Praça Tahrir, no Cairo: protestos no Egito pegaram de surpresa os EUA (John Moore/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 17 de fevereiro de 2011 às 15h02.
Washington - As agências de inteligência dos Estados Unidos enfrentaram nesta quarta-feira duros questionamentos de legisladores no Congresso, por causa da falta de conhecimento delas sobre os pontos de vista e intenções da Irmandade Muçulmana no Egito.
Os chefes da inteligência esforçaram-se para responder às perguntas sobre a agenda deste movimento islâmico, em meio às acusações de que a revolta no Egito, que forçou a queda na semana passada do presidente Hosni Mubarak, pegou-os desprevenidos.
O diretor da Inteligência Nacional, James Clapper, disse em uma audiência no Senado que o grupo não tinha uma única voz e que estava inseguro quanto à postura da Irmandade Muçulmana no Irã, o tratado de paz entre Israel e Egito e o contrabando de armas para Gaza.
"É difícil neste momento delimitar a agenda da Irmandade Muçulmana como grupo", disse Clapper.
Dianne Feinstein, titular do Comitê de Inteligência, expressou seu mal-estar com as respostas de Clapper e disse que as agências de espionagem precisavam fazer melhor seu trabalho para compreender as intenções de um grupo que pode preencher o vazio político no Egito.
"Da perspectiva da inteligência, é fundamental que saibamos qual é esta posição e o que é mais provável que vá acontecer. O Egito é um país importante no Oriente Médio. E isso me preocupa", destacou Clapper.
Clapper disse que as agências de inteligência melhorariam seus esforços.
"Isto é algo que obviamente vamos observar. Vamos ter que redobrar nossa atenção", informou.
As agências americanas de inteligência mantiveram vínculos estreitos durante três décadas com o regime de Mubarak, que dedicou grande esforço a perseguição e repressão da Irmandade Muçulmana.
Alguns críticos dizem que a Agência Central de Inteligência (CIA) confiou muito nos regimes árabes e fracassou ao acompanhar de perto os movimentos oposicionistas e a revolta social no Oriente Médio.
Apesar de os espiões americanos cultivarem relações boas com seus colegas egípcios, não compreendiam "o mundo dos manifestantes", considerou na semana passado o colunista David Ignatius no The Washington Post.
Feinstein criticou as agências de inteligência por seu trabalho na revolta regional, ao destacar que os serviços não souberam avaliar a importância das redes sociais e que o Comando Central Militar americano havia produzido os relatórios mais úteis.
Facebook, Twitter e outras mídias sociais "deveriam ser monitoradas com muito cuidado para fornecer aos nossos governantes e a nossa liderança algum aviso prévio", e as agências "falharam neste aspecto", advertiu o presidente do Comitê de Inteligência do Senado.
Clapper reforçou as dúvidas quanto o trabalho das agências de inteligência na semana passada ao descrever a Irmandade Muçulmana como um grupo "de maioria laica". Mas na audiência de quarta-feira admitiu seu erro.
"A Irmandade Muçulmana obviamente não é leiga. O que queria dizer, e quero deixar claro aqui, é que a irmandade no Egito trabalha através de um sistema político, cuja orientação foi em grande parte leiga", explicou.
Clapper disse que o grupo islâmico tinha diversas "facções", como "uma ala conservadora, cuja interpretação do Islã era contrária a uma ampla participação eleitoral, e uma ala mais jovem e liberal, mais inclinada a trabalhar através de um processo político laico".
O diretor da CIA, Leon Panetta, disse que a Irmandade Muçulmana não era "monolítica", acrescentando que os serviços de inteligência acompanhavam de perto a organização porque nela existem "elementos extremistas".
O papel que no futuro a Irmandade Muçulmana desempenhará no Egito é tema de um acalorado debate em Washington. Alguns congressistas advertem que o grupo é de linha dura.