Equador vence queda de braço com cartéis das drogas
Depois da saída dos americanos, governo ostenta êxitos na apreensão de drogas e na desarticulação de bandos a serviço dos cartéis mexicanos e colombianos
Da Redação
Publicado em 12 de novembro de 2013 às 15h43.
Quito - O Equador é um país praticamente livre de cultivos e laboratórios de drogas, apesar de fazer fronteira com os maiores produtores de cocaína do continente - Peru e Colômbia - e também se transformou em uma espécie de dor de cabeça para os cartéis mexicanos e colombianos.
Quando, em 2009, os Estados Unidos deixaram a base equatoriana de Manta, no Pacífico, pela rejeição do presidente Rafael Correa em renovar um acordo de combate às drogas vigente desde 1999, muitos temeram um enfraquecimento do governo frente ao narcotráfico.
No entanto, depois da saída dos americanos, o governo Correa ostenta êxitos importantes na apreensão de drogas e na desarticulação de bandos a serviço dos cartéis mexicanos e colombianos.
"Estamos apreendendo muitas drogas e desarticulando esses bandos que investem nas drogas", afirmou à AFP o ministro do Interior, José Serrano.
O alto funcionário esclareceu que os resultados não correspondem a uma intensificação do tráfico e sim a uma renovada estratégia de inteligência que inclui informantes, recompensas, investigação policial e uma coordenação direta com a Colômbia e o Peru, os maiores produtores mundiais de folha de coca, a matéria-prima da cocaína.
Em 2013, o Equador apreendeu 46,2 toneladas de droga, principalmente cocaína, contra 42 em 2012, 26 em 2011 e 18 em 2010. Em 2009, quando Washington ainda coordenava ações antidrogas em Manta, foram apreendidas 68 toneladas, incluindo os confiscos americanos em águas internacionais.
O trabalho do Equador é reconhecido pelas Nações Unidas, que o situam como um dos países mais eficientes em apreensão de cocaína, junto com Marrocos, Holanda e Colômbia. Mas o governo dos Estados Unidos acredita que pelo país passam cerca de 110 toneladas por ano, segundo um relatório do Departamento de Estado de 2013.
A história como aliada
Em seu mais recente estudo global, a agência da ONU contra as drogas e os crimes indica que o Equador continua sendo um país de trânsito - corredor estratégico - de entorpecentes, apesar de estar emergindo como um centro de operação para o tráfico marítimo de cocaína.
Calcula-se que no país existam cerca de 20 hectares de cultivos ilegais - segundo o ministro Serrano - contra 48.000 hectares de coca na Colômbia e 60.400 no Peru, de acordo com a ONU.
"Historicamente, no Equador o cultivo de coca nunca foi importante porque não fazia parte de costumes rituais indígenas nem servia de moeda de troca, como no Peru e na Bolívia", explica Fredy Rivera, do instituto acadêmico Rede Latino-Americana de Segurança e Crime Organizado.
"Da mesma forma, o país nunca teve problemas para exercer sua soberania, ocupar seu pequeno território (256.370 km2), e os militares mantiveram uma relação próxima com a população civil, o que impediu o crescimento de grupos clandestinos".
Talvez por isso também não existam grandes laboratórios. "A droga não é processada no Equador, e sim entra vinda da Colômbia e do Peru com destino aos portos e aeroportos que se conectam com o Pacífico, para ser exportada principalmente para a Europa", acrescentou Serrano.
Golpe bem sucedido
Cartéis como o de Sinaloa, no México, ou Los Rastrojos e Los Urabeños, da Colômbia, contratam os serviços pessoais do crime organizado equatoriano para transportar a droga das fronteiras para os pontos de saída.
"São esses intermediários que estamos desarticulando. Eles se dedicam ao microtráfico, porque os cartéis os pagam não apenas com dinheiro, mas também com droga", explicou o ministro.
"A coordenação que temos com a Colômbia e o Peru é algo chave. Antes essa troca de informações praticamente não existia, e agora temos um canal de comunicação direto", destacou Serrano.
Na opinião dos especialistas, o Equador abandonou a estratégia americana de cumprir metas de apreensão e prender as 'mulas' e os consumidores, para ocupar-se dos elos intermediários do negócio.
A decisão sobre a base de Manta "permitiu que fossem tomadas medidas levando em consideração a sua realidade", declarou Tatiana Dalence, consultora da ONU e da Comunidade Andina (CAN) para questões ligadas ao narcotráfico.
Uma recente lei descriminalizou a dose e o porte mínimo de drogas, apesar de Correa não ser partidário da legalização completa do consumo.
"O narcotráfico é agora um negócio muito diversificado, com uma clara divisão do trabalho, o que permitiu às autoridades atingi-lo no estômago para obrigá-lo a baixar a cabeça", ilustra Rivera.
Ao mesmo tempo, o país implementou um sistema de controle de precursores químicos para evitar seu desvio para o narcotráfico. Chile e Uruguai estão copiando esta estratégia e a Venezuela o fará em breve, segundo Dalence.
