dezena de japoneses, esperam por uma possível troca.
Contudo, não há sinais de movimentação das forças de segurança turcas, apesar de uma presença notável de policiais e agentes à paisana.
Maaz al-Kassasbeh foi capturado em 24 de dezembro, após a queda de seu F-16 na Síria, onde realizava ataques aéreos contra posições do EI como parte da coalizão internacional antijihadista. Já o jornalista Kenji Goto foi capturado na Síria no final de outubro.
"Nossa prioridade é Maaz", reiterou o porta-voz das forças armadas em Amã.
"Nós faremos o nosso melhor para garantir a libertação do cidadão japonês", declarou, por sua vez, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe.
Jordânia em uma encruzilhada
O Japão, um dos principais credores da Jordânia, país para o qual forneceu 335,5 milhões de dólares desde 2007 em ajuda, tenta convencer Amã a ajudar a salvar Goto.
Os japoneses estão ainda sob o choque da execução de outro refém japonês, Haruna Yukawa, em um vídeo divulgado pelo EI em 24 de janeiro.
Ele foi sequestrado em agosto na Síria, antes de Goto partir em sua procura e ser igualmente capturado.
Para especialistas, a Jordânia está em uma encruzilhada: de um lado seu aliado japonês quer a liberação de seu cidadão, do outro lado seu aliado americano se recusa a ceder aos jihadistas, enquanto a população quer a liberação do piloto.
Após a execução do primeiro refém japonês, o EI ameaçou novamente na terça-feira executar Goto e o piloto, caso a iraquiana não seja libertada.
Após rumores sobre a libertação de Rishawi, dois jornalistas jordanianos foram presos por anunciarem falsamente a sua libertação no dia anterior, refletindo o nervosismo das autoridades.
O EI, cujas ações têm provocado uma onda de indignação internacional, ganhou impulso com a guerra na Síria e expandiu seu controle sobre grandes porções do território do país e no Iraque vizinho.
Acusado de crimes contra a humanidade, o grupo é alvo de ataques da coalizão liderada pelos Estados Unidos. O Japão tem afirmado repetidamente a sua determinação em combater o terrorismo, mesmo sem poder agir militarmente.