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Estilo Dilma dificulta relação com base no Congresso

Presidente se formou em gabinetes burocráticos e não tem traquejo tradicional de um político de carreira

Mesmo com crises, Dilma começou na segunda-feira uma operação política para se reaproximar da base aliada (Sergio Dutti/Veja)
DR

Da Redação

Publicado em 16 de agosto de 2011 às 13h10.

Brasília - O estilo Dilma Rousseff de administrar, sem o traquejo de um político tradicional, tem resultado em dificuldades na relação com o Congresso e por conta disso as reações dos aliados também têm sido mais tensas do que costumeiramente se vê no início dos mandatos presidenciais.

Essa nova realidade política, fruto de uma presidente forjada nos gabinetes burocráticos, fica mais evidente no raro diálogo com os aliados, no trato com as denúncias de corrupção no governo e nas negociações por nomeações no segundo escalão e pela liberação de emendas parlamentares.

Mas a maior diferença sentida por parlamentares em relação aos ex-presidentes é na reação rápida que Dilma tem quando há denúncias envolvendo membros do governo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, antes de agir ouvia aliados e tentava evitar a demissão de um auxiliar.

"Acho que a Dilma está definindo uma tendência no caso da corrupção. Numa cabeça como a da Dilma não entra a história da corrupção vista em outros governos", avalia o professor Roberto Romano, da Unicamp.

Para ele, Dilma tem uma ética difícil de compreender pela classe política e "é complicado quando se trata com pessoas cujo o ofício é o do dando que se recebe", analisa.

Essa postura mais vigorosa do que o antecessor em relação às denúncias de desvios no governo é um caminho sem volta na avaliação de Romano. "Se ela para agora, ela se desmoraliza inteira", afirma.

Nesse cenário, Romano acredita que é inevitável que a crise parlamentar cresça e a solução vai depender cada vez mais da própria presidente.

Na tentativa de acalmar os aliados, Dilma começou na segunda-feira uma operação política para se reaproximar da base aliada. Ela se reuniu com os líderes do PT e do PMDB no Congresso e novos encontros estão programados para esta semana.

Ela tem pedido união na base e conta com o auxílio do vice-presidente Michel Temer, que tem grande experiência política, tendo já presidido a Câmara dos Deputados três vezes.


Emendas

Outro ponto que tem incomodado deputados e senadores é a falta de liberação das emendas parlamentares, considerados fundamentais por eles para levar investimentos às suas bases eleitorais. Neste ano, o governo cortou 50 bilhões de reais do Orçamento, sendo 18 bilhões de reais referentes a essas emendas.

A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, pressiona a área econômica para obter um calendário de liberações ainda nesta semana e, com isso, retomar as votações paralisadas na Câmara.

O cenário mais provável é que o governo libere emendas em setembro, pois Dilma não quer correr o risco de perder votações importantes como a renovação da Desvinculação de Receitas da União (DRU), que permite a aplicação livre de 20 por cento do orçamento da União.

Outras dificuldades

Apesar de resolver em boa parte a insatisfação dos aliados, a liberação de emendas não tira outros problemas do caminho.

Dentro do PMDB ainda há uma forte irritação com o Executivo pela forma como foi realizada a operação Voucher da Polícia Federal, que prendeu mais de 30 pessoas ligadas a um suposto esquema de desvio de recursos do Ministério do Turismo, que é comandado pelo partido.

Já o PR, que tem 41 deputados e seis senadores, ameaça há semanas um desembarque da coalizão governista para "ficar numa posição de independência", segundo o líder da bancada de deputados, Lincoln Portela (MG).

De acordo com um integrante da cúpula do PR, a saída deve ser formalizada na terça-feira, pelo presidente do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), que deixou o comando do Ministério dos Transportes como alvo de denúncias de corrupção que ele nega.

Se a crise se aprofundar, o governo terá dificuldades para garantir a aprovação de projetos do interesse do Executivo e de evitar que novos gastos orçamentários sejam aprovados, criando problemas para o ajuste fiscal.

Para alguns políticos, o Executivo perdeu um "Pelé da política" com o fim do mandato de Lula.

