Mundo

Estado de Wa: o cartel que declarou independência territorial e controla negócio de US$ 80 bilhões

O cartel começou com o ópio, passou para a produção de heroína e agora fabrica algumas das melhores metanfetaminas do mundo

USWA durante parada militar. Exército tem hospitais e fornecimento de energia próprios (YE AUNG THU/AFP via Getty Images)

USWA durante parada militar. Exército tem hospitais e fornecimento de energia próprios (YE AUNG THU/AFP via Getty Images)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 16 de fevereiro de 2024 às 08h47.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2024 às 00h23.

Quando pensamos em cartéis de drogas, temos a ideia de locais pobres exploradas por criminosos -- e todos os dias no noticiário internacional. Esse é o padrão de regiões do Afeganistão e do México, por exemplo. Mas existe também o relativamente desenvolvido Estado de Wa, ignorado pela mídia internacional. Ao menos até agora.

Trata-se de uma região montanhosa dentro de Mianmar, perto da China. Lá é a casa dos Wa, um grupo étnico composto por cerca de 1 milhão de pessoas. Esse território abrange aproximadamente a mesma quantidade de terra que os Países Baixos. Ele declarou independência de fato de Mianmar em 1989. Hoje, é governado pelo Exército Estatal Unido Wa (UWSA, em inglês) sob um regime socialista de partido único, mas não é reconhecido internacionalmente.

Desde o final dos anos 1980, o UWSA dominou o negócio de traficar metanfetamina no Sudeste Asiático. A ONU estima que o comércio da droga no Leste e Sudeste da Ásia vale US$ 80 bilhões por ano. 

O cartel começou com o ópio, passou para a produção de heroína e agora fabrica algumas das melhores metanfetaminas do mundo. Esse negócio sujo é o responsável por sustentar um exército maior do que o da Suécia, considerado bem abastecido e com armamentos de alta tecnologia.

"Assim como o Haiti foi construído sobre o açúcar e a Arábia Saudita sobre o petróleo, o Estado Wa foi construído sobre a heroína e a metanfetamina", escreve Patrick Winn em "Narcotopia", livro que ganhou destaque na Economist. "O UWSA não é uma máfia que vive na selva. Ele está administrando uma nação de verdade." O narcoestado possui seus próprios hospitais, escolas e rede elétrica, e suas estradas são melhor pavimentadas do que muitas em Mianmar.

Papel de EUA e China

Citando pesquisas pouco divulgadas, Winn descreve a CIA como patrocinadora de diversos traficantes de ópio em Mianmar nas décadas de 1950-70. Em troca de armas e imunidade, esses senhores da guerra também atuavam como chefes de milícias anti-comunistas, reunindo informações e lançando ataques contra a China maoísta, segundo a Economist. De acordo com o livro, a CIA impediu inúmeros tentativas de prender chefes do narcotráfico e até chegou a emprestar aviões para o transporte de drogas. 

O autor identifica que a China age como protetora do UWSA, fornecendo-lhe armas em troca de não contrabandear drogas para o país. E a relação com Mianmar? Os generais  concederam ao Estado de Wa uma espécie de "carta branca", desde que ele não busque reconhecimento da ONU.

Acompanhe tudo sobre:Tráfico de drogasMianmar

Mais de Mundo

Com queda de Assad na Síria, Turquia e Israel redefinem jogo de poder no Oriente Médio

MH370: o que se sabe sobre avião desaparecido há 10 anos; Malásia decidiu retomar buscas

Papa celebrará Angelus online e não da janela do Palácio Apostólico por resfriado

Albânia fechará o TikTok por pelo menos um ano