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Em conversa com Putin, Biden volta a ameaçar Rússia com sanções

Apesar de "profissional e substantiva", segundo os americanos, a conversa não representou mudanças

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.  (Andy Buchanan/Pool/Getty Images)

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. (Andy Buchanan/Pool/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de fevereiro de 2022 às 11h04.

Última atualização em 13 de fevereiro de 2022 às 11h04.

Em uma conversa de uma hora por telefone, o presidente dos EUA, Joe Biden, ameaçou ontem o russo, Vladimir Putin, de impor pesados custos à Rússia em caso de invasão da Ucrânia. A Casa Branca acredita que o ataque deve ocorrer em uma questão de dias o que transformou a conversa em uma das últimas tentativas diplomáticas de resolver o impasse.

"Biden foi claro com Putin e disse que, embora os EUA continuem preparados para a diplomacia, em coordenação com nossos aliados, estamos igualmente preparados para outros cenários", disse a Casa Branca, após a ligação.

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Apesar de "profissional e substantiva", segundo os americanos, a conversa não representou mudanças. "Não mudou a dinâmica que vem se desenrolando há várias semanas", afirmou uma fonte do alto escalão do governo americano. "Continuamos comprometidos com a diplomacia, mas temos uma visão clara sobre as perspectivas disso, dadas as medidas que a Rússia está tomando à vista de todos."

Macron

Antes da conversa com Biden, Putin falou ao telefone com o presidente francês, Emmanuel Macron, por uma hora e 40 minutos. Ao russo, Macron disse que o "diálogo sincero" era incompatível com as tensões e com a mobilização de tropas da Rússia na fronteira com a Ucrânia. Fontes da presidência francesa disseram que nada no telefonema sugeriu que Putin esteja se preparando para uma invasão.

De acordo com o Kremlin, Putin disse a Macron que não pretende invadir a Ucrânia e afirmou que os alertas americanos a respeito de uma operação militar são "especulação" e "histeria". O presidente russo, no entanto, não deu nenhuma indicação que recuará suas forças militares.

Quem também conversou ontem foram os chefes das diplomacias da Rússia, Sergei Lavrov, e dos EUA, Antony Blinken. Na conversa, segundo a nota divulgada pela chancelaria russa, Lavrov acusou Washington de fazer uma "campanha de propaganda" em torno de uma invasão da Ucrânia.

Ele afirmou que o objetivo dos americanos seria fortalecer a posição dos ucranianos na região de Donbass, leste do país, onde o Exército enfrenta há oito anos separatistas pró-Moscou em um conflito civil. "Depois que as tropas russas terminarem os exercícios militares e retornarem aos quartéis, o Ocidente declarará uma 'vitória diplomática' por ter garantido o recuo da Rússia", disse Lavrov.

Companhias aéreas 

Em meio aos crescentes temores de uma invasão da Rússia na Ucrânia, mesmo com negociações diplomáticas com o Ocidente em andamento, empresas aéreas estão redirecionando voos com destino à Ucrânia.

A companhia aérea ucraniana SkyUp comunicou, neste domingo, 13, que um voo com origem em Madeira, Portugal, para Kiev, foi desviado para a capital da Moldávia, Chisinau, depois que o arrendador irlandês do avião afirmou proibir voos no espaço aéreo ucraniano.

No sábado, 12, a companhia aérea holandesa KLM também cancelou voos para a Ucrânia até novo aviso. A sensibilidade holandesa ao perigo potencial no espaço aéreo ucraniano é alta após o ataque de um avião da Malásia em 2014 sobre uma área do leste da Ucrânia controlada por rebeldes apoiados pela Rússia. Todas as 298 pessoas a bordo morreram.

A Rússia nega que pretenda invadir a Ucrânia, mas reuniu mais de 100 mil soldados perto da fronteira ucraniana e enviou tropas para exercícios na vizinha Bielorrússia. Autoridades dos EUA dizem que, com o aumento do poder de fogo da Rússia, a invasão pode ocorrer dentro de um curto prazo.

Em uma ligação de uma hora no sábado com o presidente russo, Vladimir Putin, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que invadir a Ucrânia causaria "sofrimento humano generalizado" e que o Ocidente estava comprometido com a diplomacia para acabar com a crise, mas "igualmente preparado para outros cenários".

Preparação

Já segundo a transcrição da conversa divulgada pelo Departamento de Estado americano, Blinken disse a Lavrov que uma invasão "resultaria em uma resposta transatlântica determinada, maciça e unida". O americano afirmou que os canais diplomáticos permanecerão abertos, mas que Moscou precisa reduzir sua presença militar na fronteira com a Ucrânia.

Nos últimos dias, Washington passou a se preparar para o que considera o pior cenário, o de invasão da Ucrânia. Ontem, ao descrever a situação, um funcionário do alto escalão do Departamento de Estado afirmou que as operações do serviço consular americano é limitada em "zonas de guerra".

"Continuamos a trabalhar para garantir que a Ucrânia não se torne uma zona de guerra. No entanto, parece cada vez mais provável que seja para onde a situação está se dirigindo, para algum tipo de conflito ativo", disse o diplomata.

O Departamento de Estado dos EUA informou que a partir de hoje suspenderá os serviços consulares da Embaixada Americana em Kiev. Apenas atendimentos de emergência continuarão ativos na cidade de Lviv, a mais de 500 quilômetros da capital ucraniana.

Durante a semana, os EUA disseram que havia um alto risco de um ataque à Ucrânia antes do encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno na China, no dia 20, e a CIA informou aos governos aliados que as tropas russas teriam recebido ordens para estarem de prontidão até quarta-feira.

Reação

Apesar de o Kremlin negar a intenção de invadir a Ucrânia, a chancelaria da Rússia comunicou ontem a redução de pessoal em sua embaixada em Kiev. "Temendo possíveis provocações da Ucrânia ou de outros países, decidimos otimizar o pessoal nas representações russas na Ucrânia", afirmou Maria Zakharova, porta-voz da chancelaria.

Ao citar possíveis provocações da Ucrânia, Zakharova pareceu corroborar as suspeitas dos EUA, que afirmaram na semana passada que o plano de Putin seria criar um pretexto para invasão. Segundo o New York Times, citando fontes do governo americano, os russos pretendem divulgar vídeos falsos de um massacre comandado por ucranianos na Rússia ou contra a população de origem russa no leste da Ucrânia. O Kremlin nega e diz que a alegação não passa de "desinformação". 

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