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Energia contra o efeito estufa

Ao aumentar a produtividade de suas usinas, a CPFL está conseguindo acumular créditos de carbono para financiar seus projetos ambientais

Ferreira Júnior (--- [])

Ferreira Júnior (--- [])

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h26.

Maior grupo privado do setor elétrico brasileiro, a paulista CPFL fechou no dia 1o de outubro um negócio com a escocesa SSE Energy que lhe rendeu pouco mais de 1 milhão de reais. A venda, mediada pela americana C-Trade, não teve nada a ver com comercialização, geração e distribuição de energia -- principais atividades da empresa. O que a CPFL ofereceu à companhia escocesa foi uma mercadoria quase intangível: um lote de créditos de carbono, certificados emitidos quando uma companhia promove a redução na emissão de gases que causam o efeito estufa. A venda marcou a estréia da CPFL num mercado que está em crescimento acelerado (veja reportagem na pág. 110). "Vamos fechar uma série de negócios como esse nos próximos meses", diz Wilson Ferreira Júnior, presidente da CPFL.

Os certificados vendidos pela CPFL à SSE são o resultado direto da modernização de seis de suas 21 pequenas usinas hidrelétricas, iniciativa que começou no ano 2000. Ao substituir parte do maquinário -- um investimento de 95 milhões de reais --, a empresa ganhou produtividade sem causar danos ao meio ambiente. "Bastou trocar as máquinas, que representam cerca de 30% do custo total de uma hidrelétrica nova, para aumentar a capacidade de produção de eletricidade entre 40% e 80%, dependendo do caso", diz Ferreira Júnior. A CPFL já se prepara para reformar outras cinco hidrelétricas -- três em São Paulo e duas no Rio Grande do Sul--, que deverão ficar prontas até 2012.

Além da modernização de usinas, a companhia deverá acumular créditos com a construção de hidrelétricas que geram energia sem precisar inundar áreas gigantescas. Em 2001, a CPFL começou a construir seis usinas nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Três delas já estão em operação, outras duas serão entregues em 12 meses e a última ficará pronta em 2010. Dessas seis usinas, cinco têm boa relação entre potência gerada e área inundada e deverão render créditos de carbono a partir do final deste ano. Nos próximos cinco anos, a CPFL estima que poderá ganhar entre 60 milhões e 70 milhões de euros com a venda de 7 milhões de toneladas de carbono.
 

Arborização urbana
O dinheiro obtido com a venda dos créditos deverá ser integralmente aplicado em projetos ambientais mantidos pela companhia. Um deles é o programa de arborização urbana, que doa anualmente 300 000 mudas a cidades nas quais a CPFL atua. A iniciativa busca estimular o plantio de árvores nativas de cada região sem que isso comprometa o fornecimento de energia elétrica (se elas forem grandes demais ou estiverem mal localizadas, podem encostar na fiação e interromper o fornecimento). "As mudas estão contribuindo para o replantio em lugares que tiveram árvores removidas e também para a substituição de árvores inadequadas", diz a bióloga Daniela Helena Favaro, coordenadora de meio ambiente da prefeitura de Nova Odessa, no interior paulista. O município recebeu 1 000 mudas para arborização urbana doadas pela CPFL no início deste ano.

Aos poucos, a empresa começa a incorporar o conceito da sustentabilidade também em sua sede. Uma novidade é a proposta de substituir parte de sua frota de veículos, com a compra de carros e motocicletas movidos 100% a energia elétrica. Por enquanto, a iniciativa ainda é tímida. Dos milhares de veículos de sua frota total, apenas quatro automóveis e quatro motos dispensam os combustíveis tradicionais. Os demais veículos deverão ser gradativamente substituídos à medida que esses protótipos se tornarem viáveis técnica e economicamente. Além disso, a empresa está construindo um grande espaço de convivência em sua sede, em Campinas, que utiliza materiais e soluções ecologicamente corretos, como placas solares para abastecimento de energia e piso feito de resíduos da indústria siderúrgica. "Buscamos a promoção de uma cultura de sustentabilidade em toda a cadeia de negócios", diz Ferreira Júnior.

Avaliação da empresa
Pontos fortes
- Adota critérios de desempenho ambiental na seleção e no desenvolvimento de todos os fornecedores de bens e serviços.
- O percentual de aprendizes contratados corresponde a, no mínimo,5% dos trabalhadores.
- Tem um canal confidencial para o recebimento de denúncias ou reclamações sobre assédio moral e sexual.
Pontos fracos
- Não tem seguro para degradação ambiental decorrente de acidentes em suas operações.
- O bônus dos executivos depende apenas do resultado econômico e não está vinculado ao desempenho social e ambiental da companhia.
- Não tem meta de redução do consumo de papel nem um programa estruturado relacionado a esse assunto.
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