Escândalo de Strauss-Kahn cria debate sobre sucessão no FMI
Países emergentes pressionam para acabar com o monopólio dos europeus à frente da entidade
Da Redação
Publicado em 18 de maio de 2011 às 17h04.
Washington - A previsível renúncia do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, devido a acusações de crimes sexuais que o levaram à prisão já deu início à disputa pela sucessão do economista francês à frente da instituição, aumentando os pedidos por maior transparência na seleção do novo líder.
A tradição reza que o diretor-gerente do FMI seja um europeu, em virtude de um acordo de cavalheiros articulado no final da Segunda Guerra Mundial, que assegura, por outro lado, a Presidência do Banco Mundial (BM) a um americano.
Mas o monopólio europeu está agora em xeque diante da pressão dos países emergentes por mudanças no atual sistema internacional. A China, que no ano passado se transformou no terceiro país mais poderoso do FMI, pediu que o processo seja "justo, transparente e baseado em méritos".
Já a África do Sul solicitou nesta quarta-feira que se dê oportunidade a um candidato de um país emergente. "As instituições como o FMI devem ser reformadas para serem confiáveis. E para serem confiáveis, devem representar os interesses e refletir plenamente as vozes de todos os países", disse nesta quarta-feira em comunicado o ministro das Finanças sul-africano, Pravin Gordhan.
A Europa, por sua vez, insiste que os graves problemas de dívida pelos quais atravessam países como Grécia, Irlanda e Portugal, nos quais o Fundo está muito envolvido, tornam aconselhável a continuidade de um europeu à frente do organismo.
Essa é a opinião oficial da Alemanha. "Se o posto máximo do FMI for aberto em algum momento, o Governo defende que a pessoa seja europeia", afirmou nesta quarta-feira em Berlim o porta-voz do Governo alemão Christoph Steegmans, que acrescentou que a liderança do FMI não está oficialmente em discussão.
Analistas consultados pela Agência Efe e organizações especializadas em temas de desenvolvimento insistem que a discussão deveria focar na necessidade de iniciar um processo verdadeiramente competitivo e aberto.
"O FMI deve ter legitimidade e autoridade. É em seu próprio interesse escolher agora um diretor-gerente de forma aberta e baseando-se em seus méritos", destacou em comunicado Sarah Wynn-Williams, porta-voz da ONG Oxfam. "O FMI não pode continuar elegendo seu líder baseando-se em um sistema tão imperfeito".
Apesar da resistência europeia, analistas como Daniel Kaufmann, ex-diretor do departamento de governabilidade e anticorrupção do Banco Mundial acreditam que este é o momento perfeito para injetar maior transparência no sistema.
"Quanto mais transparência houver, antes se saberá sobre problemas como o de Strauss-Kahn", disse Kaufmann à Agência Efe. Segundo ele, os problemas do diretor-gerente do Fundo com as mulheres eram bastante conhecidos.
O ex-ministro das Finanças da França foi preso no sábado passado em Nova York, acusado de crimes sexuais contra uma camareira de um hotel. Strauss-Kahn foi acusado na segunda-feira de sete crimes - entre os quais, abuso sexual e tentativa de estupro -, pelos quais poderia ser condenado a penas de 15 a 25 anos de prisão.
Após a divulgação do incidente, a jornalista e escritora francesa Tristane Banon, hoje com 31 anos, revelou publicamente que Strauss-Kahn tentou estuprá-la em 2002 e disse que irá processá-lo.
A mãe da jornalista, Anne Mansouret, dirigente local do Partido Socialista francês, convenceu a filha na época a não processar um homem próximo a sua família e influente figura do partido.
"Em processo muito mais competitivo, no qual se indaga muito mais sobre um candidato, talvez se tivesse falado muito mais sobre esses temas do passado de Strauss-Kahn", disse Kaufmann.
O debate sobre o possível substituto de Strauss-Kahn coincide com uma crescente pressão para que ele renuncie. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, já declarou na noite desta terça-feira que Strauss-Kahn "não está em condições" de dirigir o FMI.
Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, ressaltou nesta quarta-feira que Strauss-Kahn está em uma "posição muito difícil" e indicou que os problemas do diretor-gerente não deveriam interferir nas atividades do Fundo.
