Santos convidou o ELN a somar-se ao processo dentro do marco estipulado e assim fazer parte ''deste esforço para terminar o conflito'' (Guillermo Legaria/AFP)
Da Redação
Publicado em 28 de agosto de 2012 às 20h49.
Bogotá - O Exército de Libertação Nacional (ELN), a segunda maior guerrilha da Colômbia, ratificou nesta terça-feira sua vontade de abordar um diálogo ''sério, responsável, respeitoso, sem armadilhas e sem hostilidade'' com o governo, um dia depois que este anunciou que mantém contatos com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
O Comando do ELN publicou cinco artigos em seu site sobre a realidade do país e em um deles manifestou sua intenção de chegar a um final negociado do conflito, sem fazer alusão ao processo de aproximação entre o governo e as Farc.
Quando o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, confirmou os contatos com as Farc, aproveitou para estender ao ELN um convite ao diálogo sob os mesmos ''princípios'' e assim fazer parte ''deste esforço para terminar o conflito''.
O processo ideal para o ELN, segundo seu artigo, é baseado na confiança que realmente aborde ''as causas do conflito armado e social, onde se disponha a erguer as bases sobre as quais construir a paz real, estável e duradoura''.
Santos, que teve uma intensa agenda pública nesta terça-feira, só falou sobre este processo em um de seus atos e com jornalistas, a quem manifestou sua convicção que o objetivo da paz será alcançado ''com prudência, com cautela e com decisão''.
''Nossas gerações não viveram um só dia de paz, quero que as novas gerações vejam e gozem um país em paz'', comentou.
Por enquanto não se conhecem oficialmente as bases nas quais se cimenta o projeto do governo de Santos com as Farc, já que o presidente se limitou a confirmar a existência de um contato incipiente e a prometer que revelaria os resultados dessa aproximação nos próximos dias.
Porém, a emissora de rádio ''RCN'' afirmou hoje sem citar fontes que na agenda está previsto que se fale de direitos humanos, política mineradora e agrária, cessação de hostilidades, entrega de armas, narcotráfico e situação legal dos guerrilheiros após o processo.
Durante o dia se multiplicaram as reações tanto na Colômbia como no exterior, por parte de governos, entidades multilaterais e organizações não-governamentais.
Tanto os Estados Unidos como a União Europeia manifestaram sua satisfação pelo acordo assinado pelas partes, aparentemente em Havana segundo informou o canal venezuelano ''Telesur'' na segunda-feira, enquanto o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, ofereceu sua ajuda no processo.
O coletivo Colombianos e Colombianas pela Paz, a ONG da ex-senadora Piedad Córdoba, que participou como mediadora com as Farc em várias libertações de reféns, celebrou a iniciativa, mas insistiu na necessidade de solucionar o conflito armado pela raiz.
Enquanto isso, o Executivo colombiano e o Congresso já começaram a reunir-se para tratar os projetos de lei que dentro do Marco Jurídico para a Paz regulariam uma eventual negociação, como as condições jurídicas dos guerrilheiros, sua possível participação posterior na política e a reparação às vítimas.
A luta armada das Farc e do ELN começou quase ao mesmo tempo, em meados da década de 1970, e enquanto a primeira conta com 8,5 mil membros, a segunda tem 1,5 mil, segundo números oficiais.
O ELN já manteve conversas com governos anteriores, em Cuba principalmente, mas sem resultados efetivos. A última tentativa fracassou em 2007.
O governo tentou em várias ocasiões chegar a um acordo de paz com as Farc, como o processo antecipado pela Administração de Andrés Pastrana (1998-2002), que desmilitarizou os municípios de Planaltos, Vistahermosa, La Macarena e Uribe, no departamento de Meta, e San Vicente del Caguán, no departamento de Caquetá para os diálogos que, no fim, também fracassaram.