"O Equador é um dos países da região que tem êxito na luta contra o narcotráfico, aplicando medidas interessantes", acrescentou.
Quito - O Equador é um país praticamente livre de cultivos e laboratórios de drogas, apesar de fazer fronteira com os maiores produtores de cocaína do continente - Peru e Colômbia - e também se transformou em uma espécie de dor de cabeça para os cartéis mexicanos e colombianos.
Quando, em 2009, os Estados Unidos deixaram a base equatoriana de Manta, no Pacífico, pela rejeição do presidente Rafael Correa em renovar um acordo de combate às drogas vigente desde 1999, muitos temeram um enfraquecimento do governo frente ao narcotráfico.
No entanto, depois da saída dos americanos, o governo Correa ostenta êxitos importantes na apreensão de drogas e na desarticulação de bandos a serviço dos cartéis mexicanos e colombianos.
"Estamos apreendendo muitas drogas e desarticulando esses bandos que investem nas drogas", afirmou à AFP o ministro do Interior, José Serrano.
O alto funcionário esclareceu que os resultados não correspondem a uma intensificação do tráfico e sim a uma renovada estratégia de inteligência que inclui informantes, recompensas, investigação policial e uma coordenação direta com a Colômbia e o Peru, os maiores produtores mundiais de folha de coca, a matéria-prima da cocaína.
Em 2013, o Equador apreendeu 46,2 toneladas de droga, principalmente cocaína, contra 42 em 2012, 26 em 2011 e 18 em 2010. Em 2009, quando Washington ainda coordenava ações antidrogas em Manta, foram apreendidas 68 toneladas, incluindo os confiscos americanos em águas internacionais.
O trabalho do Equador é reconhecido pelas Nações Unidas, que o situam como um dos países mais eficientes em apreensão de cocaína, junto com Marrocos, Holanda e Colômbia. Mas o governo dos Estados Unidos acredita que pelo país passam cerca de 110 toneladas por ano, segundo um relatório do Departamento de Estado de 2013.
A história como aliada
Em seu mais recente estudo global, a agência da ONU contra as drogas e os crimes indica que o Equador continua sendo um país de trânsito - corredor estratégico - de entorpecentes, apesar de estar emergindo como um centro de operação para o tráfico marítimo de cocaína.
Calcula-se que no país existam cerca de 20 hectares de cultivos ilegais - segundo o ministro Serrano - contra 48.000 hectares de coca na Colômbia e 60.400 no Peru, de acordo com a ONU.
"Historicamente, no Equador o cultivo de coca nunca foi importante porque não fazia parte de costumes rituais indígenas nem servia de moeda de troca, como no Peru e na Bolívia", explica Fredy Rivera, do instituto acadêmico Rede Latino-Americana de Segurança e Crime Organizado.
"Da mesma forma, o país nunca teve problemas para exercer sua soberania, ocupar seu pequeno território (256.370 km2), e os militares mantiveram uma relação próxima com a população civil, o que impediu o crescimento de grupos clandestinos".
Talvez por isso também não existam grandes laboratórios. "A droga não é processada no Equador, e sim entra vinda da Colômbia e do Peru com destino aos portos e aeroportos que se conectam com o Pacífico, para ser exportada principalmente para a Europa", acrescentou Serrano.
Golpe bem sucedido
Cartéis como o de Sinaloa, no México, ou Los Rastrojos e Los Urabeños, da Colômbia, contratam os serviços pessoais do crime organizado equatoriano para transportar a droga das fronteiras para os pontos de saída.
"São esses intermediários que estamos desarticulando. Eles se dedicam ao microtráfico, porque os cartéis os pagam não apenas com dinheiro, mas também com droga", explicou o ministro.
"A coordenação que temos com a Colômbia e o Peru é algo chave. Antes essa troca de informações praticamente não existia, e agora temos um canal de comunicação direto", destacou Serrano.
Na opinião dos especialistas, o Equador abandonou a estratégia americana de cumprir metas de apreensão e prender as 'mulas' e os consumidores, para ocupar-se dos elos intermediários do negócio.
A decisão sobre a base de Manta "permitiu que fossem tomadas medidas levando em consideração a sua realidade", declarou Tatiana Dalence, consultora da ONU e da Comunidade Andina (CAN) para questões ligadas ao narcotráfico.
Uma recente lei descriminalizou a dose e o porte mínimo de drogas, apesar de Correa não ser partidário da legalização completa do consumo.
"O narcotráfico é agora um negócio muito diversificado, com uma clara divisão do trabalho, o que permitiu às autoridades atingi-lo no estômago para obrigá-lo a baixar a cabeça", ilustra Rivera.
Ao mesmo tempo, o país implementou um sistema de controle de precursores químicos para evitar seu desvio para o narcotráfico. Chile e Uruguai estão copiando esta estratégia e a Venezuela o fará em breve, segundo Dalence.
"O Equador é um dos países da região que tem êxito na luta contra o narcotráfico, aplicando medidas interessantes", acrescentou.