Agora, segundo o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), o time precisa do conjunto para vencer. "Antes, quando estava difícil a gente tocava a bola para o craque. Agora não tem mais isso", resumiu o peemedebista há algumas semanas.

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Brasília - O estilo Dilma Rousseff de administrar, sem o traquejo de um político tradicional, tem resultado em dificuldades na relação com o Congresso e por conta disso as reações dos aliados também têm sido mais tensas do que costumeiramente se vê no início dos mandatos presidenciais.

Essa nova realidade política, fruto de uma presidente forjada nos gabinetes burocráticos, fica mais evidente no raro diálogo com os aliados, no trato com as denúncias de corrupção no governo e nas negociações por nomeações no segundo escalão e pela liberação de emendas parlamentares.

Mas a maior diferença sentida por parlamentares em relação aos ex-presidentes é na reação rápida que Dilma tem quando há denúncias envolvendo membros do governo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, antes de agir ouvia aliados e tentava evitar a demissão de um auxiliar.

"Acho que a Dilma está definindo uma tendência no caso da corrupção. Numa cabeça como a da Dilma não entra a história da corrupção vista em outros governos", avalia o professor Roberto Romano, da Unicamp.

Para ele, Dilma tem uma ética difícil de compreender pela classe política e "é complicado quando se trata com pessoas cujo o ofício é o do dando que se recebe", analisa.

Essa postura mais vigorosa do que o antecessor em relação às denúncias de desvios no governo é um caminho sem volta na avaliação de Romano. "Se ela para agora, ela se desmoraliza inteira", afirma.

Nesse cenário, Romano acredita que é inevitável que a crise parlamentar cresça e a solução vai depender cada vez mais da própria presidente.

Na tentativa de acalmar os aliados, Dilma começou na segunda-feira uma operação política para se reaproximar da base aliada. Ela se reuniu com os líderes do PT e do PMDB no Congresso e novos encontros estão programados para esta semana.

Ela tem pedido união na base e conta com o auxílio do vice-presidente Michel Temer, que tem grande experiência política, tendo já presidido a Câmara dos Deputados três vezes.


Emendas

Outro ponto que tem incomodado deputados e senadores é a falta de liberação das emendas parlamentares, considerados fundamentais por eles para levar investimentos às suas bases eleitorais. Neste ano, o governo cortou 50 bilhões de reais do Orçamento, sendo 18 bilhões de reais referentes a essas emendas.

A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, pressiona a área econômica para obter um calendário de liberações ainda nesta semana e, com isso, retomar as votações paralisadas na Câmara.

O cenário mais provável é que o governo libere emendas em setembro, pois Dilma não quer correr o risco de perder votações importantes como a renovação da Desvinculação de Receitas da União (DRU), que permite a aplicação livre de 20 por cento do orçamento da União.

Outras dificuldades

Apesar de resolver em boa parte a insatisfação dos aliados, a liberação de emendas não tira outros problemas do caminho.

Dentro do PMDB ainda há uma forte irritação com o Executivo pela forma como foi realizada a operação Voucher da Polícia Federal, que prendeu mais de 30 pessoas ligadas a um suposto esquema de desvio de recursos do Ministério do Turismo, que é comandado pelo partido.

Já o PR, que tem 41 deputados e seis senadores, ameaça há semanas um desembarque da coalizão governista para "ficar numa posição de independência", segundo o líder da bancada de deputados, Lincoln Portela (MG).

De acordo com um integrante da cúpula do PR, a saída deve ser formalizada na terça-feira, pelo presidente do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), que deixou o comando do Ministério dos Transportes como alvo de denúncias de corrupção que ele nega.

Se a crise se aprofundar, o governo terá dificuldades para garantir a aprovação de projetos do interesse do Executivo e de evitar que novos gastos orçamentários sejam aprovados, criando problemas para o ajuste fiscal.

Para alguns políticos, o Executivo perdeu um "Pelé da política" com o fim do mandato de Lula.

Agora, segundo o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), o time precisa do conjunto para vencer. "Antes, quando estava difícil a gente tocava a bola para o craque. Agora não tem mais isso", resumiu o peemedebista há algumas semanas.

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