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EUA e Pfizer negociam doses extras de vacina, com impacto em países pobres

Acordo resolveria o problema americano que não fez uma pré-encomenda da vacina, mas deixaria países pobres com mais dificuldades de obtê-la

Pfizer: em junho, a farmacêutica concordou em fornecer 100 milhões de doses até o final de março de 2021 (Jakub Porzycki/NurPhoto/Getty Images)

Pfizer: em junho, a farmacêutica concordou em fornecer 100 milhões de doses até o final de março de 2021 (Jakub Porzycki/NurPhoto/Getty Images)

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Reuters

Publicado em 17 de dezembro de 2020 às 10h06.

O governo de Donald Trump negocia um acordo com a Pfizer para liberar suprimentos e matérias-primas para ajudar a empresa a produzir milhões de doses adicionais da vacina ainda no primeiro semestre de 2021. O acordo resolveria o problema americano que não fez uma pré-encomenda da vacina, mas deixaria países pobres com mais dificuldades de obtê-la.

Em junho, a Pfizer concordou em fornecer 100 milhões de doses até o final de março de 2021, o suficiente para inocular 50 milhões de pessoas, já que sua vacina requer duas injeções. Nações ricas se juntaram aos EUA para fazer grandes encomendas, muitas vezes com a opção de aumentar as negociações e adquirir mais doses. Mas a estratégia minou a capacidade de muitos países de fazer compras em quantidades suficientes para imunizar suas populações.

Os EUA asseguraram nesta quarta-feira, 16, que têm contratadas 900 milhões de doses da vacina e poderiam aumentar a cifra a 3 bilhões, o que lhes garantiria "excedentes" que planejam compartilhar com seus aliados no mundo. O país tem uma população de 330 milhões de pessoas, da qual devem ser subtraídos cerca de 70 milhões que não receberão a vacina agora, pois não é indicada a menores de 16 anos.

Além dos Estados Unidos, o Canadá e o Reino Unido já fecharam acordos para obter doses de vacinas muito superiores ao necessário para imunizar suas populações e especialistas advertem para o risco de a corrida pelos imunizantes prejudicar o acesso de nações pobres e em desenvolvimento.

A agência de notícias Reuters mostrou ontem que o mecanismo global para distribuir vacinas contra covid-19 para países mais pobres - o Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde (OMS) - corre risco de fracasso "muito alto". Isso poderia fazer com que bilhões de pessoas fiquem sem acesso às vacinas até o fim de 2024. Os documentos obtidos pela agência mostram que faltam fundos, há riscos de ausência de suprimento e existem arranjos contratuais complexos que podem impossibilitar a realização de seus objetivos.

Na mesma linha, um relatório divulgado na semana passada pela People's Vaccine Alliance - um grupo de organizações não governamentais - alertou que cerca de 70 países pobres ou em desenvolvimento só serão capazes de vacinar uma em cada dez pessoas em 2021.

"Há um baixíssimo nível de cooperação internacional em todas as etapas dessa pandemia - na divulgação de informações no início dos surtos, na compra de equipamentos como respiradores e outros insumos, e agora há o perigo do nacionalismo das vacinas", avalia o diplomata Rubens Ricupero, que foi representante do Brasil na OMS.

O Covax, do qual o Brasil faz parte, almeja entregar ao menos 2 bilhões de doses de vacina até o final de 2021 para cobrir 20% das pessoas mais vulneráveis de 91 países pobres e de renda média, a maioria na África, Ásia e América Latina. Ricupero defende mais comprometimento e aporte de recursos para tornar o Covax mais robusto, mas afirma que países pobres ainda não estão sendo prejudicados pela situação, pois não foram os mais afetados pelo vírus.

"A maneira de contornar esta dificuldade, neste momento, é a cooperação internacional", afirma Deisy Ventura, coordenadora da pós-graduação em saúde global na USP. A pesquisadora afirma que os governos precisam entender que ninguém estará seguro sem reformas importantes nos sistemas nacionais de saúde, até mesmo nos programas de imunização.

Ela recomenda uma revisão no acesso a medicamentos e insumos a nível global. "Não é possível que a indústria pratique os preços que adota atualmente e o dinheiro da cooperação internacional seja drenado para enriquecê-las ainda mais."

Para Ventura, a demora ou o acesso limitado a vacinas fará com que nos países mais pobres os efeitos da pandemia sobre a saúde e a economia durem mais tempo e tenham danos que poderiam ser evitados. "Isso é ruim para o mundo inteiro, não apenas para os países menos desenvolvidos. A vacina contra a covid-19 não vai resolver os problemas desses Estados, apenas reduzir os efeitos nocivos de uma catástrofe. É preciso reformar a saúde global como um todo para que os sistemas de saúde desses países sejam fortalecidos."

Chile já tem imunizante para toda população

O Chile aprovou ontem o uso da vacina Pfizer-BioNTech contra o coronavírus, permitindo a sua importação e o início da aplicação na população acima de 16 anos. O país fechou acordos com vários laboratórios e já tem garantidas mais de 58 milhões de doses, o suficiente para inocular a população do país, de 19 milhões de habitantes.

A aprovação do imunizante da Pfizer foi decidida por um comitê de 22 especialistas. A data do começo da vacinação será anunciada em breve. Da Pfizer, o Chile deve receber 10 milhões de doses. Pelo convênio no Covax - iniciativa global liderada pela OMS -, serão mais 8 milhões. Da AstraZeneca virão outras 14 4 milhões de doses e da chinesa Sinovac, mais 20 milhões. Cinco milhões de chilenos - trabalhadores de saúde, maiores de 65 anos e doentes crônicos - serão vacinados primeiro. 

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