Crianças sírias refugiadas andam juntas para receber sua vacina anti-poliomelite em um campo de refugiados na Síria, perto do Vale de Bekaa (Sharif Karim/Reuters)
Da Redação
Publicado em 26 de janeiro de 2014 às 08h42.
Davos (Suíça) - Colocar-se na pele de um refugiado e experimentar em pessoa o medo e a frustração. Com essa premissa, os presentes ao Fórum Econômico Mundial abandonaram por algumas horas seus privilégios para adentrar em um acampamento simulado pela ONG Crossroads.
A passagem por um porão escuro com barracas de campanha e uma prisão, e o confronto com um contingente de soldados, bastaram para provocar o pranto em muitos dos participantes, que se aproximaram dos abusos, das humilhações e da injustiça pelas quais atravessa qualquer refugiado em centros carentes de ajuda internacional.
'Não é um entretenimento nem um jogo. As pessoas saem mudadas', garantiu à Agência Pablo Stevens, um dos representantes de Crossroads Foundation, a ONG que colocou pela primeira vez no exclusivo enclave alpino de Davos um acampamento que nesta ocasião presta atendimento à crise síria.
Os presentes - empresários, líderes políticos e inclusive chefes de Estado - se viram em questão de segundos ajoelhados e cercados por metralhadoras, ameaçados ou acusados do roubo de comida, amontoados nas barracas e desconcertados com as constantes mudanças de luz que simulam a noite e o dia.
O conflito na Síria provocou desde seu início em março de 2011 mais de 130 mil mortos e 2,3 milhões de refugiados e deixou a metade de sua população dependente da ajuda humanitária externa, mas a intensidade da simulação, apesar do impacto, não se aproxima nem 15% da situação real.
Assim lembrou aos mais de 20 voluntários o diretor de Experiências Globais de Crossroads, David Begbie, que não acredita que haja 'melhor lugar que Davos', ponto de encontro durante quatro dias dos principais dirigentes mundiais, para voltar a abordar uma problemática nem sempre coberta.
'Esperemos que não se diga somente que esteve interessante. Devemos perguntar-nos quem somos, e ver que capacidade temos para fazer algo', disse a um público ainda choroso, que concordou na hora de admitir que a solução definitiva a essa guerra 'requer estabilidade política e econômica'.
Ao fim da simulação, esses falsos refugiados, sentados em rudimentares bancos, compartilharam uma vivência que não é opcional para cerca de 45 milhões de pessoas no mundo.
'Foi uma das melhores experiências e me chegou a um nível muito emocional de querer fazer algo a respeito', comentou à Efe a mexicana Daniela Hammeken, diretora geral da Impact Hub, empresa de apoio a empreendedores e inovadores.
A mensagem também tocou pessoas como a diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandbere, milionária acionista dessa rede social, que saiu convencida que ela e o resto de participantes de Davos têm 'a obrigação de fazer algo melhor pelo mundo'.