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Este é o único país do Ocidente que não vacinou ninguém contra a covid-19

Em um grupo de nações ainda à espera de vacinas, o país estava entre os 92 que receberam ofertas de doses sob a iniciativa Covax

 (MARTIN BERNETTI/Getty Images)

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Publicado em 8 de junho de 2021 às 16h19.

Última atualização em 8 de junho de 2021 às 16h40.

Por Jim Wyss, da Bloomberg

O Haiti, país mais pobre do hemisfério ocidental, ganhou outra distinção sombria: é o único que não vacinou um único habitante contra a covid-19.

Em um grupo de nações ainda à espera de vacinas, o Haiti estava entre os 92 países pobres e de renda média que receberam ofertas de doses sob a iniciativa Covax. Mas o governo inicialmente recusou o imunizante da AstraZeneca, citando efeitos colaterais e temores generalizados da população.

“O Haiti não rejeitou a oferta de vacinas da Covax”, disse o diretor-geral do Ministério da Saúde do país, Laure Adrien, em entrevista por telefone. “Tudo o que pedimos foi que mudassem a vacina que estavam nos fornecendo.”

No mês passado, a equação havia mudado. Os temores sobre a AstraZeneca diminuíam e o Haiti registrava aumento do número de casos. Quando o país finalmente concordou em receber as doses, já não havia disponibilidade devido a problemas de produção na Índia e maior demanda global.

O Painel de Mercado de Vacinas das Nações Unidas que processa as informações fornecidas pela Covax  não tem entregas previstas para o Haiti. E Adrien disse que não sabe quando as vacinas chegarão.

Múltiplos problemas

A pandemia de covid-19 é apenas mais um problema que afeta o país de 11,3 milhões de habitantes. O Haiti enfrentou meses de protestos contra o presidente Jovenel Moïse e uma onda de violência de organizações criminosas e sequestros. No mês passado, um membro da equipe da ONG Médicos Sem Fronteiras, que administra várias clínicas e hospitais no Haiti, foi assassinado a caminho de casa.

A covid, juntamente com a violência, se tornou mais um “grande obstáculo” para a prestação de cuidados básicos de saúde, disse a chefe da missão da ONG, Alessandra Giudiceandrea.

Embora o Haiti tenha registrado 15.435 casos e 325 mortes por covid-19, o verdadeiro escopo do problema é obscurecido pela falta de testes generalizados, disse.

“Vemos uma alta taxa de mortalidade, e as instalações estão sobrecarregadas”, afirmou.

A escassez de vacinas é ainda mais impressionante porque a vizinha República Dominicana, com a qual divide a ilha de Hispaniola, vacinou quase 20% da população.

Esses imunizantes estão disponíveis apenas para cidadãos dominicanos e residentes documentados, deixando a maioria dos cerca de 750.000 haitianos que moram na ilha inelegíveis.

O padre Tomás Garcia, da Fundação La Merced, uma agência humanitária dominicana, disse que a vacinação de pessoas vulneráveis, independentemente da nacionalidade, deve ser prioridade.

“Não se trata de salvar a si mesmo, mas de salvar a todos”, disse. “Estamos todos no mesmo barco.”

Adrien, do Ministério da Saúde, disse que não está claro quais vacinas o Haiti pode receber primeiro, se as doses da Covax ou os imunizantes oferecidos para a região na semana passada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Ele também argumentou que há um ponto positivo na chegada tardia das vacinas. Muitos haitianos teriam recusado se vacinar antes devido à hesitação, e o país está mais bem preparado para as necessidades de armazenamento e distribuição a baixas temperaturas, afirmou.

“Não acho que o início tardio do programa de vacinação terá qualquer impacto na recuperação”, disse Adrien. “Se começássemos mais cedo e fracassássemos em nosso programa de vacinas, seria o mesmo que se começássemos agora e tivéssemos sucesso em nosso programa.”

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