"Acho que Dominique Strauss-Kahn terá de tomar uma decisão sobre seu futuro, mas claramente está em uma posição muito difícil", declarou Hague à rádio estatal irlandesa "RTÉ".
Washington - A previsível renúncia do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, devido a acusações de crimes sexuais que o levaram à prisão já deu início à disputa pela sucessão do economista francês à frente da instituição, aumentando os pedidos por maior transparência na seleção do novo líder.
A tradição reza que o diretor-gerente do FMI seja um europeu, em virtude de um acordo de cavalheiros articulado no final da Segunda Guerra Mundial, que assegura, por outro lado, a Presidência do Banco Mundial (BM) a um americano.
Mas o monopólio europeu está agora em xeque diante da pressão dos países emergentes por mudanças no atual sistema internacional. A China, que no ano passado se transformou no terceiro país mais poderoso do FMI, pediu que o processo seja "justo, transparente e baseado em méritos".
Já a África do Sul solicitou nesta quarta-feira que se dê oportunidade a um candidato de um país emergente. "As instituições como o FMI devem ser reformadas para serem confiáveis. E para serem confiáveis, devem representar os interesses e refletir plenamente as vozes de todos os países", disse nesta quarta-feira em comunicado o ministro das Finanças sul-africano, Pravin Gordhan.
A Europa, por sua vez, insiste que os graves problemas de dívida pelos quais atravessam países como Grécia, Irlanda e Portugal, nos quais o Fundo está muito envolvido, tornam aconselhável a continuidade de um europeu à frente do organismo.
Essa é a opinião oficial da Alemanha. "Se o posto máximo do FMI for aberto em algum momento, o Governo defende que a pessoa seja europeia", afirmou nesta quarta-feira em Berlim o porta-voz do Governo alemão Christoph Steegmans, que acrescentou que a liderança do FMI não está oficialmente em discussão.
Analistas consultados pela Agência Efe e organizações especializadas em temas de desenvolvimento insistem que a discussão deveria focar na necessidade de iniciar um processo verdadeiramente competitivo e aberto.
"O FMI deve ter legitimidade e autoridade. É em seu próprio interesse escolher agora um diretor-gerente de forma aberta e baseando-se em seus méritos", destacou em comunicado Sarah Wynn-Williams, porta-voz da ONG Oxfam. "O FMI não pode continuar elegendo seu líder baseando-se em um sistema tão imperfeito".
Apesar da resistência europeia, analistas como Daniel Kaufmann, ex-diretor do departamento de governabilidade e anticorrupção do Banco Mundial acreditam que este é o momento perfeito para injetar maior transparência no sistema.
"Quanto mais transparência houver, antes se saberá sobre problemas como o de Strauss-Kahn", disse Kaufmann à Agência Efe. Segundo ele, os problemas do diretor-gerente do Fundo com as mulheres eram bastante conhecidos.
O ex-ministro das Finanças da França foi preso no sábado passado em Nova York, acusado de crimes sexuais contra uma camareira de um hotel. Strauss-Kahn foi acusado na segunda-feira de sete crimes - entre os quais, abuso sexual e tentativa de estupro -, pelos quais poderia ser condenado a penas de 15 a 25 anos de prisão.
Após a divulgação do incidente, a jornalista e escritora francesa Tristane Banon, hoje com 31 anos, revelou publicamente que Strauss-Kahn tentou estuprá-la em 2002 e disse que irá processá-lo.
A mãe da jornalista, Anne Mansouret, dirigente local do Partido Socialista francês, convenceu a filha na época a não processar um homem próximo a sua família e influente figura do partido.
"Em processo muito mais competitivo, no qual se indaga muito mais sobre um candidato, talvez se tivesse falado muito mais sobre esses temas do passado de Strauss-Kahn", disse Kaufmann.
O debate sobre o possível substituto de Strauss-Kahn coincide com uma crescente pressão para que ele renuncie. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, já declarou na noite desta terça-feira que Strauss-Kahn "não está em condições" de dirigir o FMI.
Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, ressaltou nesta quarta-feira que Strauss-Kahn está em uma "posição muito difícil" e indicou que os problemas do diretor-gerente não deveriam interferir nas atividades do Fundo.
"Acho que Dominique Strauss-Kahn terá de tomar uma decisão sobre seu futuro, mas claramente está em uma posição muito difícil", declarou Hague à rádio estatal irlandesa "RTÉ".