Mundo

Ethiopian Airlines conhecia riscos do Max antes do acidente, diz ex-piloto

Boeing da Ethipoian Airlines caiu em 10 de março de 2019; ao menos 157 pessoas morreram no acidente aéreo causado por uma falha no sistema da aeronave

Local da queda do Boeing 737 Max da Ethiopian Airlines; acidente aéreo deixou 157 mortos (Tiksa Negeri/Reuters)

Local da queda do Boeing 737 Max da Ethiopian Airlines; acidente aéreo deixou 157 mortos (Tiksa Negeri/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 14 de agosto de 2019 às 17h14.

Última atualização em 14 de agosto de 2019 às 17h17.

Quando soube do acidente, o então capitão da Ethiopian Airlines, Bernd Kai von Hoesslin, disse que sentiu uma onda de raiva e, depois, náusea.

Era 10 de março, quando o 737 Max 8 da companhia aérea caiu na Etiópia e von Hoesslin estava em um hotel da África Ocidental entre voos. Ele disse que chamou sua equipe em um canto de um restaurante e avisou que não haveria sobreviventes.

Mas o piloto também sentiu um senso de responsabilidade. Durante meses, disse, pedia a colegas pilotos e gerentes que aumentassem os esforços para entender melhor os riscos de um novo recurso de controle de voo do 737 Max que apresentou falhas em um dos jatos da Boeing que havia caído meses antes na costa da Indonésia.

"Quando vi que era um Max, já estava pensando ’Jesus’", disse von Hoesslin em entrevista à Bloomberg News, a primeira desde que deixou a companhia aérea e a Etiópia após o acidente. Mesmo naquelas primeiras horas, disse, temia que o desastre tivesse sido provocado pelo mesmo recurso de controle de voo automatizado que teve um papel no acidente anterior na Indonésia.

"É claro que também estava bravo", recordou von Hoesslin sobre a conversa com sua equipe.

O cidadão canadense de pais alemães falou sobre o assunto em uma série de entrevistas no escritório de seu advogado, Darryl Levitt, em Toronto, e por telefone. Von Hoesslin falou sobre o acidente, sobre suas tentativas de conduzir sua própria investigação e experiências na companhia aérea. O capitão também compartilhou centenas de páginas de e-mails, gravações de vídeo e outros documentos que, segundo ele, refletiam preocupações sobre segurança apontadas para a companhia aérea e outras pessoas.

 

A Ethipioan Airlines não contestou a autenticidade dos e-mails, mas classificou as alegações de von Hoesslin de “falsas e factualmente incorretas.” A empresa não avisou seus pilotos depois que a Boeing, na sequência do acidente com o jato da Lion Air, emitiu um boletim de segurança sobre as falhas do sistema de controle de voo. A empresa diz que cumpre rigorosamente todas as normas globais de segurança e exigências regulamentares e foi uma das primeiras companhias aéreas do mundo a adquirir um simulador de voo do 737 Max para treinamento.

Von Hoesslin diz que agora está resignado a uma aposentadoria parcial, convencido de que nenhuma outra companhia aérea irá contratá-lo depois de se tornar um autoproclamado denunciante em um dos acidentes aéreos de maior repercussão da história e preocupado com a possibilidade de se envolver em litígios.

Acompanhe tudo sobre:acidentes-de-aviaoBloombergBoeingBoeing 737EtiópiaIndonésia

Mais de Mundo

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia

Irã manterá diálogos sobre seu programa nuclear com França, Alemanha e Reino Unido