Combatente talibã monta guarda perto do local do atentado do Estado Islâmico no aeroporto de Cabul (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 28 de agosto de 2021 às 16h55.
Os Estados Unidos mataram neste sábado, 28, dois alvos importantes do grupo extremista Estado Islâmico (EI) no Afeganistão em ataque com um drone, apenas dois dias depois do sangrento atentado em Cabul, enquanto no aeroporto as retiradas se aproximam do fim.
"Posso confirmar que dois alvos importantes do EI morreram e outro ficou ferido" no ataque lançado no sábado de fora do Afeganistão, disse o general americano Hank Taylor.
O porta-voz do Pentágono, John Kirby, se negou a explicar se os alvos do ataque estiveram envolvidos diretamente no atentado de quinta-feira no aeroporto, que deixou mais de cem mortos, inclusive 13 militares americanos.
"São organizadores e operadores do EI-K, essa é razão suficiente", respondeu o porta-voz em coletiva de imprensa.
Este atentado foi reivindicado pelo grupo Estado Islâmico no Khorasan, braço da organização que opera no Afeganistão e no Paquistão.
Depois do ataque em Cabul, a crise mais grave da Presidência de Joe Biden, o presidente americano prometeu represálias.
O ataque foi o golpe mais mortal contra o exército americano no Afeganistão desde 2011.
O risco de atentados persiste, segundo Washington. "Ainda acreditamos que há ameaças específicas e confiáveis", advertiu Kirby na sexta.
A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, informou que outro ataque é "provável" e que os próximos dias serão "o período mais perigoso até hoje".
Várias mensagens contraditórias de talibãs e americanos acentuaram a tensão até a data limite de 31 de agosto, prevista para encerrar a retirada das tropas estrangeiras do Afeganistão após 20 anos de guerra.
Por meio de seu porta-voz, Bilal Karimi, os talibãs reivindicaram o controle de "três importantes setores da parte militar do aeroporto" de Cabul.
Pouco depois, o porta-voz do Pentágono negou que os talibãs estivessem "a cargo de nenhum de seus portões", nem "nenhuma das operações do aeroporto".
A incógnita persiste sobre como os últimos candidatos à retirada de Cabul vão sair.
"Temos listas dos americanos (...) Se seu nome está na lista, pode atravessar" os postos de controle até o aeroporto, afirmou um encarregado talibã à AFP perto do terminal de passageiros.
Os voos de repatriação fretados pelas potências ocidentais retomaram sua atividade, embora segundo o chefe das forças armadas britânicas, o general Nick Carter, restem muito poucos voos.
A Grã-Bretanha concluiu suas operações aéreas neste sábado. Em terra ficarão 150 britânicos e entre 800 e 1.000 afegãos, explicou o general, que reconheceu que esta decisão é "dolorosa".
A França já iniciou contatos com o Catar, que mantém canais de comunicação com os talibãs, para prosseguir com as retiradas após 31 de agosto, informou o presidente Emmanuel Macron durante uma conferência no Iraque.
A chanceler alemã, Angela Merkel, conversou com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o holandês, Mark Rutte, para analisar os próximos passos das retiradas.
No aeroporto de Cabul ainda há cerca de 5.400 pessoas esperando para embarcar em um avião, disse o general americano Hank Taylor, destacando que as retiradas serão mantidas "até o último momento".
Quase 112.000 pessoas foram evacuadas desde 14 de agosto, véspera da entrada dos talibãs em Cabul, segundo os números mais recentes do governo americano.
Após sua volta ao poder, os talibãs tentam transmitir uma imagem de abertura e moderação. Mas muitos afegãos temem uma repetição do regime fundamentalista e brutal que impuseram entre 1996 e 2001.
Há um temor especial pela situação das mulheres, que sob o regime anterior não podiam nem trabalhar, nem estudar.
Na tentativa de aplacar este temor, um representante talibã assegurou que as mulheres têm o "direito inato" de trabalhar.
"Podem trabalhar, podem estudar, podem participar da política e fazer negócios", assegurou Sher Mohammad Abbas Stanikzai, que foi negociador dos islamitas nos frustrados diálogos de paz de Doha.
Os que conseguiram fugir têm uma visão diferente.
"Meu marido trabalhava para a embaixada americana. Eles (os talibãs) teriam nos matado se tivéssemos ficado", explicou em inglês Wazhma à AFP em uma instalação americana nos Emirados Árabes Unidos, horas antes de pegar um avião rumo aos Estados Unidos.
"Fugimos com a roupa do corpo. Nada mais", afirmou.
Perguntada se alguma vez voltaria ao seu país, Wahzma riu e disse: "Nunca, exceto se os talibãs forem embora".