O assessor de Trump, Steve Bannon, observa o presidente dos EUA, Donald Trump, cumprimentar Elon Musk, CEO da SpaceX e da Tesla (Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 13 de janeiro de 2025 às 10h07.
Em mais uma escalada de descontentamento entre os seguidores de extrema-direita mais proeminentes do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, seu ex-assessor Steve Bannon chamou o magnata da tecnologia Elon Musk, o mais novo favorito do republicano, de “racista” e “um cara verdadeiramente maligno”, prometendo derrubá-lo e expulsá-lo do movimento MAGA (“Make America Great Again”), publicou o jornal britânico The Guardian.
Ao Corriere della Sera, da Itália, Bannon criticou o apoio de Musk a algumas formas de imigração e prometeu garantir que o bilionário não tenha acesso de alto nível à Casa Branca. O centro da disputa é uma pauta-chave na campanha que garantiu a vitória do magnata na eleição — a imigração —, mais especificamente a concessão de vistos H1-B, amplamente utilizado no Vale do Silício e que permite que empresas tragam profissionais estrangeiros qualificados para os EUA.
"Ele é um cara verdadeiramente maligno, um cara muito ruim. Fiz disso minha questão pessoal para derrubar esse cara", disse Bannon. "Antes, porque ele investiu dinheiro, eu estava disposto a tolerar. Agora, não estou mais disposto a tolerar. Farei com que Elon Musk saia daqui até o dia da posse (em 20 de janeiro). Ele não terá acesso total à Casa Branca. Ele será como qualquer outra pessoa".
Musk tornou-se um dos principais apoiadores do ex-presidente, gastando cerca de US$ 270 milhões na campanha republicana. Após a vitória nas eleições, Trump escolheu Musk para chefiar o Departamento de “Eficiência Governamental” dos EUA, apelidado de DOGE. Na prática, o dono da SpaceX ocupará um posto inédito no Gabinete presidencial, criado para promover o corte de gastos do governo americano em até US$ 2 trilhões, um quarto de todo o seu orçamento.
No entanto, o apoio de Musk aos vistos H-1B foi mal recebido por outros seguidores de Trump que se opõem a quase todas as formas de imigração, indicando que as empresas deveriam priorizar trabalhadores americanos. O visto permite que 65 mil profissionais altamente qualificados imigrem para os EUA todos os anos, e concede outros 20 mil vistos a estudantes que tenham obtido um diploma avançado no país, como foi o caso de Musk, nascido na África do Sul.
"Trata-se de todo o sistema de imigração sendo manipulado pelos magnatas da tecnologia. Eles o usam a seu favor. O povo está furioso", afirmou Bannon, que Trump demitiu durante seu primeiro mandato, mas que mais tarde se reinventou como um dos principais evangelistas do movimento MAGA. "Ele [Musk] deveria voltar para a África do Sul. Por que temos sul-africanos, os mais racistas do mundo, sul-africanos brancos, fazendo qualquer comentário sobre o que acontece nos EUA?".
O confronto de Musk com membros da base de Trump marca outro capítulo da crescente influência do bilionário na órbita do presidente eleito. Argumentando que o “único objetivo de Musk é se tornar um trilionário” e chamando-o de defensor do “tecno-feudalismo em escala global”, Bannon disse que irá “lutar contra isso”, acrescentando que Musk não lutará porque tem “a maturidade de um garotinho”.
"Ele fará qualquer coisa para garantir que qualquer uma de suas empresas esteja protegida, tenha um acordo melhor ou que ele ganhe mais dinheiro. Primeiro, a sua acumulação de riqueza, e então, através da riqueza, poder. É nisso que ele está focado".
A controvérsia teve início ainda no ano passado, quando Musk publicou no X, rede social da qual é dono, que as empresas de tecnologia dos Estados Unidos precisam “dobrar” a quantidade de engenheiros. O bilionário defendeu, então, o incentivo da imigração pela via legal, comparando o país com um time esportivo.
“Se você quer que sua EQUIPE ganhe o campeonato, precisa recrutar os melhores talentos onde quer que eles estejam. Isso permite que toda a EQUIPE vença”, escreveu Musk. “Estou me referindo a trazer, por meio de imigração legal, os 0,1% melhores talentos da engenharia como sendo essenciais para que os Estados Unidos continuem vencendo”, escreveu ele, que foi apoiado por Vivek Ramaswamy, bilionário filho de imigrantes indianos que comandará o departamento ao lado de Musk.
O ceticismo em relação aos benefícios da imigração, contudo, é uma marca registrada do movimento MAGA, e os comentários dos bilionários irritaram suas figuras mais expoentes, que os acusaram de ignorar as conquistas dos EUA em termos de inovação tecnológica. A ex-embaixadora das Nações Unidas e rival de Trump nas primárias do ano passado, Nikki Haley, respondeu à publicação de Ramaswamy pedindo ao novo governo que priorize os trabalhadores americanos.
“Não há nada de errado com os trabalhadores americanos ou com a cultura americana. Tudo o que você precisa fazer é olhar para a fronteira e ver quantos querem o que nós temos. Deveríamos estar investindo e priorizando os americanos, não os trabalhadores estrangeiros”, afirmou.
No seu primeiro mandato, Trump criticou o visto H-1B alegando ser um método para empresas trazerem trabalhadores estrangeiros para o país “com o propósito explícito de substituir os trabalhadores americanos com salários mais baixos”. Em 2020, ele restringiu o acesso aos vistos em várias ocasiões como parte dos esforços para restringir a imigração e, ao mesmo tempo, responder aos impactos econômicos da pandemia.
Na campanha do ano passado, porém, ele mudou o discurso. Em entrevista a um podcast em junho, Trump disse que planeja oferecer residência permanente a estrangeiros que se graduassem nos EUA.
"O que eu quero fazer e o que farei é: se você se formar em uma faculdade, acho que deveria receber automaticamente, como parte do seu diploma, um green card para poder ficar neste país", disse Trump.