PROTESTOS EM SEUL: após escândalos, sul coreanos perderam a confiança na presidente Park Geun-hye / Chung Sung-Jun/Getty Images (Chung Sung-Jun/Getty Images)
AFP
Publicado em 27 de fevereiro de 2018 às 09h15.
A Procuradoria da Coreia do Sul pediu nesta terça-feira uma pena de 30 anos de prisão para a ex-presidente Park Geun-hye, destituída por um grande escândalo de corrupção que revelou ligações obscuras entre os mundos da política e dos negócios.
O impeachment de Park, 66 anos, foi aprovado pelo Parlamento em dezembro de 2016 e confirmado em março de 2017 pelo Tribunal Constitucional. Desde então, ela está em prisão preventiva.
"Solicitamos ao tribunal que pronuncie uma sentença de 30 anos de prisão e uma multa de 118,5 bilhões de wons (110 milhões de dólares) contra a acusada, que deve ser considerada culpada em última instância do escândalo enquanto 18º presidente Coreia do Sul", afirma um comunicado da Procuradoria lido no tribunal.
Os procuradores acusam Park de ter aceitado, em conluio com sua confidente Choi Soon-sil, subornos ou promessas de suborno no valor de 59,2 bilhões de wons por parte dos conglomerados industriais sul-coreanos Samsung, Lotte e SK, em troca de favores políticos.
A ex-presidente também é acusada de ter obrigado 18 empresas a "doar" um total de 77,4 bilhões de wons a duas fundações controladas por Choi Soon-sil.
No dia 13 de fevereiro, o tribunal do distrito central de Seul condenou Choi Soon-il a 20 anos de prisão por abuso de poder, corrupção e interferência em questões de Estado.
"A acusada abusou do poder que tinha para benefício pessoal da senhora Choi e o seu próprio", afirmou a Procuradoria.
"Violou os valores constitucionais fundamentais de proteção da economia de mercado e da liberdade democrática. Em consequência, a acusada se tornou a primeira presidente a ser afastada por impeachment, infligindo ao país uma cicatriz indelével", completa a nota dos procuradores.
Park, filha mais velha do ditador Park Chung-Hee, cresceu no palácio presidencial, onde seu pai comandou o país de 1961 até seu assassinato em 1979. Durante décadas foi considerada a "princesa" política do país.
Mas em um contexto de dificuldades econômicas e sociais, milhares de pessoas saíram às ruas para pedir sua renúncia após a revelação do caso.
Após a confirmação de seu afastamento pelo Tribunal Constitucional, ela perdeu a imunidade e foi indiciada.
O caso evidenciou as obscuras conexões entre as elites políticas e econômicas do país.
Os enormes conglomerados sul-coreanos ('chaebols'), dirigidos por famílias e com estruturas muito complexas, são o motor da economia do país.
Grupos como Samsung ou Hyundai tiveram papel crucial no "milagre" econômico dos anos 1960 e 1970, que transformou um país destruído pela guerra.
A Procuradoria acusa Park de "aliança com os chaebols, ao invés de com o povo" e de ter agravado "as relações insalubres entre os poderes políticos e econômicos".
No início de fevereiro, a justiça sul-coreana ordenou a libertação do herdeiro do grupo Samsung, Lee Jae-Yong, julgado no mesmo caso.
Desde outubro, a ex-presidente se recusa a comparecer às audiências e denuncia uma justiça parcial.
Sua queda provocou a antecipação da eleição presidencial para maio de 2017, vencida pelo candidato de centro-esquerda Moon Jae-in.