Freiras rezam enquanto cardeais realizam missa “Pro Eligendo Pontifice” na Basílica de São Pedro, antes do conclave no Vaticano (Eric Gaillard/Reuters)
Da Redação
Publicado em 13 de março de 2013 às 13h24.
Cidade do Vaticano - Mesmo antes de pronunciar suas primeiras palavras em público, o novo papa que emergirá do conclave enviará aos católicos do mundo todo uma mensagem codificada na escolha do nome.
Pode não ser uma mensagem que se compreenda imediatamente. Escolher um nome improvável de um passado papal distante -por exemplo, Hilário ou Zeferino- faria os católicos correrem para seus livros de história para ver o que isso poderia significar.
Mas um nome que remonta aos papas modernos, Bento ou João Paulo ou João, seria um sinal imediato que o novo líder de 1,2 bilhão de fieis quer dar continuidade ao papado ao qual o nome se refere.
Um nome que circulava em Roma antes de os 115 cardeais-eleitores entrarem na Capela Sistina para seu conclave na terça-feira era Francisco, um nome que o cardeal de Boston, Sean O'Malley, pode escolher se ele emergir como o novo pontífice.
O'Malley é um frade franciscano que prefere o hábito marrom e o cinto de corda branca de sua ordem dos capuchinhos ao traje vermelho elegante dos cardeais. Nenhum papa jamais adotou o nome de São Francisco de Assis, o reformador do século 13 que viveu na pobreza e disse aos seguidores: "Pregue sempre o Evangelho. Se necessário, use palavras".
Progressistas e conservadores
Leão encabeça uma lista de da casa de apostas Paddy Power, de Dublin, que faz apostas no próximo papa, seu nome e idade.
O nome traz uma tendência progressista, pois o último a escolher, Leão 13, ajudou a adaptar a Igreja ao pensamento moderno sobre a era industrial durante o seu papado de 1878 a 1903.
Sua encíclica "Rerum Novarum" (Das Coisas Novas) foi a primeira na justiça social e defendia os direitos dos trabalhadores. Segundo a encíclica, tanto o comunismo quanto o capitalismo são falhos, e o Estado deve trabalhar para o bem comum de todos os seus cidadãos.
A opção preferencial pelos pobres tornou-se palavra de ordem na América Latina, razão pela qual um candidato da região, dom Odilo Scherer, é o mais citado e pode escolher este nome sugestivo.
O nome será ouvido pela primeira vez quando um cardeal surgir na sacada da Basílica de São Pedro para anunciar "habemus papam" (temos um papa) para a multidão reunida na praça.
Pio, usado pela última vez por Pio 12 de 1939 a 1958, sinalizaria um conservador firme, enquanto João, que recorda o seu sucessor João 23 de 1958 a 1962, pode se referir tanto a um pastor compassivo quanto a um reformador.
João 23 era um tipo jovial que convocou o Segundo Concílio do Vaticano (1962-1965) que levou a algumas reformas que os dois últimos papas rejeitaram e dedicaram seus papados a refreá-las.
O cardeal de Milão, Angelo Scola, outro favorito, pode optar por Pio, o segundo nome na lista de apostas. Em um sermão, no domingo, ele disse que o próximo papa deve guiar a Igreja "nos passos marcados pelos grandes papas dos últimos 150 anos".
Houve quatro papas Pio no último século e meio, todos eles claramente conservadores e crentes em um papado forte e centralizado, com o mais recente deles ainda uma figura controversa sobre seu papel durante a Segunda Guerra Mundial.
Pio 9o (1846-1878) rejeitou a democracia, Pio 10o (1903-1914) denunciou as políticas liberais modernas e Pio 11 (1922-1939) é lembrado como um governante autocrático. Sob o papado de Pio 12 (1939-1958), a Igreja reprimiu os teólogos liberais.
Embora o nome possa referir-se um papado fortemente ortodoxo aos prelados católicos, os judeus recordam os debates amargos inter-religiosos sobre Pio 12 e as acusações de que ele não conseguiu resistir a Hitler e Mussolini durante a Segunda Guerra Mundial.
Defensores dizem que Pio 12 fez o máximo que podia para defender os judeus contra o Holocausto, então adotar esse nome poderia identificar o novo papa como de um grupo conservador que pressionou para ele ser tornado santo. Grupos judaicos pediram ao Vaticano para não canonizá-lo, pelo menos até que os registros de guerra fossem mais claros.
Depois de sua eleição em 2005, o cardeal alemão Joseph Ratzinger disse que escolheu o nome de Bento para honrar São Bento de Núrsia, "cuja vida evoca as raízes cristãs da Europa", e o papa Bento 15, que procurou a reconciliação durante a 1a Guerra Mundial.
João Paulo, o menor?
A máxima do latim "nomen est omen" (um nome é um sinal) é tão válida hoje para os papas quanto era para os antigos romanos cujos imperadores adotavam novos nomes ou títulos quando assumiam o poder.
Figuras-chave na Bíblia também mudaram seus nomes, incluindo São Pedro, o primeiro papa, e São Paulo, o missionário dos gentios, então também há um precedente cristão.
O primeiro papa conhecido por ter mudado seu nome foi João 2º em 533. Ele era chamado de Mercúrio por sua família, mas considerou que o pontífice cristão não deveria ter o nome de um deus pagão romano.
Isso se tornou mais comum depois que outro papa de 18 anos, com outro nome pagão, Otaviano, foi escolhido em uma eleição fraudada em 955 e decidiu adotar o nome de João 12. Um homem chamado Peter optou por Sérgio 4º em 1009, evitando a comparação com o primeiro papa.
O cardeal Angelo Roncalli teria passado a noite antes de sua eleição como João 23, em 1958, folheando uma lista de papas para verificar o que os Joãos anteriores tinham feito. Ele escolheu o nome, porque era o do seu pai e recordava o João Apóstolo.
Quando Albino Luciani foi eleito em 1978, adotou o primeiro nome duplo na história papal, João Paulo 1º, para mostrar que ele queria combinar as reformas de João 23 com o lado mais tradicional de seu antecessor imediato, Paulo 6º (1963-1978).
Quando João Paulo 1º morreu 33 dias depois, o cardeal Karol Wojtyla da Polônia homenageou-o adotando o nome papal de João Paulo 2º.
É improvável que outro papa adote o nome João Paulo em breve. Se Wojtyla ficar na história como João Paulo, o Grande, como seus defensores o chamam, um sucessor que adote o seu nome poderia arriscar ser conhecido como João Paulo, o Menor.