Ex-chefe da segurança diz que é "elo frágil" que serve para atacar Macron
Benalla, acusado de agredir manifestantes durante protestos no 1º de maio se fazendo passar por policial, falou pela 1ª vez sobre o caso após deixar o cargo
EFE
Publicado em 26 de julho de 2018 às 10h05.
Última atualização em 26 de julho de 2018 às 18h07.
Paris - O homem no centro da polêmica que sacode a França por estes dias, Alexandre Benalla, quebrou nesta quinta-feira o seu silêncio em entrevista, para se apresentar como o "elo frágil" do qual os inimigos do presidente Emmanuel Macron se servem para atacá-lo.
Benalla, acusado de agredir manifestantes no dia 1 de maio se fazendo passar por policial, afirmou em uma longa entrevista ao jornal "Le Monde" que entende que Macron se sinta "traído", embora tenha destacado que seus atos foram uma "grande estupidez e um erro político, mas não um crime".
"Houve em primeiro lugar uma vontade de atacar o presidente, isso é certo. E eu sou o elo frágil, o reconheço (...) As pessoas que vazaram esta informação são de um nível importante", disse Benalla.
A sua versão dos fatos coincide em muitos pontos com a divulgada nos últimos dias pelo Palácio do Eliseu.
Benalla se esforça por se apresentar como a vítima das invejas e os jogos de poder dentro das altas esferas, que observavam com receio a proximidade ao presidente de um jovem alheio às elites da política ou da segurança.
"A verdade é que a minha nomeação chegou aos narizes de muita gente. Porque um garoto de 25 anos, que não tinha estudado na ENA (celeiro dos altos funcionários do Estado), que não era subprefeito (...) Sou o extraterrestre do bando!", afirmou o agente de segurança de Macron.
Benalla atacou duramente os sindicatos de Polícia, que denunciaram que ele tratava os agentes com desprezo e displicência: "Só dizem tolices".
Benalla explicou que sua missão no Elideu era "se ocupar dos assuntos privados do presidente, porque tem uma vida normal além das suas funções, com Brigitte Macron, a de um francês normal. Vai ao teatro, ao restaurante, sai de férias".
Em relação a outro dos aspectos polêmicos que rodearam o caso, a sua permissão para portar armas, disse que a Polícia, após examinar seu pedido, o autorizou a adquirir uma pistola Glock e a portá-la no exercício de sua função.
Embora tenha reconhecido que "nunca" deveria ter ido à manifestação como observador, colocou a responsabilidade no oficial da Polícia Laurent Simonin - também acusado no caso -, de quem partiu a iniciativa, segundo ele, de convidá-lo a tomar parte.
Relatou que no dia seguinte da manifestação, o diretor de gabinete de Macron, Patrick Strzoda, o chamou para pedir-lhe explicações, e que aí se deu conta de que tinha cometido um erro, embora tenha se mostrado insatisfeito com a sanção de 15 dias sem cargo e salário que lhe impôs.
"Alguns dias depois do meu regresso, por ocasião de um evento no Palácio do Eliseu, (Macron) me chamou e disse: 'É um erro grave, vai ser complicado e é preciso assumi-lo'. Me explicou que isso não tira a confiança que tem em mim, mas que tinha feito uma grande bobagem".